sábado, 15 de junho de 2013

Por que se afirma que Maria Madalena era prostituta?


O Evangelho deste domingo apresenta o encontro de Jesus com a mulher pecadora que, arrependida de suas faltas, procura o perdão banhando os pés de Jesus com perfume e enxugando-os com os próprios cabelos. Durante dois mil anos, os cristãos associaram a imagem dessa mulher, considerada prostituta, com a de Maria Madalena. Por que isso se deu? 

Prostituta? – A ideia que temos de Maria Madalena é de uma mulher charmosa, de longos cabelos, atormentada por seus pecados e que de algum modo representa a imagem penitencial da Igreja. Nos quadros e obras de arte, ela sempre aparece com roupas provocantes, um manto vermelho, cabelos soltos, ajoelhada junto à cruz ou atirada devotamente aos pés de Jesus. Porém, quando vamos procurar no Novo Testamento a existência da pecadora Madalena, nada encontramos. Não encontramos nem um episódio que descreva a imagem da prostituta que conhecemos. De onde teria surgido essa história? 

Madalena – A primeira vez que Maria Madalena aparece é na metade do Evangelho de Lucas. Jesus viajava com seus doze apóstolos e algumas mulheres, que haviam sido curadas de “maus espíritos”; entre elas estava Maria Madalena (Lc 8, 2-3). Maria era o nome mais comum no tempo de Jesus, por isso, quando se nomeava alguma Maria, juntava-se alguma designação: “Maria, esposa de”, ou “Maria, mãe de”, ou “Maria, irmã de”. Neste caso, se diz “Madalena” porque ela havia nascido num povoado chamado “Magdala”, ou seja, Madalena não era um nome, mas um apelido referente ao seu lugar de origem. 

No Evangelho – A segunda vez em que Madalena aparece é no momento da crucificação de Jesus; ela está presente com as “outras” Marias e Salomé. A terceira vez que aparece nos Evangelhos é na retirada de Jesus da cruz, junto com José de Arimateia. A quarta vez é na madrugada do domingo de Páscoa, quando foi visitar o túmulo de Jesus. Maria Madalena é mencionada uma quinta vez, quando, ao sair do sepulcro, tem um fascinante encontro com Cristo ressuscitado.   

Razões – Que razões teriam levado à identificação de Madalena como prostituta? A primeira explicação está no final do capítulo 7 do Evangelho de Lucas, lido neste final de semana. Jesus foi comer na casa de um fariseu chamado Simão. Quando estava na mesa, apareceu uma mulher pecadora, que lavou os pés dele com lágrimas e os enxugou com os próprios cabelos. O dono da casa reconheceu a mulher como prostituta e assustou-se ao ver que Jesus se deixou ser tocado por ela. Na sequência do texto, inicia-se o capítulo 8 de Lucas, que menciona o nome de Madalena (Lc 8,1-3) Os cristãos relacionaram os textos, ligando a imagem da prostituta à de Madalena. 

Outro engano – No Evangelho de Marcos é apresentada a história de que Jesus, na cidade de Betânia, encontrou-se com uma mulher que derramou um frasco de perfume em sua cabeça. Esta mulher, por fazer algo semelhante à pecadora (de Lucas) foi também identificada como Maria Madalena. Assim, as três mulheres (Maria Madalena que seguia Jesus, a pecadora anônima e a mulher de Betânia) passaram a ser uma só pessoa, identificada como Maria Madalena.  

Mais enganos – No Evangelho de João, capítulo 4, Jesus se encontra (junto ao poço de Jacó) com uma promíscua samaritana, que já havia se relacionado com seis maridos. Embora o Evangelho não apresente qualquer identificação desta samaritana, ela também foi nomeada como Maria Madalena. O maior de todos os enganos relaciona-se ao capítulo 8 do Evangelho de João: a mulher surpreendida em adultério, prestes a ser apedrejada pelos judeus, também foi identificada como Maria Madalena. 

A Igreja – Muitos Papas e Santos da Igreja se opuseram a este erro histórico dentro da Igreja, entre eles, Santo Agostinho (século IV) e Santo Ambrósio (século IV). Mas o Papa Gregório Magno, numa célebre homilia pronunciada em 14 de setembro do ano 591, afirmou: “Pensamos que aquela a quem Lucas denomina pecadora e que João chama de Maria, designa essa Maria de quem foram expulsos sete demônios”. Assim, a partir do século VII a Igreja passou a sustentar, unanimemente, que as três mulheres eram uma só. 

Estudos atuais – Atualmente, num estudo mais detalhado, os exegetas, têm repudiado essa identificação, sustentando que são três pessoas distintas: a primeira (Lc 8,1-3) é Maria Madalena, que não tinha uma vida pecadora, mas “os sete demônios” (que se referem a alguma enfermidade); a pecadora pública (Lc 7, 36-50) é uma segunda mulher, que lava os pés de Jesus com lágrimas e enxuga com os cabelos, na tentativa de buscar perdão dos pecados; e a terceira mulher (distinta das duas primeiras) derrama perfume na cabeça de Jesus (Mc 14, 3-9).

Nenhum comentário:

Postar um comentário