sábado, 3 de abril de 2010

O Sábado Santo


Em todas as missas deste sábado, os participantes rezam o “Creio” recitando: “Creio que Jesus Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos Infernos (mansão dos mortos). Se alguém de repente nos perguntasse se cremos que Jesus esteve no Inferno, com toda segurança diríamos que não. O que é que queremos afirmar com isso?

 

O Sábado – Todo cristão sabe qual acontecimento celebramos na Sexta-feira Santa e no Domingo de Páscoa. Pouquíssimos, porém, poderiam explicar que fato a Igreja comemora no Sábado Santo. Saberão que, liturgicamente, é um dia vazio em que não se pode celebrar missa, nem batismos, nem casamentos. Em síntese, dirão que é um dia de luto pela morte e pelo sepultamento de Cristo. E apesar disso, a Igreja coloca neste dia o dogma da descida de Cristo aos Infernos. Trata-se de uma verdade esquecida, que hoje não desperta interesse na pregação e na catequese, a tal ponto que muitos cristãos, inclusive o desconhecem e até o acham estranho.

 

Infernos – Comecemos dizendo que os Infernos não são o Inferno. De acordo com a teologia católica, o Inferno é o estado em que se encontram os condenados eternamente. Por outro lado, os Infernos é o nome dado ao lugar, conforme imaginava antigamente Israel, para onde iam todos os que morriam. Com efeito, os judeus no Antigo Testamento tinham uma imagem do cosmos bem diferente da nossa. Representavam-no como um disco enorme e plano, circular, rodeado pelas imensas águas do oceano. Estava assentado sobre quatro colunas que se afundavam no abismo. Acima do espaço estava o firmamento. Era uma cúpula sólida, sobre a qual se supunha existir água e que servia para separá-la das águas inferiores. Desta cúpula pendiam o Sol, a Lua e as estrelas. Para chover, abriam-se as comportas de cima e então as águas caíam sobre a Terra.

 

Sheol – A terceira camada deste cosmo era o lugar chamado, em hebraico, sheol – a morada dos mortos, o mundo subterrâneo, colocado debaixo da Terra. Para ali desciam todos os defuntos, sem exceção. Quando a palavra sheol teve de ser traduzida para o grego, usou-se o vocábulo hades. Mais tarde, ao passar para o latim, traduziu-se por infernus, que significa exatamente isto: lugar inferior, subterrâneo. Estas três palavras, pois, indicam a mesma realidade. Quem baixava ao sheol não podia regressar nunca mais. Para esta região sombria e tenebrosa iam todos os homens que haviam transpassado as fronteiras da vida. Bons e maus, indistintamente, tinham como inevitável destino final a tenebrosa morada dos mortos.

 

Um morto bem morto – O perigo era grande, porque, se Jesus Cristo não tivesse de fato morrido, muito menos teria ressuscitado. E então não teria realizado nossa salvação e tudo estaria como antes de sua vinda. Viu-se, portanto, a necessidade de evidenciar isso num dogma que ficou definido assim: Creio que Jesus Cristo morreu e foi sepultado. E para que não houvesse nenhuma dúvida sobre sua morte real, acrescentou-se: desceu aos Infernos (mansão dos mortos).

 

Defuntos do Sheol – Nos Infernos (sheol), estavam todos os bons, os justos, os santos, que haviam morrido antes de Cristo. E nenhum deles podia entrar no Céu, na salvação, antes de Cristo, porque, como diz São Paulo, ele é o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o primeiro dentre os irmãos, o primeiro em tudo (Cl 1,18). Estavam todos esperando, nos Infernos, que se realizasse a redenção de Cristo. Quando morreu, baixou para buscá-los e para dar-lhes a Boa Notícia e levá-los com ele ao Paraíso. Cristo inaugurou o Céu e atrás dele entram todos os que tinham sido dignos de salvação antes de sua vinda.

 

Descida – A “descida” de Cristo aos Infernos tem, portanto, uma mensagem imensa. Todos os que tinham vivido antes de Cristo, para os quais nunca chegara o Evangelho e que nunca tinham ouvido falar de um Redentor, também puderam salvar-se. Todas as épocas da história foram santificadas, a começar de Adão. Por isso hoje, quando sabemos melhor do que antes quanto é antiga nossa humanidade, esta doutrina assume dimensões maiores.

 

Sábado Santo – A descida aos Infernos, comemorada no Sábado Santo, é uma doutrina que tem uma importância fundamental para a compreensão da fé cristã. Podemos nascer em qualquer século. A descida de Cristo aos Infernos santificou a todos os homens de todos os tempos.

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