sábado, 5 de abril de 2008

AO PARTIR O PÃO, OS DISCÍPULOS O RECONHECERAM

  

O Evangelho deste domingo nos coloca para caminhar com dois discípulos de Jesus que, no domingo, vão de Jerusalém para Emaús.

 

Catequese – Trata-se de uma página de catequese escrita no final do primeiro século, na qual o autor não se preocupou com a descrição fiel de acontecimentos nem com as incongruências do texto. De acordo com o autor, os dois homens dirigiam-se para uma aldeia chamada Emaús, a 12 quilômetros de Jerusalém. Uma localidade com esse nome, a essa distância de Jerusalém é, no entanto, desconhecida. Estes discípulos partiram para a sua aldeia, na manhã de Páscoa, sem, no entanto, investigar os rumores de que o túmulo estava vazio e que Jesus tinha ressuscitado. Fica claro que o objetivo do autor é ensinar aos cristãos para quem escreve (na década de 80) como é que podem descobrir que Jesus está vivo e como podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado.

 

Messias fracassado – A cena coloca-nos, em primeiro lugar, diante de dois discípulos que vão a caminho de Emaús. Um chama-se Cléofas; o outro não é identificado (podia ser ”qualquer um” dos crentes). Os dois estão, nitidamente, tristes e desanimados, pois os seus sonhos de triunfo e de glória ao lado de Jesus ruíram pela base, aos pés de uma cruz. Esse Messias poderoso, capaz de derrotar os opressores, de restaurar o reino grandioso de David revelou-se um grande fracasso. Em lugar de triunfar, morreu numa cruz; e a sua morte é um fato consumado pois ”é já o terceiro dia depois que isto aconteceu”. Abandonam a comunidade e regressam à sua aldeia, dispostos a esquecer o sonho.

 

Jesus – Na seqüência, o autor do relato introduz no quadro um novo personagem: Jesus. Ele faz-se companheiro de viagem desses discípulos em caminhada, interroga-os sobre ”o que se passou nestes dias” em Jerusalém, escuta as suas preocupações, torna-se o confidente das suas frustrações. Para responder às inquietações dos dois discípulos e para lhes demonstrar que o projeto de Deus não passava por quadros de triunfo humano, mas, pelo amor até às últimas conseqüências e pelo dom da vida, ”começando por Moisés e passando pelos profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que lhe dizia respeito”. É na escuta e na partilha da Palavra que o plano salvador de Deus ganha sentido: só através da Palavra de Deus – explicada, meditada e acolhida – o crente pode perceber que o amor até às últimas conseqüências e o dom da vida não são um fracasso, mas geram vida nova e definitiva.

 

Em Emaús – Os três (Jesus, Cléofas e o discípulo não identificado) chegam, finalmente, a Emaús. Os discípulos continuam a não reconhecer Jesus, mas convidam-n’O a ficar com eles. Ele aceita e sentam-se à mesa. Enquanto comiam, Jesus ”tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e lhes entregou”. As palavras usadas por Lucas para descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja primitiva. Dessa forma, Lucas recorda aos membros da sua comunidade que é possível encontrar Jesus vivo e ressuscitado na celebração eucarística dominical: sempre que os irmãos se reúnem em nome de Jesus para ”partir o pão”, Jesus lá está, vivo e atuante, no meio deles. A última cena da nossa história põe os discípulos regressando a Jerusalém para anunciar aos irmãos que Jesus está, efetivamente, vivo.

 

Comunidade – Quando Lucas escreve o seu Evangelho (década de 80), a comunidade cristã defrontava-se com algumas dificuldades. Tinham decorrido cerca de cinqüenta anos depois da morte de Jesus, em Jerusalém. A catequese dizia que Ele estava vivo; mas, no dia-a-dia de uma vida monótona, cansativa e cheia de dificuldades, era difícil fazer essa experiência. As testemunhas oculares de Jesus tinham já desaparecido e os acontecimentos da paixão, morte e ressurreição pareciam demasiado distantes, ilógicos e irreais. ”Se Jesus ressuscitou e está vivo, como posso encontrá-l’O? Onde e como posso fazer uma verdadeira experiência de encontro real com esse Jesus que a morte não conseguiu vencer? Porque é que Ele não aparece de forma gloriosa e não instaura um reino de glória e de poder, que nos faça triunfar definitivamente sobre os nossos adversários?”.

 

Eucaristia – É a isso que o catequista Lucas vai procurar responder. A sua mensagem dirige-se a esses crentes que caminham desanimados pela vida. Nessa narração de Lucas, aparece a idéia de que é na celebração comunitária da Eucaristia que os crentes fazem a experiência do encontro com Jesus vivo e ressuscitado. A narração apresenta o esquema litúrgico da celebração eucarística: a liturgia da Palavra (a ”explicação das Escrituras” – que permite aos discípulos entenderem a lógica do plano de Deus em relação a Jesus) e o ”partir do pão” (que faz com que os discípulos entrem em comunhão com Jesus).

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