sábado, 14 de setembro de 2013

A Bíblia proíbe fazer imagens?


Na primeira leitura das missas deste domingo (Ex 32,7-11), o Senhor fala a Moisés que o povo se corrompeu, prostrando-se e oferecendo sacrifícios a um bezerro de metal. Deus realmente condena fazer imagens? Está proibido na Bíblia? 

O mandamento que falta – Se verificarmos a lista dos Dez Mandamentos contida em Êxodo 20, iremos ver que o segundo mandamento tem o seguinte texto “Não farás para ti ídolos, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, nem embaixo, na terra, nem do que existe nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento...” (Ex 20,4-5). 

Que dizia a Lei – Se continuamos lendo a Bíblia, isso parece confirmar-se: o Levítico ordena que não se façam ídolos, imagens, nem pedras esculpidas para ajoelhar-se diante delas (Lv 26,1); Deuteronômio (4, 16-18) alerta sobre o mesmo tema e isso era tão grave que se penalizava com uma maldição aquele que o fizesse (Dt 27,15). 

Ordens de Deus – No entanto, em várias passagens bíblicas do Antigo Testamento as imagens eram permitidas. Em alguns casos, Deus mesmo ordenou a construção de imagens sagradas: mandou fabricar a arca da aliança com um querubim de ouro de cada lado (Ex 25,18); o candelabro de sete braços, no interior da Tenda Sagrada, tinha gravadas flores de amendoeira (Ex 31,1-5). Gedeão fabricou uma figura de Javé, a quem os israelitas prestavam culto (Jz 8,24-27). Micas construiu uma efígie de prata de Javé e um santuário para prestar-lhe culto (Jz 18,31). Até o próprio rei Davi tinha imagens divinas em casa (1Sm 19,11-13). 

Um templo sem preconceitos – E que dizer do majestoso templo de Jerusalém, construído por Salomão? Pelas descrições bíblicas, parece que estava abarrotado de representações e esculturas (1Rs 6,23). O interior estava totalmente decorado com imagens de querubins, vegetais (1Rs 6,29) e doze magníficos touros de metal (1Rs 7,25). Os recipientes para as abluções litúrgicas estavam revestidos com imagens de leões, bois e querubins (1Rs 7,29). Tudo com o consentimento do próprio Deus. 

Nem uma só voz - E apesar daquele segundo mandamento, nunca encontramos na Bíblia um só profeta antigo que censure as imagens. Eles, que eram os sentinelas de Deus, que erguiam a voz diante de todo pecado do povo, que não permitiam o menor desvio, guardaram silêncio durante séculos. 

Plenitude dos tempos - Então chegou o tempo em que o próprio Deus, que se mantivera invisível, quis fazer-se imagem, para que todos pudessem contemplá-lo. E se, na antiga Aliança tinha se revelado ao povo sem imagem, na nova Aliança considerou ser imprescindível ter uma e ser visto. Por isso, quis achegar-se aos homens através de uma figura, a de Cristo, para que o ouvissem, o tocassem e o sentissem. 

Novo Testamento – São Paulo, que vivera durante algum tempo cumprindo a lei antiga, compreendeu muito bem isso, ao falar de “Cristo, a imagem de Deus” (2Cor 4,4). E, num belo hino, canta que Cristo é a imagem do Deus invisível (Cl 1,15). Falando, um dia, com o apóstolo Felipe, Jesus já o antecipara: “Quem me viu a mim, viu o Pai” (Jo 14,8). Portanto, se o próprio Deus quis deixar de permanecer oculto e fazer-se ver numa imagem, quem somos nós para proibir de representá-lo?  

E o Mandamento? – Como se vê, o mandamento (Ex 20, 4-5) sobre as imagens no Antigo Testamento tinha uma função pedagógica e, portanto, temporal. Assim entenderam os cristãos, desde tempos antigos: quando enumeravam os mandamentos, pulavam sempre o segundo, ao passo que desdobravam o último em dois para que continuassem sendo dez. As listas de mandamentos que nos chegaram escritas, do século IV, já não incluem a proibição das imagens. Por isso chama a atenção que as seitas modernas tentem conservá-la. 

Lutero – Os protestantes, quando se separaram da Igreja Católica, no século XVI, reagiram contra os excessos no culto das imagens e provocaram a destruição de muitas delas. No entanto, Lutero não foi tão intolerante. Ao contrário, reconheceu a importância que elas tinham. Numa carta, datada de 1528, escreveu: “Penso que, no que diz respeito às imagens, símbolos e vestes litúrgicas... e coisas semelhantes, deixe-se à livre escolha. Quem não quiser essas coisas, deixe-as de lado. Se bem que as imagens inspiradas na Bíblia ou em histórias edificantes, parecem-me ser muito úteis”. Lutero percebeu muito bem a essência da questão: não se trata de adorar uma imagem, mas sim de adorar a Deus. 

Quer ler mais – O artigo acima é baseado no texto “A Bíblia proíbe fazer imagens? de autoria do teólogo Ariel Álvares Valdés. Se você se interessou pelo assunto, podemos lhe enviar o texto original (10 páginas em português) e a carta de Martinho Lutero (2 páginas em português) sobre imagens, escrita em 1528. Também disponibilizamos o texto “Os católicos adoram imagens?”, de autoria do Pe. Milton Carraschi, publicado nesta coluna no ano 2000. Solicite por E-mail.

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