sábado, 29 de dezembro de 2012

Jesus no Templo com os Doutores


O Evangelho das missas deste domingo (Lc 2,41-52) descreve a viagem da Sagrada Família a Jerusalém por ocasião da Páscoa.  Terminadas as festividades, Jesus permanece no Templo com os Doutores da Lei.  Vamos detalhar este episódio. 

Tradição da Páscoa – Por ocasião da Páscoa, a principal festa do povo de Deus, milhares de peregrinos acorriam para a capital, Jerusalém.  No ano em que Jesus completava 12 anos, Ele, com José e Maria, foram fazer a peregrinação anual ao templo de Jerusalém.  A Sagrada Família partiu de Nazaré, onde moravam, e subiram até Jerusalém, numa viagem de 150 km, percorridos em 3 ou 4 dias. Por segurança, os romeiros viajavam em grandes caravanas, junto com os parentes.  Supõe-se que os peregrinos de Nazaré acampavam num jardim chamado Getsêmani, no pé do Monte das Oliveiras. 

A época – Era o ano 6 de nossa era.  O rei Arquelau (filho de Herodes) já havia sido deposto, sendo a Judéia governada pelo procurador romano Coponius.  Nesta época, Jesus, com 12 anos, já era considerado adulto, com maturidade religiosa no judaísmo (Filho da Lei ou Bar-mizwah), membro do povo de Israel, passando a fazer leituras nas sinagogas.  Falava o aramaico (no dia-a-dia) e o hebraico (idioma culto e religioso da época).  Algumas perícopes dos Evangelhos dão a entender que Jesus soubesse a língua grega. 

No fim da festa – Terminada a Páscoa, os romeiros se reuniam, formando as caravanas e voltavam para casa.  Os homens formavam um grupo separado das mulheres.  Os filhos podiam ir com o pai, ou com a mãe, ou com os parentes.  Conforme a tradição, o local de encontro das caravanas era em El-Birê, 16 km ao norte de Jerusalém, de onde as caravanas partiam cada uma para sua cidade. 

Jesus fica em Jerusalém – José imaginava que Jesus estivesse com Maria e esta, por sua vez, pensava que o menino estivesse na caravana dos homens.  Perceberam que Ele não estava na caravana no fim do primeiro dia de viagem.  Já estavam a cerca de 15 km de Jerusalém.  Voltaram para lá e depois de três dias de buscas, encontraram Jesus no Templo. 

Jesus no Templo – José e Maria encontraram Jesus no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os.  Os mestres da lei eram profundos conhecedores da Lei Judaica (os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que ensinavam nos átrios do templo, como Jesus o faria em sua vida pública.  O ensinamento dos mestres era em forma de diálogo. 

Diálogo com os mestres – Pela descrição do Evangelho de Lucas, parece que estava ocorrendo uma aula, com todos os mestres e Jesus sentados em círculo, como era a tradição.  A admiração dos mestres estava em Jesus não saber os trechos da Sagrada Escritura (Antigo Testamento) de maneira decorada, como era normal, mas discutia com conhecimento. 

“Meu filho, por que agiste assim conosco?” – Maria deve ter dito esta frase mais em tom de alívio do que de repreensão.  Depois de tão profunda aflição e tão grande susto, Maria, mãe amorosa que era, deve ter sentido uma grande alegria e alívio ao reencontrar Jesus. 

“Não sabíeis que eu devo estar na casa do meu Pai?” – A tradução ao pé da letra (do grego) desta frase de Jesus é: “ ... que eu devia estar ocupado com os negócios de meu Pai?”.  É a primeira palavra de Jesus citada nos Evangelhos; notar que, como na última frase de Jesus, ele se refere ao Pai. 

Jesus crescia em idade, em sabedoria e em graça diante de Deus – Jesus se preparava para sua missão.  Vinte anos depois (ano 27 d.C.), iniciava sua vida pública, fazendo com que ele superasse os laços familiares.  Deixou sua cidade de origem (Nazaré) e elegeu a cidade de Carfanaum como centro de seu apostolado.  A casa de Pedro (em Carfanaum) se tornaria o novo ponto de referência e os 12 apóstolos a sua nova família.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Jesus nasceu em 25 de dezembro?

Na noite de 24 de dezembro milhões de pessoas em todo o mundo comemoram, com profunda emoção, o que aconteceu em outra noite, há mais de dois mil anos: o nascimento de Jesus Cristo. O dia 25 de dezembro parece ter um toque mágico.  Mas, Jesus nasceu realmente neste dia? Certamente que não. Então, qual seria a data exata? 

O Ano – Segundo relatos históricos, o rei Herodes (que perseguiu Jesus, recebeu os magos, mandou matar as crianças de Belém etc) morreu no final de março do ano 4 a.C. Como Jesus nasceu antes da morte de Herodes, a data mais aceita é o ano 7 a.C. 

O mês – Quanto ao mês do nascimento de Jesus, a única informação está em Lc 2,8: "na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias montavam guarda a seu rebanho". Sabe-se que, em dezembro, quando comemoramos o Natal, a temperatura na região de Belém é abaixo de zero e normalmente há geadas. Portanto, certamente não haveria gado, no mês de dezembro, nos pastos próximos a Belém. Atualmente, naquela região, os rebanhos são levados para o campo em março e recolhidos no fim de outubro. 

O dia – Desde os primeiros séculos, os cristãos sempre quiseram ter um dia para comemorar o nascimento de Jesus. Mas, não havia informações suficientes para fixar esse dia. O bispo Clemente de Alexandria (séc. III) dizia ser no dia 20 de abril; São Epifânio sugeria o dia 6 de janeiro, enquanto outros falavam em 25 de março ou 17 de novembro. Porém, não havia acordo. Assim, durante os três primeiros séculos, a festa do nascimento de Jesus não teve data certa. 

Igreja sacudida – No século IV aconteceria algo que abalaria a Igreja: um presbítero de Alexandria chamado Ário passou a discordar da Igreja quanto à natureza de Cristo. Ário dizia que existia um Deus eterno e não gerado e que Jesus foi criado por esse Deus; portanto, Cristo era criado e não eterno. As idéias de Ário se propagaram e ganharam boa parcela da Igreja. No ano de 325 foi convocado um Concílio Universal da Igreja para resolver a questão ariana. Este concílio aconteceu na cidade de Nicéia, vizinha de Constantinopla. Por grande maioria, as idéias de Ário foram rejeitadas. Para reforçar a idéia, foi criado o credo Niceno-constantinopolitano que rezamos até hoje: “creio em Jesus Cristo nascido do Pai antes de todos os séculos; (Jesus é) Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, da mesma substância do Pai ...”. 

Pós-Ário – Apesar da derrota, os partidários de Ário não se deram por vencidos. Muitos bispos continuaram aceitando a doutrina ariana e se recusando a utilizar o credo proposto em Nicéia. Frente a essa situação, o Papa Julio I percebeu que era importante propagar a idéia da divindade de Cristo, combatendo as idéias de Ário. Propôs que fosse comemorada a festa do nascimento de Jesus como a celebração do nascimento do Filho de Deus. 

Qual dia? – Foi proposto usar o dia de uma festa bastante popular do Império Romano: “o dia do Sol Invencível”. Era uma celebração pagã muito antiga, desde o tempo do Imperador Aureliano, no século III, em que se adorava o sol como um deus invencível. Como se sabe, no hemisfério norte, à medida que vai chegando dezembro (inverno), os dias vão diminuindo e as noites se prolongando. A escuridão aumenta e o sol fica cada vez mais fraco. No dia 21 de dezembro (dia mais curto do ano) as pessoas se perguntavam: o sol desaparecerá?  Mas, a partir de 22 de dezembro a luz do sol começa a ganhar da escuridão.  No dia 25 de dezembro era comemorado o sol que não morre, o Sol Invencível. 

Luz de Natal – Desta forma, a Igreja do século IV batizou e “cristianizou” uma festa pagã, transformando o “dia de natal do Sol Invencível” para “Dia de Natal de Jesus”, o Sol de Justiça, muito mais brilhante que o astro rei.  Assim, o dia 25 de dezembro se converteu no dia de Natal cristão. 

Natal – Jesus não nasceu em 25 de dezembro. É uma festa simbólica. Mas, quando vemos ao nosso redor os problemas, preocupações, dores, fracassos, enfermidades, injustiças, misérias, corrupção, mentiras, devemos lembrar e nos perguntar: o mal vencerá o bem? A escuridão ganhará da luz? Cristo desaparecerá? Será vencido pelo mal?  O dia 25 de dezembro é o anúncio que Jesus é o Sol Invencível; jamais será derrotado. O 25 de dezembro é o maior grito de esperança dos homens; todos os que se opuserem a Jesus desaparecerão, porque ele é o verdadeiro Sol Invencível.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Como aconteceu o nascimento de Jesus


Seguindo a descrição do capítulo 2 (versículos de 1 a 7) do Evangelho de Lucas, vamos detalhar os fatos que aconteceram no nascimento de Jesus. 

“Ora, naquele tempo, foi publicado um edito de César Augusto, mandando recensear o mundo inteiro. Esse primeiro recenseamento teve lugar na época em que Quirino era governador da Síria.”

Ao que parece, o evangelista teve a intenção de localizar o nascimento de Jesus no tempo, sem qualquer precisão cronológica.  Os únicos registros históricos sobre um recenseamento na Palestina indicam o ano de 6 d.C., exatamente por ocasião da mudança do reino (de Arquelau) para a administração direta de Roma.  Para este recenseamento foi convocado o funcionário romano Publius Sulpicius Quirinus, que foi governador da Síria entre 6 e 8 d.C.  Portanto, existe uma lacuna de mais de 10 anos entre o nascimento de Jesus e o recenseamento.  Sabemos que o nascimento de Cristo se deu quando Herodes Magno era o rei da Judéia e que este morreu dias depois de um eclipse lunar (12 de março de 4 a.C.), cerca de 10 dias antes da Páscoa (11 de abril de 4 a.C.), conforme o historiador Flavius Josephus. 

“Todos iam se fazer recensear, cada qual em sua própria cidade; José também subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de David, que se chama Belém, na Judéia, porque era da família e da descendência de Davi, para se fazer recensear com Maria, sua esposa, que estava grávida.”

O evangelista também nos informa que o edito do imperador Otávio obrigava todos a se recensear em sua própria cidade, fazendo com que José e Maria, descendentes de Davi, viajassem de Nazaré para Belém (150 km em 4 dias de viagem). Historicamente é bastante estranha esta obrigatoriedade, pois o recenseamento era uma atualização de cadastro para pagamento de impostos para o império (taxa de pessoa física e impostos sobre propriedades). Visto que José não morava na Judéia, nem tinha propriedades ou parentes em Belém (foi obrigado a ficar numa hospedaria), não havia razão para o credenciamento.  Também não têm respaldo na História os fatos de José (um cidadão de Nazaré, na Galiléia, reino governado por Antipas) ser convocado para um cadastro na Judéia (província governada diretamente por Roma) e a obrigatoriedade da presença de Maria.  Existem documentos do império que mostram que um morador podia declarar os bens de seus dependentes.  Quanto à citação de Lucas de que Belém é a cidade de Davi, existem algumas controvérsias: como sabemos, a cidade de Davi é Jerusalém (e não Belém); talvez Lucas tenha feito um interpretação própria de Mq 5,1, atribuindo o título a Belém. 

“Ora, enquanto lá estavam, chegou o dia em que ela devia dar à luz; ela deu à luz seu filho primogênito...”

Primogênito era uma expressão jurídica e sagrada da lei judaica (veja em Ex 13,2 e Nm, 3,11).  Mesmo que a família tivesse um único filho, esse receberia o ‘título jurídico’ de primogênito, que obrigava os pais a consagrá-lo a Deus. 

“... envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala dos hóspedes.”

José e Maria estavam num abrigo para caravanas (caravançarai): se tratava de um grande abrigo para hospedagem gratuita de caravanas, normalmente formado de quatro pavilhões em volta de um pátio.  Como não havia lugar na sala principal (a cidade deveria estar repleta de viajantes por causa do recenseamento), Maria deve ter levado o Menino para o pátio onde ficavam os animais.  É importante lembrar que Lucas não descreve uma hospedaria, mas apenas uma sala; o termo (em grego) usado pelo evangelista é o mesmo usado para designar a sala da última ceia.

Portanto, não existe qualquer descrição de nascimento em uma gruta, com bois e carneiros ao redor.  Esta tradição surgiu alguns séculos depois com Justino e Orígenes. 

Você sabia que ...

          ... a primeira descrição do nascimento de Cristo num presépio foi de Justino (mártir, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 100 e 165) e de Orígenes (teólogo que viveu entre 185 e 254)?  Elas se encontram nos livros ‘Diálogo com Trifon’ (Justino) e ‘Contra Celsum’ (Orígenes).  Se você quer mais detalhes sobre o assunto, os textos poderão ser recebidos gratuitamente pelo E-mail abaixo.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Situação política na época do nascimento de Jesus


Palestina – Jesus nasceu e viveu na região da Palestina (hoje Israel).  Na época em que ele nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano (desde o ano 31 a.C.), cujo imperador era Otávio Augusto.  Desde 37 a.C., a região formava um “reino cliente”, com alguma independência de Roma, sendo administrado pelo rei Herodes Magno (“O Grande”). 

Império Romano – Portanto, na época do nascimento de Jesus, mais da metade do mundo conhecido era dominado pelo Império Romano (toda a região do Mar Mediterrâneo, a Palestina, norte da África e Egito), sendo a Palestina um reino parcialmente independente, cedido pelo imperador romano a Herodes.  Nesta região, viviam os judeus, um povo com língua (hebraico ou aramaico), religião e costumes próprios. 

Rei – Herodes (Magno) era um idumeu (povo que havia invadido a Palestina e assumido a religião judaica, porém excluído pelos judeus), casado com Mariana (judia), com quem teve dois filhos (Alexandre e Aristóbulo), além de outros filhos de casamentos anteriores. Administrativamente, Herodes era um político hábil: trouxe paz para a região, reconstruiu Jerusalém com “obras pagãs” (como teatros e anfiteatros), inaceitáveis para os judeus; instituiu os jogos atléticos em homenagem ao imperador (os jovens competiam nus) e reconstruiu o templo dos judeus com o dobro do tamanho. 

Herodes – Era, porém, obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivos dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater.  A morte de sua mulher, Mariana, também é atribuída a ele. Em 36 anos de reinado, não se passou um só dia sem execução de inocentes.  Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de 2 anos, nascidos em Belém. 

Filhos – Herodes morreu entre março ou abril do ano 4 a.C. (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus); seu reino foi dividido entre seus filhos: Herodes Antipas, que ficou com a Galileia e Pereia (norte); Herodes Filipe, que ficou com as cinco províncias ao leste do rio Jordão; Herodes Arquelau, ficou com a Judéia e Samaria (ao sul). Arquelau se mostrou mais tirano que o pai.  Nos primeiros dias de sua posse matou muitos judeus.  Num só dia foram mortas 3.000 pessoas. 

Arquelau – O Evangelho de Mateus deixa bem claro a situação de opressão do povo (Mt 2,16-23), por ocasião do nascimento do Messias: José, Maria e Jesus se refugiaram no Egito, com medo de Herodes e somente depois da morte dele é que retornaram para a Galileia, com medo de Arquelau (que reinava na Judéia e Samaria, apenas). Em razão de inúmeros protestos dos judeus, em 6 d.C., Arquelau foi destituído do cargo pelo Imperador Otávio e a Judéia passou a ter administração direta de Roma, por intermédio de procuradores.  Trinta anos depois, Pôncio Pilatos se tornaria o mais famoso dos procuradores. 

Antipas – Herodes Antipas, muito ambicioso, casou-se com a filha do rei da Arábia, ao mesmo tempo em que conquistava a estima e confiança do imperador romano.  Numa viagem a Roma, hospedou-se na casa do irmão, Herodes Filipe, apaixonando-se por Herodíades, mulher do irmão.  Algum tempo depois, Herodíades foi morar na Palestina com Herodes Antipas e levou a filha, Salomé, junto.  A situação de adultério foi denunciada por João Batista, que foi decapitado por vingança de Herodíades. 

Como se vê, a plenitude dos tempos, ocasião escolhida por Deus para o nascimento de seu Filho, foi uma época sombria da história de judeus e pagãos. O que nos leva a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino: “Deus não ama o homem porque o homem seja bom, mas o homem é bom porque Deus o ama”.

sábado, 1 de dezembro de 2012

“Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho...” (Gl 4,4)

          Dentro do Ano Litúrgico, estamos no tempo do Advento (vinda, chegada), que é o período de quatro semanas que antecedem o Natal, no qual a Igreja Católica faz a preparação espiritual para a celebração do nascimento de Cristo.  Esta coluna também dedicará as próximas semanas para a festa do Natal. 

O Advento chegou! – Começamos a partir de agora, com maior intensidade, a nos prepararmos para o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, Aquele que na plenitude dos tempos nos foi enviado pelo Pai para a nossa salvação. 

Tempo de preparação – “Plenitude dos tempos” é uma expressão que surgiu a partir do uso do relógio de água ou de areia: um cilindro cheio de água ou de areia deixava pingar regularmente, por um pequeno orifício, o seu conteúdo dentro de outro cilindro vazio. Quando este ficava cheio, dizia-se que o tempo estava preenchido ou que a plenitude do tempo havia chegado. São Paulo lança mão da mesma expressão para designar o tempo preparado pela Providência Divina para a vinda do Salvador do mundo. A expressão, contudo, não quer significar que havia chegado o tempo em que a humanidade estava a tal ponto aperfeiçoada e em ótimas condições éticas para receber o Messias. Muito pelo contrário.  

Cenário – As cartas Paulinas e o próprio Evangelho, em diversas passagens, demonstram como era triste o cenário pelo qual passava a humanidade: o mundo greco-romano estava voltado à idolatria, entregue a todo tipo de perversão moral (Veja Rm 1, 23-27); o povo judeu, por outro lado, não era idólatra, mas se engrandecia frente aos pagãos, julgando-se “condutor de cegos”, quando ele mesmo estava sujeito a graves faltas (cf. Rom 2, 17-24). Além disso, dividia-se em vários partidos: fariseus, saduceus, herodianos, zelotes, sicários... Enfim, a humanidade encontrava-se em baixo nível moral e filosófico, presa a erros doutrinários, ecleticismo, ceticismo e vícios morais. 

Salvação – E foi exatamente tal época que o Senhor Deus quis escolher para enviar seu Filho ao mundo: não para ser o “verniz” de uma humanidade bem estruturada e satisfeita consigo mesma, mas para preencher o vazio dos homens, cansados de procurar uma resposta para os seus anseios. Jesus Cristo veio para responder aos anseios mais profundos do ser humano, desejoso de Verdade, Amor, Felicidade, Vida. 

Tempo de reflexão – Dezembro nos faz reviver a celebração do Natal e esse tempo de espera deve nos impulsionar a procurar o significado mais profundo de todo aquele aparato visível que cerca a celebração do nascimento do Menino Jesus: os presentes, a árvore, o presépio... 

Celebração do Amor – Celebrar o Natal é muito mais do que folclore: é um evento fundamental da história da humanidade, no qual celebramos o Amor que primeiro nos amou (1Jo 4, 19) e que nos criou para fazer-nos companheiros da Sua vida bem-aventurada. No Natal, celebramos o mesmo Amor que, recriando-nos pelo mistério da Encarnação, santificou a nossa existência cotidiana fazendo da morte a passagem para a VIDA.  

Mensagem – Talvez seja muito difícil ou quase impossível para nós, hoje, avaliarmos todo o alcance da mensagem trazida por Jesus. Talvez até, depois de vinte séculos, ela possa ter ficado empalidecida... Contudo, o tempo do Advento é o momento oportuno para tomar nova consciência do seu imenso valor, que ultrapassa qualquer expectativa humana, por mais ousada que seja. 

Renascimento na fé – Advento é tempo de preparação para renascer espiritualmente no Natal, recomeçando com mais maturidade a nossa vida na fé e aproveitando mais uma preciosa oportunidade oferecida pela graça de Deus. Advento é tempo de refletir que somos caminheiros, chamados por Alguém (que não falha) para a Vida e, Vida plena.  

Maria – Seja Maria Santíssima nosso modelo de esperança, de serviço, de entrega total a Deus: “Faça-se em mim, segundo a Vossa Vontade”. Sejamos como uma semente que vai desabrochando aos poucos, até atingir a sua grande estatura. Aproveitemos o tempo de preparação, pois o Senhor vem!