Neste
final de semana, a Liturgia celebra a Festa de São Pedro e São Paulo e o
Evangelho de domingo apresenta um diálogo entre Pedro e Jesus, quando este
entrega as “chaves do céu” àquele que se tornaria o primeiro papa. Embora não
apareçam no texto sagrado, as palavras latinas do título acima (Quo vadis,
Domine?) têm uma relação direta com o martírio de São Pedro, certamente uma das
mais emocionantes histórias do cristianismo.
Atos de Pedro –
Toda a história é narrada no livro “Atos de Pedro”, um dos mais antigos livros apócrifos
do Novo Testamento. Conhecido por sua descrição de uma competição de milagres
entre São Pedro e Simão Mago, também é o primeiro registro da tradição, de que
São Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. O texto foi escrito
originalmente em grego, durante o século II d.C., provavelmente na Ásia Menor.
O texto –
De acordo com os “Atos de Pedro”, no ano de 64 d.C., o imperador Nero começou
um perseguição contra os cristãos. Temendo que São Pedro caísse nas garras do
imperador, os primeiros cristãos o aconselhavam a sair de Roma para se
proteger. Pedro ficou indeciso: ficar e correr o risco de desaparecer junto com
a Igreja nascente ou fugir para a Galileia ou Tiberíades e proclamar, bem longe
de Roma, as verdades de Cristo?
Fugir de Roma –
Pedro optou por sair de Roma. Nas primeiras horas da madrugada, disfarçados e
envoltos pelas sombras, Pedro e Nazário, servo fiel, tomaram o rumo da Via
Appia (principal estrada de acesso a Roma), em direção perdida. E andaram a
passo rápido, ainda que o bastão do velho apóstolo tendesse a escorregar sobre
as pedras polidas e entrelaçadas da via, assustando-se por qualquer ruído,
temerosos ainda mais do silêncio opressivo.
Visão –
Pela manhã, ao cruzar a Porta Latina da cidade, Pedro enxergou uma luz muito
forte, vindo em sua direção. Quando a luz se aproximou, ele reconheceu Jesus
Cristo, carregando uma cruz. Diante de Cristo, Pedro deixa cair o bastão, se
ajoelha, levanta os braços e diz: “Quo vadis, Domini?” (Aonde vais, Senhor?). E
Cristo lhe responde: ”Romam vado iterum crucifigi” (Vou a Roma para ser
crucificado novamente).
Volta a Roma –
Pedro compreendeu, então, que seu lugar era em Roma, entre seus cristãos
perseguidos, a exemplo de Cristo, o Bom Pastor, que dera a vida pelas ovelhas
de seu rebanho. Envergonhado de sua atitude, Pedro voltou para Roma, para
continuar o seu ministério e, como descreve os “Atos de Pedro”, acabou sendo
preso e crucificado pelo imperador Nero, porém, de cabeça para baixo, em sinal
de humildade.
Quo Vadis –
No mundo atual, num ambiente de competição, incerteza e inovação contínua, a
expressão “Quo Vadis” ganhou o sentido de “Para onde ir”. Também acabou se
tornando o título do famoso romance do polonês Henryk Sienkiewicz (1896), que
deu origem ao belíssimo filme “Quo vadis”, seguido de outros dois filmes
homônimos.
Bento XVI –
Recentemente, na renúncia do Papa Bento XVI, a expressão “Quo Vadis” foi
relembrada, por causa da semelhança dos fatos ocorridos com Pedro e o Papa.
Alguns textos na imprensa imaginavam a cena de Bento XVI, deixando Roma rumo a Castel
Gandolfo, avistando Jesus e, desta vez, o Mestre perguntando: “Quo vadis,
domine?”. À indagação, o papa emérito responderia: “Deixo o ofício que o Senhor
me confiou, para o bem da Igreja”. Na verdade, essa resposta, em oração, foi
realmente dada ao divino fundador da Igreja Católica.
Túmulo de Pedro –
As comemorações de São Pedro, no dia 29 de junho, devem-se não à data de sua
morte, mas a descobertas relativamente recentes. A partir da década de 1950, foram
feitas escavações na Basílica de São Pedro, realizadas por uma equipe chefiada
pela arqueóloga italiana Margherita Guarducci. Ali foi encontrado o túmulo de
Pedro e as pesquisa concluíram que a data real do martírio seria 13 de outubro
de 64 d.C. A data de 29 de junho, marca o dia do translado dos restos mortais
de Pedro para o túmulo.
Fico Curioso? –
Se você gostou do assunto e quer ler mais, podemos lhe oferecer: o texto apócrifo
“Atos de Pedro”, o resumo do livro “Quo Vadis” de autoria de Henryk
Sienkiewicz e o texto “A lenda sobre São
Pedro não se aplica ao caso do papa Bento XVI” de autoria de Edson Luiz
Sampel.