No
Evangelho das missas deste domingo (Mt 11, 2-11), o relato feito por Mateus
acontece no ano 26 d.C., quando João Batista estava preso na prisão de
Maqueronte, por ordem de Herodes Antipas. João permaneceu dez meses preso, até
o dia em que Herodíades, por intermédio de sua filha Salomé, conseguiu convencer
Herodes de matar João, pedindo como presente a cabeça dele em uma bandeja de
prata.
Dúvida do Batista – João, ouvindo falar das obras de Jesus, mandou seus
discípulos perguntarem: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”
Messias? – A pergunta não é feita à toa… João esperava um Messias
que viesse lançar fogo a terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao
“juízo de Deus” (Evangelho de domingo passado); e, ao contrário, Jesus
aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão,
mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação. João e os seus
discípulos estão, portanto, desconcertados: Jesus será o Messias esperado ou é
preciso esperar outro, que venha atuar de uma forma mais decidida, mais lógica e
mais justiceira?
Vários Messias – O tempo de Jesus era uma época de expectativas. O povo
era muito sofrido, dominado pelo Império Romano e reprimido pela elite dos
judeus. Crescia muito a esperança na vinda de um Messias libertador, esperado
há séculos. O primeiro século da nossa era foi marcado pelo aparecimento de
muitos líderes populares, propondo-se como Messias. Cada grupo da Palestina
tinha as suas expectativas sobre como seria a pessoa e a atuação desse Messias
prometido.
Resposta – Jesus responde aos discípulos de João, mostrando ser o
Messias esperado por seus atos. Usando textos do profeta Isaías, ele mostra que
o Reino de Deus chegou nele, pois acontecem as obras de libertação que são
características do Reino: com os mortos (Is 26,19), os surdos (Is 29,18-19), os
cegos, surdos, coxos e pobres (Is 35,5-6), e o anúncio da Boa-Nova aos pobres
(Is 61,1).
Relações – O messianismo de Jesus não se enquadrava nas
expectativas de muita gente, que esperava a derrota dos opressores, mas não
vislumbravam um mundo novo, baseado em solidariedade e justiça. Jesus veio
estabelecer no meio dos homens o Reino de Deus, baseado no conceito de
“justiça” – o restabelecimento de relações corretas de cada pessoa com Deus,
consigo mesmo, com o outro e com a natureza. Veio realmente criar novas
relações e não anunciar velhas relações com os papéis invertidos, em que o
oprimido vira opressor.
Desafio – Jesus sempre é questionador, desafia as nossas
expectativas. Para muitos, a proposta de Jesus era difícil demais, pois mexia
com o próprio comodismo. Ele era uma novidade total que não se enquadrava nos
velhos esquemas. Por isso diz: “E feliz de quem não se escandalizar por minha
causa”. Hoje também, a pessoa e o projeto de Jesus desafiam a todos – especialmente
nós cristãos.
Jesus ‘Light’ – Muitos cristãos têm uma idéia de como deve ser a
figura do Messias – triunfal, poderoso, milagreiro, que não mexe com as
estruturas sociais, políticas, econômicas da sociedade, que não nos desafia a
criar novas relações, na contramão da sociedade materialista, individualista e
consumista. Muitos hoje preferem um Jesus “light” – que funciona como
analgésico, que nos apazigua a consciência, que nos dá emoções fortes, mas que
não nos joga na luta dura da criação de uma nova sociedade, baseada nos
princípios do Reino!
E onde existe esse Reino? – O Reino existe onde se faz o que Jesus fazia – onde
os mais excluídos estão integrados, os rejeitados estão acolhidos, a Boa-Nova
de libertação total é pregada e vivenciada – e onde se faz a vontade de Jesus,
que veio “para que todos tenham a vida e a tenham em abundância”. É este Jesus
que aguardamos no Natal.
Advento
– Que o Advento seja também, tempo de purificação das falsas imagens a respeito
de Jesus, que talvez permeiem as nossas mentes. Ele só renasce onde as pessoas,
sejam elas cristãs ou não, se comprometem com as mesmas metas Dele, conforme o
texto nos demonstra. Somos felizes, se essas exigências não forem escândalo
para nós. A novidade perene do Evangelho e de Jesus nos desafia a rompermos com
os nossos velhos esquemas, para que concretizemos, nas nossas vidas, a vinda do
Reino.
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