sábado, 10 de agosto de 2013

Vigiai e estai preparados


A Palavra de Deus que a liturgia deste domingo nos propõe convida-nos à vigilância: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e para construir o “Reino”. O Evangelho das missas deste domingo começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos devem procurar e que não está nos bens deste mundo: trata-se do “Reino” e dos seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”? A resposta é dada em três “parábolas”, que apelam à vigilância. 

A primeira parábola convida a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas (o que parece aludir a Ex 12,11 e à noite da primeira Páscoa, celebrada de pé e “com os rins cingidos”, antes da viagem para a liberdade), como homens que esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Os que creem são, assim, convidados a estarem preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer e que os levará da terra da escravidão para a terra da liberdade; e são também convidados a acolherem “o noivo” (Jesus) que veio propor à “noiva” (a humanidade) a comunhão plena com Deus (a “nova aliança”, representada na teologia judaica através da imagem do casamento). 

A segunda parábola aponta para a incerteza da hora em que o Senhor virá. A imagem do ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem estranha para falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem. 

A terceira parábola parece dirigir-se aos responsáveis da comunidade, que devem permanecer fiéis às suas tarefas de animação e de serviço: se algum deles descuida de suas responsabilidades no serviço aos irmãos e usa as funções que lhe foram confiadas de forma negligente ou em benefício próprio, será castigado. A última afirmação (“a quem muito foi dado, muito será exigido, a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá – vers. 48b) é claramente dirigida aos responsáveis da comunidade; mas pode aplicar-se a todos os que receberam dons materiais ou espirituais. 

Reflexão – O Evangelho nos propõe refletir que:

♦ A vida dos discípulos de Jesus precisa ser uma espera vigilante e atenta, pois o Senhor, permanentemente, vem ao nosso encontro e nos desafia a nos despirmos das cadeias que nos escravizam e a percorrermos, com Ele, o caminho da libertação. O que é que nos distrai, que nos prende, que nos aliena e que nos impede de acolher esse dom contínuo de vida?

♦ Ser cristão não é um trabalho “das 8 às 18h”, ou um “hobby” de fim-de-semana; é um compromisso em tempo integral, que deve marcar cada pensamento, cada atitude, cada opção, vinte e quatro horas por dia… Estou consciente dessa exigência e suficientemente atento para marcar, com o selo do meu compromisso cristão, todas as minhas ações e palavras?

♦ Viver a Palavra é um constante desafio Estou suficientemente atento e disponível para acolher e responder aos apelos que Deus me faz e aos desafios que se apresentam através das necessidades dos irmãos? Estou suficientemente atento e disponível para escutar os sinais, através dos quais Deus me apresenta as suas propostas?

♦ Por vezes, os discípulos de Jesus manifestam a convicção de que tudo vai de mal a pior, que esta geração de tão poucos valores está perdida e que não é possível fazer mais nada para tornar o mundo mais humano e mais feliz… Isso não será, apenas, uma forma de mascararmos o nosso egoísmo e comodismo e de nos recusarmos a ser protagonistas empenhados na construção desse “Reino” que é o tesouro mais valioso?

♦ A Palavra de Deus deste final de semana contém uma indagação especial a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade, quer na Igreja, quer no governo, quer nas autarquias, quer nas empresas, quer nas repartições… Convida cada um a assumir as suas responsabilidades e a desempenhar, com atenção e empenho as funções que lhe foram confiadas. A todos aqueles a quem foi confiado o serviço da autoridade, a Palavra de Deus pergunta sobre o modo como nos comportamos: como servos que, com humildade e simplicidade cumprem as tarefas que lhes foram confiadas, ou como ditadores que manipulam os outros a seu bel‑prazer? Estamos atentos às necessidades – sobretudo dos pobres, dos pequenos e daqueles que são frágeis – ou nos instalamos no egoísmo e no comodismo e deixamos que as coisas se arrastem, sem entusiasmo, sem vida, sem desafios, sem esperança?

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