Mestre – No Evangelho, os títulos de Cristo são como lados de um prisma, cada um dos quais reflete uma “cor” particular, isto é, um aspecto de sua realidade íntima. Este domingo, encontramo-nos com o importante título de Mestre “Um só é vosso Mestre, o Cristo”. Entre os artistas e certas categorias de profissionais, o nome do mestre em cuja escola se tenha formado é uma das coisas das quais se está mais orgulhoso e se põe na reunião das próprias referências. Mas a relação mestre-discípulo era ainda mais importante nos tempos de Jesus, quando não havia livros e toda a sabedoria se transmitia por via oral.
Aprendei de mim – Em um ponto Jesus se distancia do que ocorria em seu tempo entre o mestre e os discípulos. Estes pagavam, por assim dizer, os estudos, servindo ao mestre, fazendo por ele pequenos encargos e prestando-lhe os serviços que um jovem pode fazer a um ancião, entre os quais estava lavar-lhe os pés. Com Jesus sucede ao contrário: é ele quem serve aos discípulos e lhes lava os pés. Jesus não é verdadeiramente da categoria dos mestres que “dizem e não fazem”. Ele não disse a seus discípulos que fizessem nada que não tivesse feito ele mesmo. É o contrário dos mestres admoestados na passagem do Evangelho do dia, que “atam cargas pesadas e as deixam às costas das pessoas, mas eles nem com o dedo querem movê-las”. Por isso Jesus pode dizer com toda verdade: “Aprendei de mim”.
M maiúsculo – Mas o que quer dizer que Jesus é o único mestre? Que este título não devr ser utilizado de agora em diante por nenhum outro, que ninguém tem direito de fazer-se chamar mestre. Quer dizer que ninguém tem o direito de fazer-se chamar Mestre com M maiúsculo, como se fosse o proprietário último da verdade e ensinasse em nome próprio a verdade sobre Deus. Jesus é a suprema e definitiva revelação de Deus aos homens e contém em si todas as revelações parciais que foram dadas a conhecer antes ou depois dele.
Verdades definitivas – Não se limitou a revelar-nos quem é Deus, também nos disse o que Deus quer, qual é sua vontade em nós. Isto há que recordar ao homem de hoje, tentado de relativismo ético. João Paulo II o fez com a encíclica “O esplendor da verdade” (Veritatis splendor) e seu sucessor, Bento XVI, não se cansa de insistir nisso. Não se trata de excluir um sadio pluralismo de perspectivas sobre as questões ainda abertas ou sobre os problemas novos que se apresentam à humanidade, mas de combater essa forma de relativismo absoluto que nega a possibilidade de verdades certas e definitivas.
Verdade absoluta – Contra este relativismo, o Magistério da Igreja reafirma que existe uma verdade absoluta, porque existe Deus que é o mediador da Verdade. Esta verdade essencial, certamente a identificar sempre com maior esmero, está impressa na consciência. Mas já que a consciência se obscureceu pelo pecado, pelos costumes e os exemplos contrários, eis aqui o papel de Cristo, que veio revelar de forma clara esta verdade de Deus; eis aqui o papel da Igreja e de seu Magistério, que explica tal verdade de Cristo e a aplica às constantes mudanças de situações da vida.
Discípulo – Um fruto pessoal da reflexão de hoje sobre o Evangelho será redescobrir que honra, que privilégio inaudito, que “título de recomendação” é, ante Deus, ser discípulo de Jesus de Nazaré. Coloquemos também nós, isso no cume de todas as nossas “referências”. Que vendo-nos ou ouvindo-nos qualquer um possa dizer de nós o que a mulher disse a Pedro, no átrio do Sinédrio: “Também tu és um de seus discípulos. Tua própria fala (tua atuação) te denuncia”.
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