A catequese
que Jesus faz, apresentada no texto do Evangelho deste domingo, é sobre a
atitude face aos bens. A reflexão é trazida à luz por uma questão relacionada
com a partilha de bens.
A Questão – Um homem queixa-se
a Jesus, porque o irmão não quer repartir a herança com ele. Segundo as tradições
judaicas, o filho primogênito de uma família de dois irmãos receberia dois terços
das possessões paternas. Segundo o Livro do Deuteronômio (Dt 21,17), os bens
deveriam ser atribuídos ao primogênito, para guardar intacto o patrimônio da
família. O homem que interpela Jesus é, provavelmente, o irmão mais novo, que
ainda não tinha recebido nada. Era frequente, no tempo de Jesus, que os
“doutores da lei” assumissem o papel de juízes, em casos similares…
Como é que Jesus se posiciona diante desta
questão? – Jesus recusa-se, delicadamente, a se envolver em questões de direito
familiar ou a tomar posição por um irmão
contra outro (“amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?”). O
que estava em causa, na questão, era a cobiça, a luta pelos bens, o apego
excessivo ao dinheiro (talvez por parte dos dois irmãos). Jesus explica porque
é que Ele não aceita se envolver na questão: o dinheiro não é a fonte da
verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é idolatria:
não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas do homem,
não conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do Reino não é a
lógica de quem vive para os bens materiais; quem quiser viver na dinâmica do
Reino, deverá ter isto presente.
Ganância – A parábola
que Jesus vai apresentar, na sequência, ilustra a atitude do homem: voltado
para os bens perecíveis e esquecendo-se do essencial – aquilo que dá a vida em
plenitude. A história apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador
(que até poderíamos admirar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive
apenas para os bens, que lhe asseguram tranquilidade e bem-estar material (e
nisso, já não o podemos admirar). Esse homem representa todos aqueles cuja vida
é apenas um acumular sempre mais, esquecendo todo o resto – inclusive Deus, a
família e os outros. Representa todos aqueles que, vivendo uma relação de
“circuito fechado” com os bens materiais, fizeram deles o seu deus pessoal, esquecendo que não é aí que está o sentido
mais fundamental da existência.
Egoísmo – O que Jesus
pretende, ao contar essa história? Convidar os seus discípulos a despojar-se de
todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem se preocupar com o
futuro? Propor, aos que fizeram a sua adesão ao Reino, uma existência de miséria,
sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? NÃO. O que Jesus
pretende é dizer-nos que não podemos viver na escravidão do dinheiro e dos bens
materiais, como se eles fossem a coisa mais importante de nossas vidas. A preocupação
excessiva com os bens, a sua busca obsessiva, constitui uma experiência de
egoísmo, de fechamento, de desumanização, que centra o homem em si próprio e o
impede de estar disponível e de ter espaço, na sua vida, para os valores verdadeiramente
importantes – os valores do Reino. Quando o coração está cheio de cobiça, de
avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um combate obsessivo pelo “ter”,
quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de acumular, o homem torna-se insensível
aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer
injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e auto-suficiente,
incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à
margem do Reino.
Importante – Esta parábola
não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas a todos aqueles que,
tendo muito ou pouco, vivem obcecados com os bens, orientam a sua vida no
sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua
vida e o seu agir.