O Evangelho das missas deste domingo (Mt 5,
13-16) é a continuação do texto de domingo passado. Após a apresentação das bem-aventuranças,
Mateus reúne uma grande
coleção de sentenças associadas a Jesus. Com o objetivo de doutrinar, ele
reuniu didaticamente, ditos e sentenças dispersos, originários de palavras de
Jesus, que circulavam livremente como tradição entre os cristãos. Vários desses
ditos e sentenças aparecem espalhados ao longo dos outros evangelhos sinóticos (Marcos
e Lucas). O conjunto forma o que se costuma denominar como "o Sermão da
Montanha".
História
– Mateus redige sua
obra em um momento em que o judaísmo, após a destruição do Templo de Jerusalém
(Guerra Judaica, no ano 70), busca sua identidade estrita e rigorosamente na
observância da Lei. Sob esta decisão, os fariseus expulsaram das sinagogas os
judeus convertidos ao cristianismo que, embora ameaçados, perseveravam em sua
fé cristã.
Diferenças
do Reino – Com a
coletânea de sentenças do Sermão da Montanha, Mateus procura identificar, para
as comunidades que vieram do judaísmo, as características do Reino dos Céus, diferenciando-as
daqueles critérios de identidade que os fariseus exigiam. Daí vem a frequente
repetição da expressão: “... foi dito aos antigos... Eu, porém, vos
digo...", ao longo do Sermão.
Sal
e Luz – As palavras
de Jesus, escritas por Mateus, animam, encorajam e motivam os discípulos que
são e serão insultados, perseguidos, maltratados por causa do anúncio e
testemunho do Evangelho. Eles devem ter a consciência de que serão o sal da
terra, que preserva a humanidade de todo mal, e a luz do mundo, que irradia a
mensagem da Salvação para todos os povos, iluminando os caminhos. O v. 16
identifica esta luz com as boas obras.
Sal
– Na Bíblia, esta é a
única passagem em que o sal é usado em uma metáfora aplicada a pessoas. O sal
tem efeito de purificar, curar, conservar e dar sabor. Assim, os discípulos têm
uma grande responsabilidade para com todos os povos: mediante a proclamação do
Evangelho e a conduta de vida têm a responsabilidade, o compromisso de
preservar o mundo da corrupção e degradação espiritual, levando cada um a viver
segundo a dignidade e a responsabilidade própria dos filhos de Deus. Os
discípulos são chamados ao compromisso da fidelidade ao projeto de Deus. Se não
contribuírem para o “sabor” do Evangelho, com o testemunho de vida, com coerência,
serão desprezados pelo povo e recusados como pessoas “sem gosto, sem sabor”
(insossos).
A
luz – A luz é o
admirável fenômeno físico que nos revela a natureza das coisas materiais. No
âmbito das realidades espirituais, a luz identifica-se com a verdade. É pela
verdade que alcançamos a realidade dos fatos e da vida, ocultados pela
falsidade e pela mentira. Os discípulos devem difundir a luz do Evangelho para
levar as pessoas à conversão; sobretudo com o bom exemplo e o testemunho de
vida. A conduta edificante dos discípulos, sobretudo com a prática das boas
obras, manifesta a ação de Deus no mundo, inaugurando o seu Reino de amor e
paz.
Verdade
– A alegria e a
verdade são manifestações do amor que une os discípulos em comunidades e que
irradiam, transformando o mundo. Na humildade e na confiança em Deus (primeira
leitura), os discípulos são chamados a ser a luz que ilumina os caminhos e
revela a verdade de Jesus. Todo homem que crê tem uma missão a desempenhar em
favor dos outros homens, daqueles que não conhecem a Deus. O cristão, de fato,
não pode fugir do mundo, esconder-se ou considerar a religião um assunto
particular. Ele vive no mundo e tem uma responsabilidade, uma missão diante de
todos os homens: ser a luz que ilumina. Esta missão está confiada a todos nós
e, se não a cumprirmos, seremos inúteis como o sal que perdeu o sabor ou como a
luz que se tornou sombra.
Reino
– Ser o sal da terra
e a luz do mundo é comprometer-se com o Reino dos Céus encarnado na história,
no dia a dia. É partilhar com quem tem fome, acolher os pobres, vestir os nus.
É praticar a justiça e a paz, que demovem os poderosos injustos e violentos. O
cristão deve realizar boas obras com um espírito novo, aquele espírito que faz
com que não seja mais ele a viver em si mesmo, mas Cristo nele. "Assim,
qual novo amanhecer,... tua luz brilhará nas trevas".
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