sábado, 27 de agosto de 2011

Santa Mônica e Santo Agostinho

Neste final de semana, a Igreja Católica comemora dois santos importantes: Santa Mônica (27/8) e Santo Agostinho (28/8), mãe e filho. Vamos conhecer um pouco sobre estes santos. 

Santa Mônica – Nasceu na cidade de Tagaste (África do Norte) no ano 332. Teve uma forte educação religiosa e de muita disciplina. Desejava dedicar-se à vida de oração, mas seus pais impuseram o seu casamento com um homem chamado Patrício (bom trabalhador, mas com um terrível mau gênio, mulherengo, jogador e sem religião). O seu marido a fez sofrer por trinta anos. Tiveram três filhos: dois homens e uma mulher. O mais velho era Agostinho. 

Fórmula para não brigar – As outras esposas da cidade perguntavam a Mônica porque seu marido (que era um dos homens de pior gênio) não a agredia, ao contrário os esposos delas as agrediam sem compaixão. Mônica respondeu-lhes: "É que quando meu marido está de mau humor, eu me esforço para estar de bom humor. Quando ele grita, eu me calo. E como para brigar precisam de dois e eu não aceito a briga... não brigamos". 

Santo Agostinho – Grande teólogo, filósofo, moralista, apologista e importante bispo cristão. Nasceu na região norte da África em 354 e morreu em 430, filho de Patrício e Santa Mônica. Escreveu 232 livros, além de inúmeros tratados, sermões e cartas. 

Formação – Em sua formação teve importante influência do maniqueísmo (filosofia religiosa que une elementos cristãos e pagãos com característica dualista: divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo; a matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom). Ensinou retórica nas cidades italianas de Roma e Milão. Nesta última cidade teve contato com o neoplatonismo cristão (interpretação diversificada dos ensinamentos de Platão). 

Bispo – Viveu num monastério por um tempo. Em 395, passou a ser bispo, atuando em Hipona (cidade do norte do continente africano). Escreveu diversos sermões importantes. Santo Agostinho analisava a vida levando em consideração a psicologia e o conhecimento da natureza. Porém, o conhecimento e as ideias eram de origem divina.  

Fé – Para o bispo, nada era mais importante do que a fé em Jesus e em Deus. A Bíblia, por exemplo, deveria ser analisada, levando-se em conta os conhecimentos naturais de cada época. Defendia também a predestinação, conceito teológico que afirma que a vida de todas as pessoas é traçada anteriormente por Deus.  

Obras – As obras de Santo Agostinho influenciaram muito o pensamento teológico da Igreja Católica na Idade Média. Eis algumas obras: Da Doutrina Cristã (397-426); Confissões (397-398: descreve sua vida antes da conversão); A Cidade de Deus (413-426: combate as heresias); Da Trindade (400-416); Retratações; De Magistro; Conhecendo a si mesmo. 

Frases e Pensamentos – São famosas reflexões de Santo Agostinho. Eis algumas:

- "Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá ganhar um amigo."

- "Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos sobre a natureza."

- "Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor."

- "Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você."

- "Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita."

- "A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."

- "A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações."

- "A verdadeira medida do amor é não ter medida."

- "Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio."

sábado, 20 de agosto de 2011

Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe da Igreja

A Igreja Católica define como dogma de fé que a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi assunta à glória celeste em corpo e alma.

Santa Maria – A Virgem Maria realizou da maneira mais perfeita a obediência da fé.  Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que “nada é impossível a Deus” (Lc 1,37), e dando o seu assentimento: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se de mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).  
 

Maria Santa – Durante toda a sua vida e até a sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou.  Maria não cessou de crer “no cumprimento” da Palavra de Deus.  Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé. 

Mãe de Deus – O Concílio de Trento (ano de 431) proclamou Maria como Mãe de Deus, por ter concebido em seu seio o Filho de Deus: “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado, dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne”. 

Maria unida a Cristo e à Igreja – O papel de Maria para com a Igreja é inseparável de sua união com Cristo. “Esta união de Maria com seu Filho na obra da salvação manifesta-se desde a hora de sua concepção virginal até a sua morte”.  E com ânimo materno uniu-se ao seu sacrifício, consentindo, com amor, na imolação da vítima por ela gerada.  Finalmente, pelo próprio Jesus, moribundo na cruz, é dada como mãe ao discípulo, com estas palavras: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19,26). 

Mãe da Igreja – Após a ascensão do seu Filho, Maria “assistiu com suas orações a Igreja nascente”.  Reunida com os apóstolos e algumas mulheres, “vemos Maria pedindo, também ela, com suas orações, o dom do Espírito Santo, o qual, na anunciação, a tinha coberto com sua sombra”.  Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja, sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira. 

Rainha do Universo – A Imaculada Virgem, preservada de toda mancha, terminado o curso da vida terrestre, foi levada em corpo e alma à glória celeste.  E, para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo. 

Maria assunta ao Céu – Em 1950, o Papa Pio XII proclamou como dogma da Igreja Católica, a Assunção da bem-aventurada Virgem Maria.  A assunção de Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos cristãos. 

Mãe dos Cristãos – Todos os cristãos do mundo, de todas as épocas e de todos os lugares, a amaram, veneraram e recorreram a ela como verdadeira Mãe e poderosa intercessora.  Inúmeras cidades e povos a escolheram como Padroeira.  Arquitetos construíram-lhe grandes catedrais e lançaram-na nos obeliscos mais altos.  Poemas e artistas cantaram-na em seus poemas.  O mundo inteiro está encantado diante da beleza dessa mulher.  Ela é a Mãe de Jesus, Mãe da Igreja e nossa Mãe.

sábado, 13 de agosto de 2011

São João Batista e Herodes

          Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia é o confronto entre São João Batista (o precursor de Cristo) e Herodes Antipas, o filho de Herodes Magno (aquele que aparece no nascimento, recebe os magos, assassina as crianças de Belém).  Vamos detalhar os fatos, usando os textos do Evangelho de Marcos (Mc 6, 17s) e as citações do historiador Flávio Josefo, no livro Antiguidades Judaicas (XVIII,5,2). 

João Batista – Era filho de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém e de Isabel (Elizabete), parente de Maria Santíssima.  Depois que Maria recebeu a notícia (do anjo) que ficaria grávida, foi visitar Isabel.  Esta, ao ver Maria, pronuncia um dos mais belos salmos da Bíblia: o Magnificat (veja em Lc 1,39-56). João Batista nasceu na cidade de Ain-Karin, distante poucos quilômetros, a sudoeste de Jerusalém (na Judéia).  Viveu como ermitão, no deserto da Judéia, até os 27 anos. Ele atraía multidões, chamando os homens para a penitência e batismo, anunciando que o Reino de Deus estava próximo. 

Herodes Antipas – Foi o filho caçula de Herodes, o Grande e da samaritana Maltace, uma das dez esposas de seu pai; nasceu por volta do ano 20 a.C. Com a morte de Herodes Magno (4 a.C.), tornou-se tetrarca (rei de uma das quatro partes do reino) da Galileia e Peréia (veja Lc 3,1).  Frequentou as melhores escolas de seu tempo, alternando o estudo com os divertimentos e a ociosidade de Roma. Casou-se com a filha de Aretas IV, o rei do perigoso povo Nabateus (da vizinha Arábia).  Tinha total confiança e simpatia do Imperador Tibério, a ponto de ser transformado em um espião, junto aos magistrados romanos no Oriente. 

O escândalo – Por volta do ano 27 d.C., em uma de suas viagens a Roma, como informante do imperador, Herodes Antipas hospedou-se na casa de seu irmão por parte de pai, Herodes Filipe (veja Mc 6,17).  Este levava uma vida discreta em Roma e havia se casado com sua sobrinha, Herodíades.  A ocasião foi favorável tanto para a ambiciosa Herodíades (que não se conformava com aquela vida obscura), como para o leviano Antipas, que se apaixonou por ela. 

A infidelidade – Os dois juraram-se fidelidade.  A pedido de Herodíades, o tetrarca prometeu repudiar a esposa assim que retornasse para a Galileia; Herodíades prometeu-lhe abandonar o marido, Filipe, e acompanhá-lo à Galileia.  A legítima esposa de Antipas, sabendo dos projetos do marido, preferiu não sofrer a humilhação do repúdio, retirando-se para a casa dos pais.  Os nabateus, vendo a filha do rei Aretas IV humilhada, invadiram as terras de Antipas, fazendo com que este perdesse toda a estima do imperador. 

A união ilegítima – Com o caminho livre, Herodíades viajou para a Galileia, levando a sua filha, a bela jovem Salomé e passou a viver com Herodes Antipas. 

A denúncia de João Batista – Todo o povo comentava o escândalo do tetrarca, que violara as leis nacionais e religiosas ao contrair aquelas segundas núpcias, que a Lei de Moisés condenava severamente (Lev 20,21).  Todos falavam, indignados, dessa união, mas, secretamente, temiam represálias.  Só o profeta do deserto, respeitado pelo povo e por Antipas (Mc 6,20), João Batista, ousou afrontar o tetrarca, denunciando a união ilegítima com Herodíades (Mc 6,18).  Temendo uma revolta popular, Antipas mandou prender João Batista na solitária e majestosa fortaleza de Maqueronte. Herodíades queria silenciar para sempre, com a morte, o austero denunciante. 

O Martírio – No dia do aniversário de Herodes, foi oferecido um banquete aos grandes da corte.  Salomé (filha de Herodíades) dançou e agradou a todos.  O rei, encantado, disse à moça: “Pede o que quiseres e eu te darei, ainda que seja a metade de meu reino”.  Em dúvida, a moça perguntou a sua mãe: “O que hei de pedir?”.  Ela respondeu: “A cabeça de João Batista”.  Salomé pediu ao rei: ”Quero que me dês num prato a cabeça de João Batista”.  Antipas, mesmo contrariado, mandou degolar João no cárcere e entregou a sua cabeça num prato, para Salomé (veja Mc 6,21-28).


Lenda – Uma antiga lenda conta que Herodíades ao ter nas mãos a cabeça de João, não pôde conter a satisfação e com um alfinete de ouro atravessou a língua que a havia censurado. 

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sábado, 6 de agosto de 2011

Uma carta escrita por Jesus?

O historiador (e bispo) Eusébio de Cesaréia escreveu, no século IV, um dos mais importantes textos históricos sobre a Igreja: trata-se do livro “História Eclesiástica”, que conta o desenvolvimento da Igreja nos três primeiros séculos (Editora Paulus, Coleção Patrística). Uma das histórias mais intrigantes é sobre o Rei Abgar (ou Abgaro), que é tratada como verdadeira por Eusébio, mas considerada como lenda por outros historiadores (H.E 1,12). 

A Lenda – Abgaro Ukkama Toparca V foi rei da cidade de Edessa (Síria), entre 4 a.C. e 7 d.C., quando foi destronado por seu irmão Mahanu IV. Diz a lenda que, por volta do ano 32 d.C., sofrendo de terrível lepra, Abgaro teria escrito uma carta a Jesus pedindo para que Ele fosse até Edessa, para curá-lo. A carta escrita por Abgaro teria sido levada a Jesus por seu emissário, Hannan. 

A Carta – “Abgaro Ukkama a Jesus, o Bom Médico que apareceu na terra de Jerusalém, saudações. Escutei falar de Ti e de Tuas curas: que Tu não fazes uso de remédios nem raízes; que, por Tua palavra, abriste os olhos de um cego, fizeste o aleijado andar, limpaste o leproso, fizeste o surdo ouvir; que por Tua palavra Tu também expulsaste espíritos daqueles que eram atormentados por demônios imundos; que, outra vez, Tu ressuscitaste o morto, trazendo-o para a vida. E, conhecendo as maravilhas que Tu fazes, concluí que das duas uma: ou Tu desceste do céu, ou mais: Tu és o Filho de Deus e por isso fizeste todas essas coisas. Por esse motivo, escrevo para Ti e rezo para que venhas até mim, que Te adoro, e cure toda a doença que carrego, de acordo com a fé que tenho em Ti. Também soube que os judeus murmuram contra Ti e Te perseguem; que buscam crucificar-Te e destruir-Te. Eu não possuo mais que uma pequena cidade, mas é bela e grande o suficiente para que nós dois vivamos em paz”. 

Resposta de Jesus – Não se sabe se a resposta de Jesus teria sido passada verbalmente a Hannan ou escrita pelo próprio Jesus. A pretensa resposta de Jesus foi fartamente difundida, chegando a ser usada como escapulário por supersticiosos. Em sua resposta, Jesus não aceita o convite, mas promete enviar um mensageiro dotado de Seu poder.  

A Resposta – “Feliz és tu que acreditaste em Mim não tendo Me visto, porque está escrito sobre Mim que 'aqueles que me verão não acreditarão em Mim, e aqueles que não me verão acreditarão em Mim'. Quanto ao que escreveste, que eu deveria ir até ti, devo cumprir todas as coisas para as quais fui enviado aqui; quando eu ascender outra vez para o Meu Pai que me enviou, e quando eu tiver ido ter com Ele, Eu te enviarei um dos meus discípulos, que curará todos os teus sofrimentos, e eu te darei saúde outra vez, e converterei todos os que estão contigo para a vida eterna. E tua cidade será abençoada para sempre, e os teus inimigos nunca a dominarão.” 

Visita de Tadeu – Depois da ascensão de Jesus, Tadeu, um dos setenta discípulos, foi enviado à Edessa, encontrando-se com o rei Abgaro e curando-o.  Tadeu também curou muitos doentes e pregou o Evangelho de Jesus Cristo. 

Lenda ou verdade – Esta lenda teve grande popularidade, tanto no oriente como no ocidente, durante a Idade Média.  A carta de Jesus era copiada em pergaminho, mármore ou metal e usada como amuleto. Na época de Eusébio, acreditava-se que as cartas originais estavam guardadas em Edessa.  Hoje, existem nos museus uma cópia na língua Síria, uma em armênio e duas versões em grego. Também, existem várias inscrições da carta de Jesus esculpidas em pedra. Uma versão completa da carta aparece no livro apócrifo “Ensinamentos de Adai” (Adai = Tadeu), que alguns estudiosos afirmam ter sido escrito na época apostólica.