sábado, 19 de janeiro de 2008

Quem é Jesus?

  


No Evangelho das missas deste domingo, João Batista apresenta Jesus como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. O trecho é tirado da seção introdutória do Evangelho de João (Jo 1,19 - 3, 36).

 Esquema – João dispõe o texto num enquadramento cênico. As diversas personagens que vão entrando em cena procuram apresentar Jesus. Um a um, os atores vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, Aquele que possui o Espírito e que veio ao encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do Espírito.

 João – João Batista, o profeta precursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da seção – Jo 1,19-37; 3, 22-36). Ele define Aquele que chega e apresenta-O aos homens. O testemunho de João é perene, dirigido aos homens de todos os tempos e com eco permanente na comunidade cristã. João é, portanto, o “apresentador oficial” de Jesus. De que forma e em que termos O apresenta?

 Catequese – A catequese sobre Jesus que aqui é feita se expressa por intermédio de duas afirmações: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.

 Cordeiro – A primeira afirmação (“o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” – Jo 1,29) evoca, provavelmente, duas imagens tradicionais, extremamente sugestivas: a do “servo sofredor”, o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação; e, a do cordeiro pascal, símbolo da ação libertadora de Deus em favor de Israel. Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens.

 Pecado – A idéia é explicitada pela definição da missão de Jesus: Ele veio para tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A palavra “pecado”, no singular, não significa os “pecados” dos homens, mas um “pecado” único que oprime a humanidade inteira. O “mundo” indica, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão, e que recusa a luz/vida que Jesus lhe pretende oferecer… Deus se propondo tirar a humanidade da situação de escravidão em que ela se encontra, enviou Jesus ao mundo com a missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão para a terra da liberdade.

 Filho de Deus – A segunda afirmação (o “Filho de Deus” que possui a plenitude do Espírito Santo e que batiza no Espírito – Jo 1, 32-34) completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o “cordeiro” é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito e tem por missão batizar os homens no Espírito. Ele é o Deus que se faz Pessoa, a fim de oferecer a plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar “o pecado” que torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.

 Espírito – Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. A descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”). Jesus é o eleito de Yahweh, sobre quem Deus derramou o seu Espírito (Is 42,1), a quem ungiu e a quem enviou para “anunciar a Boa Nova aos pobres, para curar os corações destroçados, para proclamar a libertação aos cativos, para anunciar aos prisioneiros a liberdade” (Is 61,1-2).

 Batismo – Jesus é, finalmente, aquele que batiza no Espírito Santo (batizar significa ‘submergir’ ou ‘encharcar’). “Batizar no Espírito” significa, portanto, um contacto total entre o Espírito e o homem, uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe inunda o coração. A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o homem; e o homem que adere a Jesus, “inundado” do Espírito e transformado por essa fonte de vida que é o Espírito, abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança o seu pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.

 A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se para Jesus e a acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele faz: só no encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final do Homem Novo.

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