sábado, 16 de janeiro de 2010

O Primeiro Sinal


O Evangelho das missas deste domingo (Jo 2,1-11) apresenta Jesus, Maria e os Apóstolos participando de um casamento na cidade de Caná. 

Sinais – No texto, João declara explicitamente, que o episódio pertence à categoria dos “signos” (sinais, “semeiôn”): trata-se de sinais indicadores, que nos convidam a compreender além da história narrada.  Muito mais do que narrar que Jesus transformou a água em vinho, apresenta o programa de Jesus: trazer à relação entre Deus e o homem o vinho da alegria, do amor e da festa. 

Mais sinais – Por esta razão, a primeira parte do Quarto Evangelho é chamada "O Livro dos Sinais", pois o evangelista relata uma série de sete sinais que, passo a passo, revelam quem é Jesus e qual é a sua missão (algumas bíblias traduzem o termo grego por "milagre", mas a tradução mais acertada é "Sinal"). O primeiro desses sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná. Como quase todo o evangelho de João, o relato está carregado de simbolismo: pessoas, números e eventos tem uma função simbólica e para nos levar além da superfície das coisas, numa caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.  

Hora – Um dos temas centrais do quarto evangelho é o da "hora" de Jesus. A "hora" não se refere à cronometria, mas à hora de glorificação de Jesus, por sua morte e ressurreição. A resposta ao pedido feito por Maria traz de uma maneira um tanto estranha o termo “mulher”: João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera meramente humana de ação para Maria, reservando a ela um papel muito mais rico, ou seja, o de mãe dos discípulos. Maria somente vai aparecer mais uma vez, neste evangelho, ao pé da cruz, onde ela e o Discípulo Amado (João) assumem um relacionamento de Filho e Mãe. E devemos lembrar que o Discípulo Amado simboliza a comunidade dos discípulos do Senhor. 

Maria – Não devemos reduzir a ação de Maria somente à de uma incomparável intercessora. Maria, aqui, é a imagem do discípulo exemplar, pois embora a resposta de Jesus indique um distanciamento entre a expectativa de Maria e a visão dele sobre o que seria adequado naquele momento, ela continua com confiança Nele e leva outros a acreditarem também. 

Água e Vinho – A água tornada vinho não era qualquer água: era a água da purificação dos judeus. Na sua narrativa, João deixa claro que, doravante, os ritos judaicos de purificação estavam superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus. Podemos entender isso como uma grande mudança: de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus. Assim, em Caná, Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do Templo, o que vai continuar ao longo do Evangelho de João. 

Muito Vinho – A quantidade de vinho chama a atenção – 600 litros! O vinho em abundância era símbolo dos tempos messiânicos e, na tradição rabínica, a chegada do Messias seria marcada por uma colheita abundante de uvas. Assim, a expectativa messiânica se realiza em Jesus e as talhas transbordantes simbolizam a graças abundante que Ele traz. 

Origem do Vinho – A figura do mestre-sala é carregada de simbolismos também, bem como a dos serventes. O primeiro, que devia saber a origem do vinho da festa, não sabia, enquanto os últimos sim. O mestre-sala representa os chefes do Templo, que não sabiam a origem de Jesus, enquanto os servos representam os discípulos, que acreditaram nele. 

Vinho Novo e Velho – Fazendo uma comparação entre o vinho antigo e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova a superou. Os ritos e práticas judaicas ligados à purificação e ao sacrifício não têm mais sentido, pois uma nova era de relacionamento entre a humanidade e Deus começou em Jesus. “É certamente bom o vinho do Antigo Testamento, mas o do Novo é melhor. O Antigo Testamento, que os judeus observam, dilui-se nas letras; o Novo, que seguimos, tem o sabor da vida da graça” (São Fausto de Riez, bispo). 

Sinais – O ponto culminante do relato está no versículo 11: "Foi em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os seus discípulos acreditaram nele". E a fé deles não é intelectual ou teórica, mas, o seguimento concreto do Mestre na formação de novos relacionamentos de amor. Pouco a pouco, o autor vai revelando Jesus através de sinais, para que nós, os leitores, possamos "acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome" (Jo 20,31).

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