No Evangelho das missas deste domingo (Lc 14, 25-33) Jesus
se dirige às multidões com palavras bastante duras: “Se alguém vem a mim, mas
não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e
suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não
carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”.
Caminho – Com estas palavras Ele traça as
coordenadas do “caminho do discípulo”: é um caminho em que o “Reino” deve ter a
primazia sobre as pessoas que amamos, sobre os nossos bens, sobre os nossos
próprios interesses e esquemas pessoais. Quais são então, na perspectiva de
Jesus, as exigências fundamentais para quem quer seguir o “caminho do
discípulo” e chegar a sentar-se à mesa do “Reino”? Jesus põe três exigências,
todas elas subordinadas ao tema da renúncia.
A primeira – Exige o preferir Jesus à própria
família. A este propósito, Lucas põe na
boca de Jesus uma expressão muito forte. Literalmente, podemos traduzir o verbo
“misséô” como “odiar” (“quem não odeia o pai, a mãe… não pode ser meu
discípulo”). À primeira vista, a leitura pode nos chocar! Pode até parecer que
Jesus esteja ensinando algo que não condiz muito com os ensinamentos cristãos. Para
ser discípulo, é preciso odiar alguém? Não. Segundo a maneira semita de falar
(no caso de Jesus, ele falava o aramaico), “odiar” significa “pôr em segundo lugar algo porque,
entretanto, apareceu na vida da pessoa um valor que ainda é mais importante”.
É evidente que Jesus não está pedindo o ódio a ninguém, muito menos a esses a
quem nos ligam laços de amor… Está, sim, exigindo que as relações familiares
não nos impeçam de aderir ao “Reino”. Se for necessário escolher, a prioridade
deve ser do “Reino”.
A segunda – Exige a renúncia à própria vida.
O discípulo de Jesus não pode viver fazendo opções egoístas, colocando em
primeiro lugar os seus interesses, os seus esquemas, aquilo que é melhor para
ele; mas tem de colocar a sua vida ao serviço do “Reino” e fazer da sua vida um
dom de amor aos irmãos, se necessário até a morte. Foi esse, de fato, o caminho
de Jesus e o discípulo é convidado a imitar o mestre.
A terceira – Exige a renúncia aos bens. Jesus
sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma
prioridade, escravizando o homem e levando-o a viver em função deles; assim
sendo, que espaço fica para o “Reino”? Por outro lado, dar prioridade aos bens
significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos irmãos. Ora,
viver na dinâmica do “Reino” implica viver no amor e deixar que a vida seja
dirigida por uma lógica de amor e de partilha… Pode-se, então, viver no “Reino”
sem renunciar aos bens?
Exigências – Com este rol de exigências, fica
claro que a opção pelo “Reino” não é um caminho de facilidade e, por isso,
talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus
recomenda que as implicações e as consequências da opção pelo “Reino” sejam bem
pesadas. A parábola do homem que, antes de construir uma torre, pensa se tem
com que terminar a construção e a parábola do rei que, antes de partir para a
guerra, pensa se pode opor-se a outro rei com forças superiores, convidam os candidatos
a discípulos a tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua decisão
em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as
exigências do “Reino”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário