sábado, 31 de julho de 2010

Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância


A catequese que Jesus faz, apresentada no texto do Evangelho deste domingo, é sobre a atitude face aos bens. A reflexão é trazida à luz por uma questão relacionada com a partilha de bens.

 

A Questão – Um homem queixa-se a Jesus, porque o irmão não quer repartir a herança com ele. Segundo as tradições judaicas, o filho primogênito de uma família de dois irmãos receberia dois terços das possessões paternas. Segundo o Livro do Deuteronômio (Dt 21,17), os bens deveriam ser atribuídos ao primogênito, para guardar intacto o patrimônio da família. O homem que interpela Jesus é, provavelmente, o irmão mais novo, que ainda não tinha recebido nada. Era frequente, no tempo de Jesus, que os “doutores da lei” assumissem o papel de juízes, em casos similares…

 

Como é que Jesus se posiciona diante desta questão? – Jesus recusa-se, delicadamente, a se envolver em questões de direito familiar ou  a tomar posição por um irmão contra outro (“amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?”). O que estava em causa, na questão, era a cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo ao dinheiro (talvez por parte dos dois irmãos). Jesus explica porque é que Ele não aceita se envolver na questão: o dinheiro não é a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas do homem, não conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do Reino não é a lógica de quem vive para os bens materiais; quem quiser viver na dinâmica do Reino, deverá ter isto presente.

 

Ganância – A parábola que Jesus vai apresentar, na sequência, ilustra a atitude do homem: voltado para os bens perecíveis e esquecendo-se do essencial – aquilo que dá a vida em plenitude. A história apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador (que até poderíamos admirar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os bens, que lhe asseguram tranquilidade e bem-estar material (e nisso, já não o podemos admirar). Esse homem representa todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo todo o resto – inclusive Deus, a família e os outros. Representa todos aqueles que, vivendo uma relação de “circuito fechado” com os bens materiais, fizeram deles o seu deus pessoal,  esquecendo que não é aí que está o sentido mais fundamental da existência.

 

Egoísmo – O que Jesus pretende, ao contar essa história? Convidar os seus discípulos a despojar-se de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem se preocupar com o futuro? Propor, aos que fizeram a sua adesão ao Reino, uma existência de miséria, sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? NÃO. O que Jesus pretende é dizer-nos que não podemos viver na escravidão do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa mais importante de nossas vidas. A preocupação excessiva com os bens, a sua busca obsessiva, constitui uma experiência de egoísmo, de fechamento, de desumanização, que centra o homem em si próprio e o impede de estar disponível e de ter espaço, na sua vida, para os valores verdadeiramente importantes – os valores do Reino. Quando o coração está cheio de cobiça, de avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um combate obsessivo pelo “ter”, quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de acumular, o homem torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e auto-suficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino.

 

Importante – Esta parábola não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas a todos aqueles que, tendo muito ou pouco, vivem obcecados com os bens, orientam a sua vida no sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua vida e o seu agir.

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