Em
todas as missas deste sábado, os participantes rezam o “Creio” recitando: “Creio
que Jesus Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;
desceu aos Infernos (mansão dos mortos). Se alguém de repente nos perguntasse
se cremos que Jesus esteve no Inferno, com toda segurança diríamos que não. O
que é que queremos afirmar com isso?
O Sábado – Todo cristão sabe qual acontecimento celebramos na Sexta-feira
Santa e no Domingo de Páscoa. Pouquíssimos, porém, poderiam explicar que fato a
Igreja comemora no Sábado Santo. Saberão que, liturgicamente, é um dia vazio em
que não se pode celebrar missa, nem batismos, nem casamentos. Em síntese, dirão
que é um dia de luto pela morte e pelo sepultamento de Cristo. E apesar disso,
a Igreja coloca neste dia o dogma da descida de Cristo aos Infernos. Trata-se
de uma verdade esquecida, que hoje não desperta interesse na pregação e na
catequese, a tal ponto que muitos cristãos, inclusive o desconhecem e até o
acham estranho.
Infernos – Comecemos dizendo que os Infernos não são o Inferno. De
acordo com a teologia católica, o Inferno é o estado em que se encontram os
condenados eternamente. Por outro lado, os Infernos é o nome dado ao lugar,
conforme imaginava antigamente Israel, para onde iam todos os que morriam. Com
efeito, os judeus no Antigo Testamento tinham uma imagem do cosmos bem
diferente da nossa. Representavam-no como um disco enorme e plano, circular,
rodeado pelas imensas águas do oceano. Estava assentado sobre quatro colunas
que se afundavam no abismo. Acima do espaço estava o firmamento. Era uma cúpula
sólida, sobre a qual se supunha existir água e que servia para separá-la das
águas inferiores. Desta cúpula pendiam o Sol, a Lua e as estrelas. Para chover,
abriam-se as comportas de cima e então as águas caíam sobre a Terra.
Sheol – A terceira camada deste cosmo era o lugar chamado, em
hebraico, sheol – a morada dos
mortos, o mundo subterrâneo, colocado debaixo da Terra. Para ali desciam todos
os defuntos, sem exceção. Quando a palavra sheol
teve de ser traduzida para o grego, usou-se o vocábulo hades. Mais tarde, ao passar para o latim, traduziu-se por infernus, que significa exatamente isto:
lugar inferior, subterrâneo. Estas três palavras, pois, indicam a mesma
realidade. Quem baixava ao sheol não
podia regressar nunca mais. Para esta região sombria e tenebrosa iam todos os
homens que haviam transpassado as fronteiras da vida. Bons e maus, indistintamente,
tinham como inevitável destino final a tenebrosa morada dos mortos.
Um morto bem morto
– O perigo era grande, porque, se Jesus
Cristo não tivesse de fato morrido, muito menos teria ressuscitado. E então não
teria realizado nossa salvação e tudo estaria como antes de sua vinda. Viu-se,
portanto, a necessidade de evidenciar isso num dogma que ficou definido assim:
Creio que Jesus Cristo morreu e foi sepultado. E para que não houvesse nenhuma dúvida
sobre sua morte real, acrescentou-se: desceu aos Infernos (mansão dos mortos).
Defuntos do Sheol – Nos Infernos (sheol),
estavam todos os bons, os justos, os santos, que haviam morrido antes de
Cristo. E nenhum deles podia entrar no Céu, na salvação, antes de Cristo,
porque, como diz São Paulo, ele é o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o
primeiro dentre os irmãos, o primeiro em tudo (Cl 1,18). Estavam todos
esperando, nos Infernos, que se realizasse a redenção de Cristo. Quando morreu,
baixou para buscá-los e para dar-lhes a Boa Notícia e levá-los com ele ao
Paraíso. Cristo inaugurou o Céu e atrás dele entram todos os que tinham sido
dignos de salvação antes de sua vinda.
Descida – A “descida” de
Cristo aos Infernos tem, portanto, uma mensagem imensa. Todos os que tinham
vivido antes de Cristo, para os quais nunca chegara o Evangelho e que nunca tinham
ouvido falar de um Redentor, também puderam salvar-se. Todas as épocas da
história foram santificadas, a começar de Adão. Por isso hoje, quando sabemos
melhor do que antes quanto é antiga nossa humanidade, esta doutrina assume
dimensões maiores.
Sábado Santo – A descida aos Infernos, comemorada no Sábado Santo, é uma
doutrina que tem uma importância fundamental para a compreensão da fé cristã. Podemos
nascer em qualquer século. A descida de Cristo aos Infernos santificou a todos
os homens de todos os tempos.
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