No Evangelho das missas deste domingo, João Batista apresenta Jesus como
“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. O trecho é tirado da seção
introdutória do Evangelho de João (Jo 1,19 - 3, 36).
Esquema – João dispõe o texto num enquadramento cênico.
As diversas personagens que vão entrando em cena procuram apresentar Jesus. Um
a um, os atores vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico
sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta
Jesus como o Messias, Filho de Deus, Aquele que possui o Espírito e que veio ao
encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do
Espírito.
João – João Batista, o profeta precursor do
Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu
testemunho aparece no início e no fim da seção – Jo 1,19-37; 3, 22-36). Ele
define Aquele que chega e apresenta-O aos homens. O testemunho de João é
perene, dirigido aos homens de todos os tempos e com eco permanente na
comunidade cristã. João é, portanto, o “apresentador oficial” de Jesus. De que
forma e em que termos O
apresenta?
Catequese – A catequese sobre Jesus que aqui é feita se
expressa por intermédio de duas afirmações: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.
Cordeiro – A primeira afirmação (“o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo” – Jo 1,29) evoca, provavelmente, duas imagens
tradicionais, extremamente sugestivas: a do “servo sofredor”, o cordeiro levado
para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação; e, a do
cordeiro pascal, símbolo da ação libertadora de Deus em favor de Israel. Qualquer
uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos
homens.
Pecado – A idéia é explicitada pela definição da
missão de Jesus: Ele veio para tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A
palavra “pecado”, no singular, não significa os “pecados” dos homens, mas um
“pecado” único que oprime a humanidade inteira. O “mundo” indica, neste
contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão, e que
recusa a luz/vida
que Jesus lhe pretende oferecer… Deus se propondo tirar a humanidade da
situação de escravidão em que ela se encontra, enviou Jesus ao mundo com a
missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão
para a terra da liberdade.
Filho de Deus – A segunda afirmação (o “Filho de Deus” que
possui a plenitude do Espírito Santo e que batiza no Espírito – Jo 1, 32-34)
completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o “cordeiro” é o
Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito e tem por missão batizar os
homens no Espírito. Ele é o Deus que se faz Pessoa, a fim de oferecer a
plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar “o pecado” que
torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.
Espírito – Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e
permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida
de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. A descida do Espírito sobre Jesus
é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”). Jesus é o
eleito de Yahweh, sobre quem Deus derramou o seu Espírito (Is 42,1), a quem
ungiu e a quem enviou para “anunciar a Boa Nova aos pobres, para curar os
corações destroçados, para proclamar a libertação aos cativos, para anunciar
aos prisioneiros a liberdade” (Is 61,1-2).
Batismo – Jesus é, finalmente, aquele que batiza no
Espírito Santo (batizar significa ‘submergir’ ou ‘encharcar’). “Batizar no
Espírito” significa, portanto, um contacto total entre o Espírito e o homem,
uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe inunda o coração. A missão de
Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o homem; e o homem que
adere a Jesus, “inundado” do Espírito e transformado por essa fonte de vida que
é o Espírito, abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança o seu
pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.
A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se
para Jesus e a acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele
faz: só no encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final
do Homem Novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário