No
Evangelho das missas deste domingo (Jo 10,27-30) Jesus discute com as
autoridades judaicas. Estamos nas proximidades do Templo de Jerusalém, em
outubro do ano 29 (em abril do ano 30, Jesus será condenado e morto).
O texto –
Naquele tempo, disse Jesus: "As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as
conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão.
E ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é
maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos
um".
Imagem –
Estas palavras de Jesus ocorrem em um discurso mais longo, pronunciado durante
a Festa da Dedicação, em Jerusalém. Na festa anterior, das Tendas, Jesus já
fizera uma proclamação semelhante: "Eu sou o Bom Pastor". A imagem é
bela e permanece guardada nos corações através dos séculos. Embora seja uma
imagem rural e mais específica de determinadas regiões, é facilmente
compreendida por todos, pois exprimem uma relação de diálogo e acolhida, algo
já existente entre Jesus e os discípulos: o proclamar/falar e o conhecer, ouvir
e seguir. É a palavra e a escuta que estabelecem o diálogo. É o diálogo que
leva ao conhecimento e à união de amor, o seguimento.
Conhecer –
Assim, fica claro que as ovelhas são os discípulos (pois o verdadeiro discípulo
ouve a palavra do Senhor e o segue), e eles são conhecidos pelo Pastor – aqui
cumpre lembrar que, na linguagem bíblica, a palavra “conhecer” tem conotações
mais profundas do que no nosso uso comum: significa não tanto um saber
intelectual, mas uma intimidade profunda do amor. Assim, a linguagem bíblica
muitas vezes até usa o verbo “conhecer” para significar relação sexual. Maria,
por exemplo, questiona o anjo, pois ela “não conhece” homem (Lc 1,34). O
verdadeiro discípulo é aquele que realmente tem um relacionamento de intimidade
com Deus e que põe em prática a sua Palavra. E quem conhece Jesus, conhece o
Pai, pois “o Pai e eu somos um”, como diz Jesus no nosso texto.
Conhecer mais –
O versículo 28 afirma que Jesus dá a vida eterna aos seus seguidores. Este é um
tema típico de João e outros textos do evangelho podem nos ajudar a
aprofundá-lo. No Último Discurso, Jesus explica o que consiste a vida eterna: “A
vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele
que tu enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). Mais uma vez, liga o conceito da vida
eterna com o de “conhecer”. Mas em que consiste “conhecer” a Deus?
Conhecer Deus –
O profeta Jeremias pode esclarecer. Num trecho contundente, onde ele enfrenta o
Rei Joaquim e o condena por não pagar os salários dos seus operários na
construção do seu palácio, Jeremias diz o seguinte, referindo-se ao falecido
rei justo, Josias: "Ele julgava com justiça a causa do pobre e do
indigente; e tudo corria bem para ele! Isso não é conhecer-me? – oráculo de
Javé” (Jr 22,16). Conhecer Deus não é em primeiro lugar um exercício
intelectual, mas uma atitude de vida – a prática da justiça, especialmente em
favor do oprimido e fraco. Segundo João, então, a vida eterna é o prêmio de
quem pratica a justiça de Deus – proposta dos discípulos de Jesus – e não dos
que “sabem” muita coisa sobre Deus, mas que não praticam a justiça –
representados no texto de hoje pelas autoridades do templo.
Coragem, fé e obras – O
nosso texto nos traz motivo de muita coragem, pois afirma que ninguém vai
arrancar o verdadeiro discípulo da mão de Jesus (v 28). Mas também nos desafia
para que verifiquemos se somos realmente discípulos verdadeiros, se conhecemos
Jesus e o Pai, isto é, se praticamos a justiça do seu Projeto. A prova de ser
verdadeiro discípulo está na prática das obras do Pai e não no conhecimento
teórico de religião.