sábado, 10 de setembro de 2011

“O perdão também cansa de perdoar”

A famosa frase do título pertence à música “Regra três”, composta por Toquinho e Vinicius de Morais em 1973. O Evangelho das missas deste domingo (Mt 18,21-35) também nos fala do perdão. Ao contrário da letra da música, fala-nos de um Deus cheio de bondade e de misericórdia que derrama sobre os seus filhos – de forma total, ilimitada e absoluta – o seu perdão.  

“Onde menos vale mais” – Os cristãos são convidados a descobrir a lógica de Deus e a deixarem que a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem limites e sem medida marque a sua relação com os irmãos. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida; e convida-nos a assumir uma atitude semelhante para com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado. 

Texto – Mais uma vez é Pedro que articula em palavras o desafio cristão, "quantas vezes devo perdoar o meu irmão?" e responde ele mesmo, sugerindo "sete vezes", com certeza achando que agir assim seria um exagero. Mas para Jesus, não basta o discípulo agir segundo os critérios desse mundo. Por isso exige "não somente sete vezes, mas setenta vezes sete", ou seja, para quem realmente quer se modelar em Deus, o perdão tem que ser sem limites. 

Vingança – A ideia básica inverte a posição sangrenta e vingativa de Lamec em Gn, 4,24, "Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e sete!" O cristão tem que deixar definitivamente por trás todo sentimento de vingança e assumir os novos valores do Reino de Deus, entre os quais tem lugar de destaque, o perdão. 

Parábola – Para explicar o perdão sem limites, o evangelista complementa com a parábola dos devedores. Esta parábola ilustra um dos pedidos do Pai Nosso, "perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores". Fazendo esse pedido, estamos querendo o perdão de Deus para que, experimentando-o, consigamos perdoar os nossos devedores. 

Pai Nosso – O texto original do Pai Nosso se referia realmente a dívidas financeiras, mas hoje, o texto foi modificado, substituindo-se as “dívidas” por “ofensas”, com uma aplicação mais geral. 

O Perdão de Deus depende do nosso? – Não é que o perdão de Deus dependa do nosso - é sempre Deus que toma o iniciativa e nós que respondemos. Mas somos capazes de render nulo o efeito do perdão do Pai, se nós nem queremos perdoar os outros. Assim, o Pai continua querendo nos perdoar, mas nós cortamos o efeito dessa gratuidade divina.  

Querer perdoar – Obviamente, o perdão envolve um processo todo, que abrange a parte espiritual, mas também psicológica, da pessoa. Não se consegue eliminar os efeitos das ofensas de uma vez. Mas o importante é o "querer" perdoar. O próprio desejo já é o perdão, pois é somente com a graça divina que nós conseguiremos perdoar mesmo. Mas quando esse desejo é ausente, nem o perdão do Pai penetra a barreira que nós erguemos e o seu perdão fica sem frutos. 

Sinais do Reino – A proposta do texto de hoje é além das nossas forças humanas, mas não além da possibilidade da graça divina. Por isso, temos que sempre pedir o dom do perdão, conforme nos ensina a Oração do Senhor, para que as nossas comunidades sejam verdadeiramente sinais do Reino e não meramente aglomerações de pessoas que partilham as mesmas teorias teológicas, mas sem que essas influenciem na sua vivência, na sua prática. Da nossa parte exige-se esforço, e Deus dará a força, para que vivamos conforme o desafio do Sermão da Montanha "sejam perfeitos, como o Pai do Céu de vocês é perfeito".

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