O texto que nos é proposto como Evangelho deste domingo encerra a etapa
da preparação de Jesus para a missão (Mt 3,1-4,16) e lança a etapa do anúncio do
Reino.
Local – O texto situa-nos na Galiléia, a região
setentrional da Palestina, zona de população heterogênea e ponto de encontro de
muitos povos. Faz referência também à cidade de Cafarnaum, cidade situada no
limite do território de Zabulão e de Neftali, na margem noroeste do lago de
Genezaré, na direção do “caminho do mar” (que ligava o Egito e a Mesopotâmia).
Cafarnaum era considerada a capital judaica da Galiléia porque Tiberíades, a
capital política da região, por causa dos seus costumes pagãos e por estar
construída sobre um cemitério, era evitada pelos judeus. A sua situação
geográfica abria-lhe, também, as portas dos territórios dos povos pagãos da
margem oriental do lago.
Cafarnaum – Na primeira parte (Mt 4,12-16), Mateus
refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de residência habitual, e se
transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse fato um significado profundo, à
luz de Is 8,23-9,1: a “luz” que havia de eliminar as trevas e as sombras da
morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Na terra humilhada de
Zabulão e Neftali, vai começar a brilhar a luz da libertação; e essa libertação vai atingir,
também, os pagãos que acolherem o anúncio do Reino. O anúncio libertador de
Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão universal.
Reino – Na segunda parte (Mt 4,17-23), Mateus
apresenta o lançamento da missão de Jesus: o conteúdo básico da pregação que se
inicia vai se definindo, o “Reino” apresenta-se como realidade viva atuante e
são apresentados os primeiros discípulos, que acolhem o apelo do “Reino” e que
vão acompanhar Jesus na missão.
Anúncio – Qual é, em primeiro lugar, o conteúdo do
anúncio? O versículo 17 é claro: Jesus veio trazer “o Reino”. A expressão
“Reino de Deus” refere-se, no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao
exercício do poder soberano de Deus sobre os homens e sobre o mundo.
Decepcionado com a forma com que o os reis humanos exerceram a realeza, o Povo
de Deus começa a sonhar com um tempo novo, em que o próprio Deus vai reinar
sobre o seu Povo. Para eles, esse reinado será marcado pela justiça, pela
misericórdia, pela preocupação de Deus em relação aos pobres e marginalizados,
pela abundância e fecundidade, pela paz sem fim.
Arrependei-vos – Jesus tem consciência de que a chegada do
“Reino” está ligada à sua pessoa. Para Mateus o primeiro anúncio resume-se no
seguinte slogan: “arrependei-os, porque o Reino dos céus está para chegar”. O convite
à conversão é um convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na
postura vital. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus,
a um reequacionar a vida, de modo que Deus e os seus valores passem a estar no
centro da existência do homem. Só quando o homem aceita que Deus ocupe o lugar
que lhe compete, está preparado para aceitar a realeza de Deus… Então, o
“Reino” pode nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.
Apóstolos – Finalmente, Mateus descreve o chamamento dos
primeiros discípulos. Não se trata, segundo parece, um relato jornalístico de
acontecimentos, mas de uma catequese sobre o chamamento e a adesão ao projeto
do “Reino”. Através da resposta pronta de Pedro e André, Tiago e
João, propõe-se um exemplo da conversão radical ao “Reino” e de adesão às suas
exigências.
Chamamento – O relato ressalta uma diferença fundamental
entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres
do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no
seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de
Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a
segui-Lo e lhes propõe uma missão.
Opção – A resposta dos quatro discípulos ao
chamamento é também inusitada: renunciam à família, ao seu trabalho, às
seguranças instituídas e seguem Jesus sem condições. Esta ruptura (que
significa não só uma ruptura afetiva com pessoas, mas também a ruptura com um
quadro de referências sociais e de segurança econômica) indicia uma opção
radical pelo “Reino” e pelas suas exigências.
Missão – Uma palavra para a missão que é proposta aos
discípulos que aceitam o desafio do “Reino”: eles serão pescadores de homens. O
mar é, na cultura judaica, o lugar dos demônios, das forças da morte que se
opõem à vida e à felicidade dos homens; a tarefa dos discípulos que aceitam
integrar o “Reino” será, portanto, libertar os homens dessa realidade de morte
e de escravidão em que eles estão mergulhados, conduzindo-os à liberdade e à
realização plenas.
Testemunhas – Estes quatro discípulos representam todo o
grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares… Como eles, devemos
responder positivamente ao chamamento, optar pelo “Reino” e pelas suas
exigências e tornarmo-nos testemunhas da vida e da salvação de Deus no meio dos
homens e do mundo.
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