sábado, 8 de fevereiro de 2014

Vós sois o sal e a luz do mundo


O Evangelho das missas deste domingo (Mt 5, 13-16) é a continuação do texto de domingo passado. Após a apresentação das bem-aventuranças, Mateus reúne uma grande coleção de sentenças associadas a Jesus. Com o objetivo de doutrinar, ele reuniu didaticamente, ditos e sentenças dispersos, originários de palavras de Jesus, que circulavam livremente como tradição entre os cristãos. Vários desses ditos e sentenças aparecem espalhados ao longo dos outros evangelhos sinóticos (Marcos e Lucas). O conjunto forma o que se costuma denominar como "o Sermão da Montanha".

História – Mateus redige sua obra em um momento em que o judaísmo, após a destruição do Templo de Jerusalém (Guerra Judaica, no ano 70), busca sua identidade estrita e rigorosamente na observância da Lei. Sob esta decisão, os fariseus expulsaram das sinagogas os judeus convertidos ao cristianismo que, embora ameaçados, perseveravam em sua fé cristã.

Diferenças do Reino – Com a coletânea de sentenças do Sermão da Montanha, Mateus procura identificar, para as comunidades que vieram do judaísmo, as características do Reino dos Céus, diferenciando-as daqueles critérios de identidade que os fariseus exigiam. Daí vem a frequente repetição da expressão: “... foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo...", ao longo do Sermão.

Sal e Luz – As palavras de Jesus, escritas por Mateus, animam, encorajam e motivam os discípulos que são e serão insultados, perseguidos, maltratados por causa do anúncio e testemunho do Evangelho. Eles devem ter a consciência de que serão o sal da terra, que preserva a humanidade de todo mal, e a luz do mundo, que irradia a mensagem da Salvação para todos os povos, iluminando os caminhos. O v. 16 identifica esta luz com as boas obras.

Sal – Na Bíblia, esta é a única passagem em que o sal é usado em uma metáfora aplicada a pessoas. O sal tem efeito de purificar, curar, conservar e dar sabor. Assim, os discípulos têm uma grande responsabilidade para com todos os povos: mediante a proclamação do Evangelho e a conduta de vida têm a responsabilidade, o compromisso de preservar o mundo da corrupção e degradação espiritual, levando cada um a viver segundo a dignidade e a responsabilidade própria dos filhos de Deus. Os discípulos são chamados ao compromisso da fidelidade ao projeto de Deus. Se não contribuírem para o “sabor” do Evangelho, com o testemunho de vida, com coerência, serão desprezados pelo povo e recusados como pessoas “sem gosto, sem sabor” (insossos).

A luz – A luz é o admirável fenômeno físico que nos revela a natureza das coisas materiais. No âmbito das realidades espirituais, a luz identifica-se com a verdade. É pela verdade que alcançamos a realidade dos fatos e da vida, ocultados pela falsidade e pela mentira. Os discípulos devem difundir a luz do Evangelho para levar as pessoas à conversão; sobretudo com o bom exemplo e o testemunho de vida. A conduta edificante dos discípulos, sobretudo com a prática das boas obras, manifesta a ação de Deus no mundo, inaugurando o seu Reino de amor e paz.

Verdade – A alegria e a verdade são manifestações do amor que une os discípulos em comunidades e que irradiam, transformando o mundo. Na humildade e na confiança em Deus (primeira leitura), os discípulos são chamados a ser a luz que ilumina os caminhos e revela a verdade de Jesus. Todo homem que crê tem uma missão a desempenhar em favor dos outros homens, daqueles que não conhecem a Deus. O cristão, de fato, não pode fugir do mundo, esconder-se ou considerar a religião um assunto particular. Ele vive no mundo e tem uma responsabilidade, uma missão diante de todos os homens: ser a luz que ilumina. Esta missão está confiada a todos nós e, se não a cumprirmos, seremos inúteis como o sal que perdeu o sabor ou como a luz que se tornou sombra.


Reino – Ser o sal da terra e a luz do mundo é comprometer-se com o Reino dos Céus encarnado na história, no dia a dia. É partilhar com quem tem fome, acolher os pobres, vestir os nus. É praticar a justiça e a paz, que demovem os poderosos injustos e violentos. O cristão deve realizar boas obras com um espírito novo, aquele espírito que faz com que não seja mais ele a viver em si mesmo, mas Cristo nele. "Assim, qual novo amanhecer,... tua luz brilhará nas trevas". 

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