Ambiente – O episódio do
Evangelho deste domingo apresenta Jesus a caminho de Jerusalém, no final de sua
pregação. Situa-se em outubro/novembro do ano 29, portanto, quatro meses antes
da Paixão (lembremos que Jesus foi crucificado e morreu no dia 7 de abril do
ano 30). Ele estava percorrendo os povoados com os seus discípulos, quando alguém
não identificado lança a seguinte questão: “Senhor, são poucos os que se
salvam?”
Apocalipse: este livro destoa? – Até a época de Jesus, jamais um escritor
sagrado se atrevera a predizer o número de pessoas que se salvariam no fim do
mundo. Nem sequer São Paulo, que se refere ao tema em várias ocasiões, se
animou a fazê-lo. Contudo, no Apocalipse (7,4), o autor tem uma visão, na qual contempla
o número de 144 mil. Em Ap 14,1, esse número é confirmado, predizendo que serão
resgatados por Jesus Cristo. Mas, como o autor do Apocalipse fixou esse número,
se o próprio Jesus não deu informações sobre esse assunto?
Uma pergunta que
incomoda – Depois de tanto esforço por parte de Deus
em ajudar os homens, por que tão poucos serão beneficiados com esta salvação?
Números simbólicos
– Atualmente, nenhum estudioso sério da Bíblia admite
que o número 144.000 corresponda a uma quantidade exata, já que estão de acordo
que se trata de um número simbólico. O número 1.000 significa “muito”. Seria o
mesmo que disséssemos: “eu falei mil vezes para você não fazer isso!”. O mesmo acontece com as idades do
patriarcas: Adão viveu até 930 anos; ou, Noé tinha 600 anos quando
começou o Dilúvio; ou ainda, Matusalém gerou seu filho Lamec aos 187 anos! É
evidente que essas idades não são reais, mas foram deliberadamente exageradas,
para simbolizar a bênção de Deus com uma longa vida terrena.
Números absurdos – Se tomarmos ao pé da letra os números do Êxodo, seriam três milhões de
pessoas que peregrinaram por 40 anos no deserto, número jamais alcançado pela população
de Israel em toda a sua história. O exército que perseguiu o povo pelo deserto
teria 60 mil fileiras por uma extensão de 60 quilômetros. Se somarmos todas as
pessoas (povo e exército), eles cobririam a distância total do Egito ao Sinai...
Resumindo: esses números não expressam quantidades reais.
E os 144 mil? João escreve no Apocalipse
que somos o novo povo, libertado com o sangue de Cristo. E quantos seriam esses
novos libertados? Ele o diz com um novo número simbólico: 144.000. Com efeito,
esta cifra é produto de 12x12x1.000. Que significado tem esta quantidade? Na
Bíblia, o número 12, aplicado às pessoas, sempre significa “os eleitos”. Assim,
as doze tribos eleitas de Israel, os doze apóstolos eleitos, as doze portas da
nova Jerusalém, por onde entrariam os eleitos (Ap 21, 22). Portanto, afirmar
que se salvarão 144 mil equivale a dizer que se salvarão os eleitos do Antigo
Testamento (12) e os eleitos do Novo Testamento (x 12), em uma grande
quantidade (x 1.000).
Mais que 144 mil – João, no entanto, sempre
desejoso de ser bem interpretado, apesar de usar uma linguagem simbólica,
acrescenta a seguir: “Depois olhei e eis uma grande multidão que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam diante do trono
e do Cordeiro, vestidos de túnicas brancas e com palmas nas mãos” (Ap 7, 9).
Isso quer dizer que não são somente os 144 mil os salvos, mas os que formam um
povo incalculável, impossível de se contar e provenientes dos mais diferentes lugares.
Salvação absurda – Alguns anos atrás, alguns
cientistas alemães calcularam quantas pessoas já teriam vivido na Terra, até os
nossos dias. O resultado chegava a um total de 77 milhões de seres humanos. Supondo
que o fim do mundo chegasse agora e fossem salvos somente 144.000, então somente
0,0001% da população mundial se salvaria. Esse tipo de pensamento contraria
toda a Revelação, pois transforma o plano de salvação de Deus no maior fracasso
jamais programado. Interpretar literalmente a cifra 144.000 implica não só desconhecer
a Bíblia, mas também, e o que é mais grave, desconhecer e menosprezar o poder
salvador de Deus.
Salvação – Felizmente a Palavra de
Deus é mais otimista do que muitos agourentos apocalípticos que, fixando um número
exato de libertados, pretendem atemorizar o povo e forçá-lo a converter-se. Nem
a Bíblia, nem a Igreja, nada pode fechar num modesto número dos que se
salvarão. Queremos saber quantos são? Isso cada um tem de responder com sua
própria vida.
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