O Evangelho deste domingo coloca-nos no ambiente de um banquete
em casa de um fariseu. Deve tratar-se da refeição solene de sábado, que se tomava
por volta do meio-dia, na volta da sinagoga, para a qual eram convidados
hóspedes. Durante a refeição, discutia-se as leituras escutadas durante o
ofício sinagogal.
Fariseus – Os fariseus formavam um dos
principais grupos religioso-político da sociedade palestina dessa época.
Dominavam os ofícios sinagogais e estavam presentes em todos os passos
religiosos dos israelitas. A sua preocupação fundamental era transmitir a todos
o amor pela Torah (cinco primeiros livros da Bíblia), quer escrita, quer oral.
Tratava-se de um grupo sério, verdadeiramente empenhado na santificação do Povo
de Deus; mas, ao absolutizarem a Lei, esqueciam as pessoas e passavam por cima
do amor e da misericórdia. Consideravam-se “puros” e desprezavam o povo do país,
que por causa da ignorância e da vida dura que levava, não podia cumprir
integralmente os preceitos da Lei.
Banquete – Conscientes das suas capacidades,
da sua integridade e superioridade, não eram propriamente modelos de humildade.
Isso talvez explique o ambiente de luta pelos lugares de honra que o Evangelho faz
referência. É bom lembrar, que estamos no contexto de um “banquete”. O “banquete”,
no mundo semita, é o espaço do encontro fraterno, o lugar onde os convivas partilham
do mesmo alimento e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade,
de irmandade. Jesus aparece, muitas vezes, envolvido em banquetes, não porque
fosse “comilão e beberrão”, mas porque, ao ser sinal de comunhão, de encontro,
de familiaridade, o banquete anuncia a realidade do “reino”.
Reino – As palavras que Jesus dirigiu aos
convidados que disputavam os lugares de honra não era exatamente uma novidade,
pois já o Antigo Testamento aconselhava a não ocupar os primeiros lugares. Mas
o que era uma exortação moral no Antigo Testamento, nas palavras de Jesus
converte-se numa apresentação do “Reino” e da lógica do “Reino”: o “Reino” é um
espaço de irmandade, de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço,
que exclui qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, de
domínio sobre os outros; quem quiser entrar nele, tem que se fazer pequeno,
simples, humilde e não ter pretensões de ser melhor, mais justo ou mais
importante do que os outros.
Lógica do Reino
– Jesus põe em evidência
– em nome da lógica do “Reino” – a prática de convidar para o banquete apenas
os amigos, os irmãos, os parentes, os vizinhos ricos. Os fariseus escolhiam
cuidadosamente os seus convidados para suas refeições: não era conveniente convidar
alguém de “nível menos elevado”, pois a “comunidade de mesa” criava vínculo
entre os convidados e não era interessante estabelecer laços com gente “desclassificada
e pecadora” (por exemplo, nenhum fariseu se sentava à mesa com alguém
pertencente ao “povo da terra”, desclassificado e pecador).
Retribuição – Por outro lado, também os
fariseus tinham a tendência – própria de todas as pessoas, de todas as épocas e
culturas – de convidar aqueles que podiam retribuir da mesma forma… A questão é
que, dessa forma, tudo se tornava um intercâmbio de favores e não gratuidade e
amor desinteressado.
Convidados – Jesus denuncia – em nome do
“Reino” – esta prática; mas vai mais além e apresenta uma proposta
verdadeiramente subversiva… Segundo Ele, é preciso convidar “os pobres, os
aleijados, os coxos e os cegos”. Os cegos, coxos e aleijados eram considerados
pecadores notórios, amaldiçoados por Deus e por isso estavam proibidos de
entrar no Templo (2Sm 5,8), para não profanar esse lugar sagrado (Lv 21,18-23).
No entanto, são esses que devem ser os convidados para o “banquete”.
Verdadeiro
banquete – Já percebemos que,
aqui, Jesus já não está simplesmente falando dessa refeição comida em casa de
um fariseu, na companhia de gente distinta; mas está falando daquilo que esse
“banquete” anuncia e prefigura: o banquete do “Reino”.
Perfil do Reino
– Jesus traça,
portanto, os contornos do “Reino”: ele é como um “banquete”, no qual os
convidados estão unidos por laços de familiaridade, de irmandade, de comunhão.
Para esse “banquete”, todos – sem exceção – são convidados (inclusive aqueles
que a cultura social e religiosa tantas vezes exclui e marginaliza). As
relações entre os que aderem ao banquete do “Reino” não serão marcadas pelos
jogos de interesses, mas pela gratuidade e pelo amor desinteressado; e os
participantes do “banquete” devem despir-se de qualquer atitude de superioridade,
de orgulho, de ambição, para se colocarem numa atitude de humildade, de
simplicidade, de serviço.