sábado, 17 de abril de 2010

Apascenta as minhas ovelhas


O Evangelho das missas deste domingo descreve a aparição de Jesus a sete discípulos. O ponto mais importante é a entrega da missão de Pedro, de ser o Pastor das ovelhas do Senhor.

 

Apêndice – O último capítulo do Evangelho de João não faz parte da obra original (a obra original termina com a conclusão de 20,30-31); é um texto acrescentado posteriormente, que apresenta diferenças de linguagem, de estilo e mesmo de teologia, em relação aos outros vinte capítulos. A sua origem não é clara; no entanto, a existência de alguns traços literários tipicamente de João poderia fazer-nos pensar num complemento redigido pelos discípulos do evangelista. Quase todas as traduções da Bíblia intitulam o capítulo 21 de João como "Apêndice" ou "Epílogo".

 

Comunidades – Devido a uma situação nova nas comunidades, tornou-se necessário adicionar o último capítulo. Essa situação era a fusão de dois tipos de comunidades cristãs – as da tradição sinótica ou apostólica, e as da tradição da comunidade do Discípulo Amado. Essa fusão aconteceu pelo fim do primeiro século e é simbolizada nos versículos 15-18, nos quais Pedro recebe a primazia e a missão de pastor dos discípulos – mas somente depois de ter afirmado três vezes que amava Jesus (lembrando que ele tinha negado o Senhor três vezes na paixão). A comunidade do Discípulo Amado aceita a função apostólica de Pedro, mas insiste que antes de ser apóstolo é mais fundamental ser discípulo – ou seja, amar Jesus.

 

Duas Partes – O texto está claramente dividido em duas partes. A primeira parte (1-14) é uma parábola sobre a missão da comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem caráter de “sinal”. Tem grandes semelhanças com a história da "pesca milagrosa" de Lucas (Lc 5,1-11), mas o contexto pós-ressurrecional é diferente. Chama a atenção que, embora seja a terceira aparição de Jesus, os discípulos não o reconhecem. Isso demonstra que a presença de Jesus depois da Ressurreição, embora real, não é igual a sua presença durante a sua vida terrestre. Quem o reconhece primeiro é o Discípulo Amado, pois só quem vê com olhos de amor reconhece e vê além das aparências. Como foi o amor que o levou a correr mais depressa ao túmulo do que Pedro (capítulo 20), é o amor que faz com que ele seja o primeiro a reconhecer a presença de Jesus Ressuscitado. Ele é o Discípulo Amado e que ama – Pedro o será somente depois da sua profissão de amor (15-17).

 

Missão – A pesca simboliza a missão dos discípulos. Segundo muitos estudiosos, o número de 153 peixes se baseia no fato de que os zoólogos gregos da Antigüidade achavam que existia no mundo somente 153 espécies de peixes. Então, o Evangelho está dizendo que a Igreja (simbolizada pela rede) pode abraçar o universo inteiro, todos os povos e culturas. É interessante que, diferentemente da história em Lucas, a rede não se rompe! A diversidade de culturas, tradições e povos constitui uma riqueza para a Igreja e não deve levar ao rompimento da unidade.

 

Pedro – O nó da questão está na entrega da missão a Pedro. Ele deve ser o Bom Pastor das ovelhas e dos cordeiros (membros das comunidades). Mas as ovelhas não são dele – ele é apenas o Pastor – as ovelhas pertencem ao Senhor! Aqui Pedro recebe esta grande missão, que nos sinóticos recebe na estrada de Cesaréia de Felipe. Mas mais importante do que a sua função, é a sua vocação de discípulo - aquele que ama o Senhor. Só quem ama Jesus profundamente poderá pastorear os seus seguidores.

 

Santo Agostinho – A propósito dessa passagem, Santo Agostinho escreveu um belíssimo texto, que reproduzimos a seguir:

Eis que o Senhor, depois da sua ressurreição, aparece de novo aos seus discípulos. Interroga o apóstolo Pedro, obriga-o a confessar o seu amor, ele que por medo, o havia negado três vezes. Cristo ressuscitou segundo a carne, e Pedro segundo o Espírito. Como Cristo morreu sofrendo, Pedro morre negando. O Senhor Cristo ressuscitou de entre os mortos, e ressuscitou Pedro graças ao amor que este lhe tinha. Interrogou o amor daquele que se declarava agora abertamente, e confiou-lhe o seu rebanho.

Por conseguinte, que é que Pedro trazia a Cristo pelo fato de O amar? Se Cristo te ama, o benefício é para ti, não para Cristo. Se tu amas Cristo, o benefício é ainda para ti, não para ele. Entretanto, o Senhor Cristo, querendo mostrar-nos como os homens devem provar que O amam, revela-nos isso claramente: amando as suas ovelhas. “Simão, filho de João, tu amas-me? – Amo-te – Apascenta as minhas ovelhas”. E isso uma vez, duas vezes, três vezes. Pedro não diz mais nada a não ser o seu amor. Amemo-nos pois, uns aos outros, e amaremos Cristo.

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