O Evangelho deste domingo nos apresenta a Última Ceia. Nessa
noite de quinta-feira, 6 de abril do ano 30, na véspera da sua morte na cruz,
Jesus reuniu-Se com os seus discípulos pela última vez.
Despedida
– No decurso da “ceia”, Jesus
despediu-Se dos discípulos e fez-lhes as últimas recomendações. As palavras de
Jesus soam a “testamento final”: Ele sabe que vai partir para o Pai e que os
discípulos vão continuar no mundo. Jesus fala-lhes, então, do caminho que
percorreu (e que ainda tem de percorrer, até a consumação da sua missão e até
chegar ao Pai); e convida os discípulos a seguir o mesmo caminho de entrega a
Deus e de amor radical aos irmãos. É seguindo esse “caminho” que eles se
tornarão Homens Novos e que chegarão a ser “família de Deus”.
Insegurança
– Os discípulos, no entanto, estão
inquietos e desconcertados. Será possível percorrer esse “caminho” se Jesus não
caminhar ao lado deles? Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como
receberão d’Ele a força para doar, dia-a-dia, a própria vida? No entanto, Jesus
garante aos discípulos que não os deixará sós no mundo. Ele vai para o Pai, mas,
vai encontrar uma forma de continuar presente e de acompanhar, passo a passo, a
caminhada dos seus discípulos.
Paráclito
– Jesus fala no envio do “Paráclito”,
que estará sempre com os discípulos. A palavra grega “paráklêtos”, utilizada
por João, pertence ao vocabulário jurídico e designa, nesse contexto, aquele
que ajuda ou defende o acusado. Pode, portanto, traduzir-se como “advogado”,
“auxiliar”, “defensor”. A partir daqui, pode deduzir-se, também, o sentido de
“consolador” ou “intercessor”. No Novo Testamento, a palavra só aparece em
João, onde é usada para designar o Espírito (Jo 14,26; 15,26; 16,7) ou o
próprio Jesus (que no céu, cumpre uma missão de intercessão - 1Jo 2,1).
Espírito
Santo – O “Paráclito” que Jesus vai enviar
é o Espírito Santo – apresentado aqui como o “Espírito da Verdade”. Enquanto
esteve com os discípulos, Jesus ensinou-os, protegeu-os, defendeu-os; mas, a
partir de agora, será o Espírito que ensinará e cuidará da comunidade de Jesus.
O Espírito desempenhará, nesse contexto, um duplo papel: conservará a memória
da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando os discípulos a interpretarem
esses ensinamentos à luz dos novos desafios, e dará segurança aos discípulos, guiando
e defendendo-os quando tiverem de enfrentar a oposição e a hostilidade do
mundo. Em qualquer dos casos, o Espírito conduzirá essa comunidade em marcha
pela história, ao encontro da verdade, da liberdade plena, da vida definitiva.
Órfãos
– Depois de garantir aos discípulos o
envio do “Paráclito”, Jesus reafirma que não os deixará “órfãos” no mundo. A
palavra utilizada (“órfãos”) é muito significativa: no Antigo Testamento, o
“órfão” é o protótipo do desvalido, do desamparado, do que está totalmente à
mercê dos poderosos e que é a vítima de todas as injustiças. Jesus é claro: os
seus discípulos não vão ficar indefesos, pois Ele vai estar ao lado deles.
Comunhão
– É verdade que Ele vai deixar o
mundo, vai para o Pai. O “mundo” não mais O verá, pois Ele não estará fisicamente
presente. No entanto, os discípulos poderão “vê-l’O”, “contemplá-l’O”: eles
continuarão em comunhão de vida com Jesus e receberão o Espírito, que lhes
transmitirá, dia-a-dia, a vida de Jesus ressuscitado.
Família
– Nesse dia (o dia em que Jesus for
para o Pai e os discípulos receberem o Espírito), a comunidade descobrirá – por
ação do Espírito – que faz parte da família de Deus. Jesus identifica-Se com o
Pai, por ter o mesmo Espírito; os discípulos identificam-se com Jesus, por ação
do Espírito. A comunidade cristã está unida com o Pai, através de Jesus, numa
experiência de unidade e de comunhão de vida entre Deus e o homem. Nesse dia, a
comunidade será a presença de Deus no mundo: ela e cada membro dela
convertem-se em morada de Deus; o espaço onde Deus vem ao encontro dos homens.
Na comunidade dos discípulos e por meio dela, realiza-se a ação salvadora de
Deus no mundo.
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