No Evangelho das missas
deste domingo, Mateus (22,34-40)
descreve mais uma discussão entre Jesus e os fariseus. Para testá-lo perguntam:
"Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?". Jesus responde: “Amarás
o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o
teu entendimento e amarás teu próximo como a ti mesmo”. Para reflexão deste
Evangelho, reproduzimos o comentário do padre Raniero Cantalamessa, pregador da
Casa Pontifícia de Roma.
Espelho – “Amarás
teu próximo como a ti mesmo”. Acrescentando as palavras “como a ti mesmo”, Jesus
nos pôs diante de um espelho ao que não podemos mentir; deu-nos uma medida infalível
para descobrir se amamos ou não o próximo. Sabemos muito bem, em cada circunstância,
o que significa amar-nos a nós mesmos e o que queríamos que os outros fizessem
por nós. Jesus não diz, se se presta bem atenção: “o que o outro faz a ti, faça
a ele”. Isto seria a lei do talião: “Olho por olho, dente por dente”. Diz: o
que tu queres que o outro te faça, faça tu a ele (Mt 7, 12), que é bem
diferente.
Mandamento – Jesus
considerava o amor ao próximo como “seu mandamento”, aquele no qual se resume toda
a Lei. “Este é meu mandamento: que vos ameis uns aos outros assim como eu vos
amei” (Jo 15, 12). Muitos identificam todo o cristianismo com o preceito do
amor ao próximo, e não carecem de razão. Mas devemos tentar ir um pouco mais
além da superfície das coisas. Quando se fala de amor ao próximo, a mente vai
em seguida às “obras” de caridade, às coisas que há que fazer pelo próximo:
dar-lhe de comer, de beber, visitá-lo; em resumo, ajudar o próximo. Mas isto é
um efeito do amor, não é ainda o amor. Antes da beneficência vem a benevolência,
antes que fazer o bem, vem o querer bem.
Pureza – A
caridade deve ser “sem fingimento”, isto é, sincera (literalmente “sem
hipocrisia”, Rm 12, 9); deve-se amar “com coração puro” (1 Pd 1,22). Pode-se de
fato fazer a caridade e a esmola por muitos motivos que nada têm a ver com o
amor: para admoestar-se, para passar por benfeitor, para ganhar o paraíso, até
por remorsos de consciência.
Caridade – Muita
caridade que fazemos a países do Terceiro Mundo não está ditada pelo amor, mas
por remorso. Damo-nos conta da escandalosa diferença que existe entre nós e
eles e nos sentimos em parte responsáveis por sua miséria. Pode-se carecer de
caridade inclusive ao “fazer caridade”! Seria um erro fatal contrapor entre si
o amor do coração e da caridade dos fatos, ou refugiar-se nas boas disposições
interiores para os demais para encontrar nisso uma desculpa à própria falta de
caridade ativa e concreta.
Obras – Se
encontras um pobre faminto e tremendo de frio, dizia São Tiago, de que lhe
serve se lhe diz: “Pobrezinho, vê, acalenta-te, coma algo!”, mas não lhe dás
nada do que necessita? “Filhos”, acrescenta São João, “não amemos de palavra
nem de boca, mas com obras e segundo a verdade” (1 Jo 3, 18). Não se trata,
portanto, de desvalorizar as obras exteriores de caridade, mas fazer que estas
tenham o fundamento em um genuíno sentimento de amor e de benevolência.
Olhar – A
caridade do coração ou interior é a caridade que todos podemos exercitar, é
universal. Não é uma caridade que alguns – os ricos e os sãos – só podem dar e
os outros – os pobres e os enfermos – só receber. Todos podem dá-la e
recebê-la. Também é concreta. Trata-se de começar a olhar com olhos novos as
situações e as pessoas com as quais vivemos. Que olhos? É simples: os olhos com
os quais queríamos que Deus nos olhasse! Olhos de desculpa, de benevolência, de
compreensão, de perdão...
Máscara – Quando
isto sucede, todas as relações mudam. Caem, como por milagre, todos os motivos
de prevenção e hostilidade que impediam de amar a certa pessoa e esta nos
começa a aparecer pelo que é na realidade: uma pobre criatura que sofre por
suas fraquezas e suas limitações, como tu, como todos. É como se a máscara que
os homens e as coisas se puseram caísse e a pessoa aparecesse pelo que
verdadeiramente é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário