O
Evangelho das missas deste domingo descreve a aparição de Jesus a sete
discípulos. O ponto mais importante é a entrega da missão de Pedro, de ser o
Pastor das ovelhas do Senhor.
Apêndice –
O último capítulo do Evangelho de João não faz parte da obra original (a obra original
termina com a conclusão de 20,30-31); é um texto acrescentado posteriormente,
que apresenta diferenças de linguagem, de estilo e mesmo de teologia, em
relação aos outros vinte capítulos. A sua origem não é clara; no entanto, a
existência de alguns traços literários tipicamente de João poderia fazer-nos
pensar num complemento redigido pelos discípulos do evangelista. Quase todas as
traduções da Bíblia intitulam o capítulo 21 de João como "Apêndice"
ou "Epílogo".
Comunidades – Devido
a uma situação nova nas comunidades, tornou-se necessário adicionar o último
capítulo. Essa situação era a fusão de dois tipos de comunidades cristãs – as da
tradição sinótica ou apostólica, e as da tradição da comunidade do Discípulo
Amado. Essa fusão aconteceu pelo fim do primeiro século e é simbolizada nos
versículos 15-18, nos quais Pedro recebe a primazia e a missão de pastor dos
discípulos – mas somente depois de ter afirmado três vezes que amava Jesus
(lembrando que ele tinha negado o Senhor três vezes na paixão). A comunidade do
Discípulo Amado aceita a função apostólica de Pedro, mas insiste que antes de
ser apóstolo é mais fundamental ser discípulo – ou seja, amar Jesus.
Duas Partes –
O texto está claramente dividido em duas partes. A primeira parte (1-14) é uma
parábola sobre a missão da comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem
caráter de “sinal”. Tem grandes semelhanças com a história da "pesca
milagrosa" de Lucas (Lc 5,1-11), mas o contexto pós-ressurrecional é
diferente. Chama a atenção que, embora seja a terceira aparição de Jesus, os
discípulos não o reconhecem. Isso demonstra que a presença de Jesus depois da
Ressurreição, embora real, não é igual a sua presença durante a sua vida
terrestre. Quem o reconhece primeiro é o Discípulo Amado, pois só quem vê com
olhos de amor reconhece e vê além das aparências. Como foi o amor que o levou a
correr mais depressa ao túmulo do que Pedro (capítulo 20), é o amor que faz com
que ele seja o primeiro a reconhecer a presença de Jesus Ressuscitado. Ele é o
Discípulo Amado e que ama – Pedro o será somente depois da sua profissão de
amor (15-17).
Missão –
A pesca simboliza a missão dos discípulos. Segundo muitos estudiosos, o número
de 153 peixes se baseia no fato de que os zoólogos gregos da Antigüidade achavam
que existia no mundo somente 153 espécies de peixes. Então, o Evangelho está
dizendo que a Igreja (simbolizada pela rede) pode abraçar o universo inteiro,
todos os povos e culturas. É interessante que, diferentemente da história em
Lucas, a rede não se rompe! A diversidade de culturas, tradições e povos
constitui uma riqueza para a Igreja e não deve levar ao rompimento da unidade.
Pedro –
O nó da questão está na entrega da missão a Pedro. Ele deve ser o Bom Pastor
das ovelhas e dos cordeiros (membros das comunidades). Mas as ovelhas não são dele
– ele é apenas o Pastor – as ovelhas pertencem ao Senhor! Aqui Pedro recebe
esta grande missão, que nos sinóticos recebe na estrada de Cesaréia de Felipe.
Mas mais importante do que a sua função, é a sua vocação de discípulo - aquele
que ama o Senhor. Só quem ama Jesus profundamente poderá pastorear os seus
seguidores.
Santo Agostinho –
A propósito dessa passagem, Santo Agostinho escreveu um belíssimo texto, que
reproduzimos a seguir:
Eis
que o Senhor, depois da sua ressurreição, aparece de novo aos seus discípulos.
Interroga o apóstolo Pedro, obriga-o a confessar o seu amor, ele que por medo,
o havia negado três vezes. Cristo ressuscitou segundo a carne, e Pedro segundo
o Espírito. Como Cristo morreu sofrendo, Pedro morre negando. O Senhor Cristo
ressuscitou de entre os mortos, e ressuscitou Pedro graças ao amor que este lhe tinha. Interrogou o amor daquele
que se declarava agora abertamente, e confiou-lhe o seu rebanho.
Por conseguinte, que é que Pedro trazia a Cristo pelo fato de
O amar? Se Cristo te ama, o benefício é para ti, não para Cristo. Se tu amas
Cristo, o benefício é ainda para ti, não para ele. Entretanto, o Senhor Cristo,
querendo mostrar-nos como os homens devem provar que O amam, revela-nos isso
claramente: amando as suas ovelhas. “Simão, filho de João, tu amas-me? – Amo-te
– Apascenta as minhas ovelhas”. E isso uma vez, duas vezes, três vezes. Pedro
não diz mais nada a não ser o seu amor. Amemo-nos pois, uns aos outros, e
amaremos Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário