Na primeira leitura das missas deste domingo (Ex 32,7-11), o
Senhor fala a Moisés que o povo se corrompeu, prostrando-se e oferecendo
sacrifícios a um bezerro de metal. Deus realmente condena fazer imagens? Está
proibido na Bíblia?
O mandamento
que falta – Se verificarmos a
lista dos Dez Mandamentos contida em Êxodo 20, iremos ver que o segundo
mandamento tem o seguinte texto “Não
farás para ti ídolos, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, nem
embaixo, na terra, nem do que existe nas águas, debaixo da terra. Não te
prostrarás diante deles, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu
Deus, um Deus ciumento...” (Ex 20,4-5).
Que dizia a Lei
– Se continuamos lendo
a Bíblia, isso parece confirmar-se: o Levítico ordena que não se façam ídolos,
imagens, nem pedras esculpidas para ajoelhar-se diante delas (Lv 26,1); Deuteronômio
(4, 16-18) alerta sobre o mesmo tema e isso era tão grave que se penalizava com
uma maldição aquele que o fizesse (Dt 27,15).
Ordens de Deus – No entanto, em várias passagens
bíblicas do Antigo Testamento as imagens eram permitidas. Em alguns casos, Deus
mesmo ordenou a construção de imagens sagradas: mandou fabricar a arca da
aliança com um querubim de ouro de cada lado (Ex 25,18); o candelabro de sete
braços, no interior da Tenda Sagrada, tinha gravadas flores de amendoeira (Ex
31,1-5). Gedeão fabricou uma figura de Javé, a quem os israelitas prestavam
culto (Jz 8,24-27). Micas construiu uma efígie de prata de Javé e um santuário
para prestar-lhe culto (Jz 18,31). Até o próprio rei Davi tinha imagens divinas
em casa (1Sm 19,11-13).
Um templo sem
preconceitos – E que dizer do
majestoso templo de Jerusalém, construído por Salomão? Pelas descrições
bíblicas, parece que estava abarrotado de representações e esculturas (1Rs 6,23).
O interior estava totalmente decorado com imagens de querubins, vegetais (1Rs
6,29) e doze magníficos touros de metal (1Rs 7,25). Os recipientes para as abluções
litúrgicas estavam revestidos com imagens de leões, bois e querubins (1Rs
7,29). Tudo com o consentimento do próprio Deus.
Nem uma só voz
- E apesar daquele
segundo mandamento, nunca encontramos na Bíblia um só profeta antigo que
censure as imagens. Eles, que eram os sentinelas de Deus, que erguiam a voz
diante de todo pecado do povo, que não permitiam o menor desvio, guardaram
silêncio durante séculos.
Plenitude dos
tempos - Então chegou o
tempo em que o próprio Deus, que se mantivera invisível, quis fazer-se imagem,
para que todos pudessem contemplá-lo. E se, na antiga Aliança tinha se revelado
ao povo sem imagem, na nova Aliança considerou ser imprescindível ter uma e ser
visto. Por isso, quis achegar-se aos homens através de uma figura, a de Cristo,
para que o ouvissem, o tocassem e o sentissem.
Novo Testamento
– São Paulo, que vivera
durante algum tempo cumprindo a lei antiga, compreendeu muito bem isso, ao
falar de “Cristo, a imagem de Deus” (2Cor 4,4). E, num belo hino, canta
que Cristo é a imagem do Deus invisível (Cl 1,15). Falando, um dia, com o
apóstolo Felipe, Jesus já o antecipara: “Quem me viu a mim, viu o Pai” (Jo
14,8). Portanto, se o próprio Deus quis deixar de permanecer oculto e fazer-se
ver numa imagem, quem somos nós para proibir de representá-lo?
E o Mandamento?
– Como se vê, o
mandamento (Ex 20, 4-5) sobre as imagens no Antigo Testamento tinha uma função
pedagógica e, portanto, temporal. Assim entenderam os cristãos, desde tempos
antigos: quando enumeravam os mandamentos, pulavam sempre o segundo, ao passo
que desdobravam o último em dois para que continuassem sendo dez. As listas de
mandamentos que nos chegaram escritas, do século IV, já não incluem a proibição
das imagens. Por isso chama a atenção que as seitas modernas tentem
conservá-la.
Lutero – Os protestantes, quando se
separaram da Igreja Católica, no século XVI, reagiram contra os excessos no
culto das imagens e provocaram a destruição de muitas delas. No entanto, Lutero
não foi tão intolerante. Ao contrário, reconheceu a importância que elas tinham.
Numa carta, datada de 1528, escreveu: “Penso que, no que diz respeito às
imagens, símbolos e vestes litúrgicas... e coisas semelhantes, deixe-se à livre
escolha. Quem não quiser essas coisas, deixe-as de lado. Se bem que as imagens inspiradas
na Bíblia ou em histórias edificantes, parecem-me ser muito úteis”. Lutero
percebeu muito bem a essência da questão: não se trata de adorar uma imagem,
mas sim de adorar a Deus.
Quer ler mais – O artigo acima é baseado no texto
“A Bíblia proíbe fazer imagens? de autoria do teólogo Ariel Álvares Valdés. Se
você se interessou pelo assunto, podemos lhe enviar o texto original (10
páginas em português) e a carta de Martinho Lutero (2 páginas em português)
sobre imagens, escrita em 1528. Também disponibilizamos o texto “Os católicos
adoram imagens?”, de autoria do Pe. Milton Carraschi, publicado nesta coluna no
ano 2000. Solicite por E-mail.
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