Neste domingo, o
Evangelho relata o batismo de Jesus por João Batista. De acordo com Mateus, a presença de Jesus na fila de pecadores à
espera do batismo confundiu João Batista. Sendo o Mestre, o Messias esperado,
que sentido tinha fazer-se batizar, como se houvesse sido infiel a Deus? Por
outro lado, a atitude de Jesus não condizia com a crença messiânica, pregada
pelo Batista, que dizia ser o Messias um juiz inflexível, incapaz de
contemporizar com as fraquezas humanas. O gesto de Jesus inaugurava, assim, uma
forma diferente de messianismo, em nada parecida com os messianismos em voga.
Ele era o Messias-Filho, amado pelo Pai e plenamente disposto a cumprir a
vontade paterna. A dificuldade de João consistia em não saber lidar com a
imagem de um Deus tão misericordioso e próximo da humanidade decaída. Vejamos
suas razões para isso e como se deu o convívio de João e Jesus.
Situação
política, social e religiosa da época – No primeiro século da era cristã, a religião judaica havia caído num
profundo desinteresse, num profundo estado de abatimento moral e físico das
pessoas. A situação política opressora, que reinava no país, com o domínio do
Império Romano; a espera por um Salvador que não chegava nunca; a vida
escandalosa da classe governante e a degradação dos sacerdotes do Templo (mais
preocupados com seus próprios interesses) foi esfriando a devoção das pessoas e
desanimando a prática religiosa.
O clamor do deserto – Frente a este panorama, surge João (filho
único de Zacarias, sacerdote do Templo), um homem que buscou injetar novas
forças ao judaísmo decadente. Com sua linguagem implacável e dureza insensível
para um pregador, passou a convocar as pessoas para uma mudança de vida. Dizia
que o juízo de Deus era iminente e que, em muito pouco tempo, Deus iria
castigar com fogo todos os que não se arrependessem de seus pecados (Mt 3,7).
Deserto com água – As pessoas vinham de todas as regiões para
escutar suas pregações e ficavam impressionadas. A todos que aceitavam seus ensinamentos
e buscavam uma mudança de vida, João pedia como sinal de arrependimento um
banho exterior: o batismo, que ele pessoalmente ministrava no rio Jordão.
No Jordão – Toda a pregação de João se desenvolvia junto ao rio Jordão, o que lhe
permitia as cerimônias com água. Mas não tinha um lugar fixo. Às vezes se
instalava num braço do rio, próximo ao vilarejo de Betânia, na província da
Peréia (Jo 1,28). Outras vezes, mais ao norte, em Enon, próximo a Salim, na
Samaria (Jo 3,22). O Evangelho de Lucas afirma que João pregava em toda região
do rio Jordão (Lc 3,3), em busca de ouvintes para proclamar sua mensagem e
batizar.
Discípulos – Aos poucos, foi se formando ao redor do
Batista um pequeno grupo de discípulos que o acompanhava nas sessões batismais
(Jo 1, 28.35-37), ajudava nas pregações (Jo 3,23), recebia os ensinamentos mais
profundos (Jo 3,26-30), compartilhava sua espiritualidade asceta (Mc 2,18) e a
oração (Lc 11.1).
Jesus – No início do ano 27 d.C., Jesus viajou da cidade de Nazaré (na
Galiléia) até o vale do rio Jordão, para ver João. Ali, entre as áridas colinas
e vales da Judéia, Jesus pôde escutar a mensagem escatológica de João, que
podia ser resumida em três idéias: o fim do mundo está próximo; o povo de
Israel perdeu seu rumo e pode ser extinto pelo juízo de Deus; é necessário
mudar de vida, deixando-se batizar. Jesus aceitou a mensagem de João, como
muitos outros judeus, deixando-se batizar (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22).
O novo Mestre
– Os Evangelhos descrevem
que alguns discípulos de João Batista (André e outro, que se deduz ser Felipe)
reconheceram Jesus como Mestre e passaram a segui-Lo (Jo 1,35-37). Logo, esses
dois discípulos convidaram outros dois (Pedro e Natanael) para que eles se
juntassem ao novo mestre. Assim, Jesus
formou o seu grupo de discípulos, indo para a província da Judéia, onde também
batizava (Jo 3,22).
Jesus e João – Os Evangelhos mostram que Jesus integrou o
grupo de João Batista, convivendo algum tempo com ele (não se sabe quanto).
Depois, como Mestre, passou a empreender seu próprio ministério, com uma
metodologia própria, que diferenciava em três pontos de João Batista: não
anunciava o castigo iminente de Deus, mas a Sua misericórdia e amor; não
permanecia no deserto, mas percorria os povoados e aldeias de toda a Palestina;
não jejuava nem fazia abstinência de bebidas, mas comia e bebia com os
pecadores.
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