domingo, 31 de maio de 2015

Solenidade da Santíssima Trindade


A Solenidade que celebramos neste domingo não é um convite para decifrar o mistério que se esconde por detrás de "um Deus em três pessoas", mas um convite a contemplar o Deus que é Amor, que é Família, que é Comunidade e que criou os homens para que comungassem nesse mistério de amor.

Convite – No Evangelho, Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para se vincular com a Comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no meio do mundo e são enviados a apresentar a todas as pessoas, sem exceção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária. No dia em que fomos batizados, comprometemo-nos com Jesus e vinculamo-nos com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Sermão – Apresentamos a seguir o prefácio do sermão de Santo Antonio de Lisboa (1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja, sobre a Santíssima Trindade: “Um só Deus, um só Senhor, na trindade das pessoas e na unidade da natureza”.

“O Pai, o Filho e o Espírito Santo são de uma só substância e de uma inseparável igualdade. A unidade está na essência, a pluralidade nas pessoas. O Senhor indica abertamente a unidade da essência divina e a trindade das pessoas quando diz: “Batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Não diz “nos nomes”, mas “em nome”, mostrando assim a unidade da essência. Em seguida, porém, emprega três nomes, para mostrar que há três pessoas.

Nesta trindade se encontra a origem suprema de todas as coisas, a beleza perfeita, a alegria bem-aventurada. A origem suprema, afirma Santo Agostinho no seu livro sobre a verdadeira religião, é Deus Pai, de quem provêm todas as coisas, de quem procedem o Filho e o Espírito anto. A beleza perfeita é o Filho, a verdade do Pai, que em nada se distingue dele, que veneramos com o Pai e no Pai, que é o modelo de todas as coisas, porque tudo foi feito por Ele e tudo se refere a Ele. A alegria bem-aventurada, a soberana bondade, é o Espírito Sant o, que é o dom do Pai e do Filho; e devemos crer e manter que este dom é exatamente como o Pai e o Filho.

Ao contemplar a criação, concluímos pela Trindade de uma só substância. Apreendemos um só Deus: Pai, de quem somos; Filho, por quem somos; Espírito Santo, em quem somos. Príncipe, a quem recorremos; modelo, que seguimos; graça, que nos reconcilia.”

Resposta do teste: A Galileia - região setentrional da Palestina - era uma região próspera e bem povoada, de solo fértil e bem cultivado. Foi na Galileia que Jesus viveu quase toda a sua vida. Foi também na Galileia que Ele começou a anunciar o Evangelho do "Reino" e que começou a reunir à sua volta um grupo de discípulos (confira em Mt 4,12-22).

domingo, 24 de maio de 2015

O INÍCIO DA IGREJA


Este domingo é uma grande festa missionária. Marca a transformação da Igreja de uma seita judaica a uma comunidade universal, missionária, mas não proselitista, comprometida com a construção do Reino de Deus "até os confins da terra". A liturgia deste final de semana nos apresenta a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições: a de Lucas (Atos 2,1-11) e de João (João 20, 19-23).

Atos – O livro “Atos dos Apóstolos” descreve o dia de Pentecostes, quando os discípulos estavam reunidos. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios de Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.

Evangelho – O Evangelho de João descreve o anoitecer, o primeiro da semana, quando estavam reunidos com as portas fechadas, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos".

Diferença – Uma leitura fundamentalista da bíblia leva a gente a um beco sem saída, pois em João, a Ressurreição, a Ascensão e a descida do Espírito se deram no mesmo dia (Páscoa), enquanto Lucas separa os três eventos, num período de cinqüenta dias. Assim devemos ler os textos dentro dos interesses teológicos dos diversos autores: os 40 dias de Lucas, por exemplo, entre a Ressurreição e a Ascensão, correspondem aos 40 dias da preparação de Jesus no deserto, para a sua missão. Pois como Jesus ficou "repleto do Espírito Santo" e se lançou na sua missão "com a força do Espírito", a comunidade cristã se preparou durante o mesmo período, e na festa judaica de Pentecostes também experimentou que "todos ficaram repletos do Espírito Santo".

Lucas – Em Atos, o relato é mais apocalíptico e missionário. Nos primeiros versículos, o ambiente é uma casa onde os discípulos se reuniram. Atos dos Apóstolos nos faz lembrar que estavam reunidos três grupos distintos: os Onze, as mulheres (entre as quais Maria, a mãe de Jesus) e os irmãos do Senhor. Lucas usa imagens apocalípticas, símbolos da teofania ou da manifestação da presença de Deus: o som de um vendaval e as línguas de fogo. A expressão externa da descida do Espírito é o "falar em outras línguas" (não o "falar em línguas" – glossolalia – tão valorizado por muitos grupos de cunho neopentecostal).

Ainda Lucas – Na segunda descrição, muda o enfoque. O ambiente muda – da casa para um lugar público, provavelmente o pátio do Templo. O sinal visível da presença do Espírito não é mais o falar em outras línguas, mas o fato de que todos os presentes pudessem "ouvir, na sua própria língua, os discípulos falarem". O termo "ouvir" aqui implica também "compreender". Por três vezes o relato destaca o fato de os presentes poderem "ouvir" em sua própria língua. Com isso, Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético. O texto é uma releitura da Torre de Babel, onde a língua única era o instrumento de um projeto de dominação (uma torre até o céu), que foi destruído por Deus, pela diversidade de línguas.

Evangelho de João – É o próprio Jesus que aparece aos Apóstolos. Não há reprovação nem queixa nas suas palavras, apesar da infidelidade de todos eles, mas, somente a alegria e a paz que já tinha prometido no último discurso. Duas vezes Jesus proclama o seu desejo para a comunidade dos seus discípulos - "A paz esteja com vocês". O nosso termo "paz" procura traduzir – embora duma maneira inadequada – o termo hebraico "Shalom!", que é muito mais do que "paz" conforme o nosso mundo a compreende.

Shalom – O "Shalom" é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. Como disse o Papa Paulo VI "A justiça é o novo nome da paz!". Jesus não promete a paz do comodismo, mas, pelo contrário, envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino e promete o shalom, pois ele nunca abandonará a quem procura viver na fidelidade o projeto de Deus. Jesus soprou sobre os discípulos, como Deus fez sobre Adão (é o mesmo termo) quando infundiu nele o espírito de vida; Jesus os recria com o Espírito Santo.

Igreja – Normalmente, imaginamos o Espírito Santo descendo sobre os discípulos em Pentecostes, mas, aquela era a descida oficial e pública do Espírito para dirigir a missão da Igreja no mundo. Para João, o dom do Espírito, que da sua natureza é invisível, flui da glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O dom do Espírito neste texto tem a ver com o perdão dos pecados.

Reino – Que a celebração nos anime para que busquemos a criação de um mundo onde o Shalom realmente possa reinar; não a paz falsa da opressão e injustiça, mas, do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade. Jesus nos deu o Espírito Santo – agora depende de nós usarmos essa força que temos, na construção do mundo que Deus quer.

domingo, 17 de maio de 2015

As aparições de Cristo Ressuscitado



No Evangelho deste domingo (Mc 16,15-20), Jesus aparece aos Onze apóstolos com a seguinte mensagem: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. Depois de ter dito isso, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus.

Aparições – Esta foi uma das aparições de Jesus. Você sabe dizer quantas vezes Jesus apareceu para as pessoas? Mas, primeiro, nós temos que definir o que é aparição.

O que é aparição? – A resposta foi orientada pela afirmação de Lucas em At 1,3: "É a eles que Jesus se apresentava vivo após a sua Paixão; tiveram mais de uma prova disso, enquanto, durante quarenta dias, Ele lhes aparecera e mantivera conversação com eles sobre o Reino de Deus". Portanto, foram consideradas as aparições em que Jesus conversou, respondeu perguntas, comeu, instruiu, foi tocado; estas aparições aconteceram nos 40 dias seguintes a sua Paixão, ou seja, entre os dias 7 de abril e 17 de maio do ano 30. Após a ascensão aos céus, ocorreram apenas visões, expressadas de diversas formas (clarão de luz, em sonho, etc.).

Pegue sua bíblia e confira – Foram 11 aparições (nove nos Evangelhos e duas nas cartas de São Paulo). Note que uma mesma aparição pode ser descrita por mais de um livro do Novo Testamento.

Descritas nos Evangelhos:

1- a Madalena e às mulheres no túmulo no domingo - Mt 28,9-11; Jo 20,13-18; Mc 16,9-11;
2- aos 11 apóstolos na montanha da Galileia - Mt 28,16-20; Mc 16,15 (talvez 1Cor 15,5);
3- aos dois discípulos de Emaús - Lc 24,13-35; Mc 16,12;
4- aos 11 apóstolos em Jerusalém durante uma refeição – Lc 24,36-43; Mc 16,14; At 1,4-5; At 10,41 (talvez 1Cor 15,5);
5- aos discípulos sem Tomé - Jo 20,19-23 (talvez 1Cor 15,5);
6- aos discípulos com Tomé - Jo 20,24-29; (talvez 1Cor 15,5);
7- à margem do lago de Tiberíades, quando comeu peixe - Jo 21,1-23 (talvez At 10,41);
8- a Simão - Lc 24,34; 1 Cor 15,5;
9- na ascensão aos céus, em Betânia - Lc 24,50-53; Mc 16,19; At 1,8

Descritas nas cartas de Paulo:

10- a mais de quinhentas pessoas - 1Cor 15,6;
11- a Tiago - 1Cor 15,7;

Algumas Visões (não consideradas como aparições):
1- Visão de Paulo no caminho para Damasco no ano 37 – At 9,3; At 22,6; At 26, 12; 1Cor 15,8; 1Cor 9,1; Gal 1,12;
2- A visão de Ananias no ano 37 – At 9, 10-16;
3- A visão de Paulo no Templo em Jerusalém em abril do ano 58 – At 22,18;
4- Outra visão de Paulo em Jerusalém em abril do ano 58 – At 23, 11;
5- A visão de João citada em Ap 1,9s, escrito entre os anos 95 e 100.


Algumas observações – As citações em Mt 28,5; Mc 16,5; Lc 24,4 são apenas aparições de anjos.

domingo, 10 de maio de 2015

O “dever” de amar


O Evangelho deste domingo (Jo 15, 9-17) situa-nos, outra vez, em Jerusalém, numa noite de Quinta-feira do mês de Nisan, do ano trinta. A festa da Páscoa está muito próxima e a cidade está cheia de forasteiros. Jesus também está na cidade com o seu grupo de discípulos. A morte na cruz já é uma ameaça real e Jesus está plenamente consciente disso. Os discípulos também já perceberam que estão vivendo um momento decisivo e que, nas próximas horas, Jesus vai ser tirado deles.

Despedida – É nesse contexto que podemos situar a última ceia de Jesus com os discípulos. Trata-se de uma “ceia de despedida” e tudo o que aí é dito por Jesus soa a “testamento final”… Jesus sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos ficarão no mundo, continuando e testemunhando o projeto do “Reino”. Nesse momento de despedida, as palavras de Jesus recordam aos discípulos o essencial da mensagem e apresentam as grandes coordenadas desse projeto que eles devem continuar a concretizar no mundo.

Para uma reflexão deste Evangelho, reproduzimos o comentário do padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano.

Amor – “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei... O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”. O amor, um mandamento? Pode-se fazer do amor um mandamento sem destruí-lo? Que relação pode haver entre amor e dever, dado que um representa a espontaneidade e o outro a obrigação?

Mandamentos – Deve-se saber que existem dois tipos de mandamentos. Existe um mandamento ou uma obrigação, que vem do exterior, de uma vontade diferente à minha, e um mandamento ou obrigação que vem de dentro e que nasce da mesma coisa. A pedra que se lança ao ar ou a maçã que cai da árvore estão “obrigadas” a cair, não podem fazer outra coisa; não porque alguém imponha isso, mas porque nelas há uma força interior de gravidade que as atrai para o centro da Terra.

Leis – De igual forma, há dois grandes modos segundo os quais o homem pode ser induzido a fazer ou não determinada coisa: por constrição ou por atração. A lei e os mandamentos ordinários o induzem do primeiro modo: por constrição, com a ameaça do castigo; o amor, o induz do segundo modo: por atração, por um impulso interior. Cada pessoa, com efeito, é atraída pelo que ama, sem que sofra constrição alguma do exterior. Mostre a uma criança um brinquedo e a você a verá lançar-se para agarrá-lo. O que a impulsiona? Ninguém; é atraída pelo objeto de seu desejo. Ensina um Bem a uma alma sedenta de verdade e se lançará para ele. Quem a impulsiona? Ninguém; é atraída por seu desejo.

Mandamento do amor? Mas se é assim, isto é, se somos atraídos espontaneamente pelo bem e pela verdade que é Deus, que necessidade haveria de fazer deste amor um mandamento e um dever? É que, rodeados como estamos de outros bens, corremos o perigo de errar, de estender falsos bens e perder assim o Sumo Bem. Como uma nave espacial dirigida para o Sol deve seguir certas regras, para não cair na esfera da gravidade de algum planeta ou satélite intermediário, nós, igualmente [devemos ter algumas regras] ao tender para Deus. Os mandamentos, começando pelo “primeiro e maior de todos”, que é o de amar a Deus, servem para isto.

Dever – Tudo isso tem um impacto direto, também, na vida e no amor humano. Cada vez são mais numerosos os jovens que rejeitam a instituição do matrimônio e elegem o chamado amor livre ou a simples convivência. O matrimônio é uma instituição; uma vez contraído, liga, obriga a ser fiel e a amar o companheiro para toda a vida. Mas que necessidade tem o amor, que é instinto, espontaneidade, impulso vital, de transformar-se em um dever?


Sempre – O filósofo Kierkegaard dá uma resposta convincente: “Só quando existe o dever de amar, só então o amor está garantido para sempre contra qualquer alteração; eternamente liberado em feliz independência; assegurado em eterna bem-aventurança contra qualquer desespero”. Quer dizer: o homem que ama verdadeiramente quer amar para sempre. O amor necessita ter como horizonte a eternidade; se não, não é mais que uma brincadeira, um “amável mal-entendido” ou um “perigoso passatempo”. Por isso, quanto mais intensamente o homem ama, mais percebe com angústia o perigo que corre o seu amor, o perigo que não vem de outros, mas dele mesmo. Bem sabe que é volúvel e que amanhã, ai! Poder-se-ia cansar e não amar mais. E já que, agora que está no amor, vê com clareza a perda irreparável que isto comportaria, eis aqui que se previne, “vinculando-se” a amar para sempre. O dever subtrai o amor da volubilidade e o ancora à eternidade. Quem ama é feliz de “dever” amar, parece-lhe o mandamento mais belo e libertador do mundo.

sábado, 2 de maio de 2015

O ENCONTRO DE PAULO COM OS APÓSTOLOS


A primeira leitura das missas deste domingo (At 9, 26-31) apresenta a chegada de Paulo em Jerusalém, depois da conversão em Damasco: Saulo procurava juntar-se aos discípulos, mas todos temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Barnabé tomou Saulo consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém e falava com firmeza no nome do Senhor.

Acontecimento importante – O capítulo nono do livro Atos dos Apóstolos é dedicado a um acontecimento muito importante na história do cristianismo: a vocação/conversão de Paulo. Tal fato é o ponto de partida para o caminho que o cristianismo vai percorrer, desde os limites geográficos do mundo judaico, até ao coração do mundo greco-romano.

Partes – A primeira parte do capítulo (At 9,1-9) apresenta os acontecimentos do “caminho de Damasco” e o decisivo encontro de Paulo com Jesus ressuscitado; a segunda (At 9,10-19a) descreve o encontro de Paulo com a comunidade cristã de Damasco; a terceira (At 9,19b-25) fala da atividade apostólica de Paulo em Damasco; e, finalmente, a quarta (At 9,26-30) mostra a forma como Paulo, depois de deixar Damasco, foi recebido pelos cristãos de Jerusalém.

Época – A maior parte dos autores pensa que a conversão de Paulo aconteceu por volta do ano 36. Depois da sua conversão, Paulo ficou três anos em Damasco, colaborando com a comunidade cristã dessa cidade. Após esse tempo, a oposição dos judeus forçou Paulo a abandonar a cidade. Assim, Paulo dirigiu-se para Jerusalém. A chegada de Paulo a Jerusalém deve ter acontecido por volta do ano 39 (Gal 1,18). O texto que nos é proposto (quarta parte) refere-se à estadia de Paulo em Jerusalém, depois de ter abandonado Damasco.

Pontos importantes – A narração de Lucas mistura elementos de carácter histórico com outros elementos de carácter teológico. Eis alguns pontos desta catequese apresentada por Lucas:

A desconfiança – da comunidade cristã de Jerusalém em relação a Paulo é um dado verosímil (histórico). Mostra-nos o quadro de uma comunidade cristã que tem alguma dificuldade em lidar com o risco, que prefere esconder-se atrás de procedimentos prudentes do que aceitar os desafios de Deus. No entanto, como o exemplo de Paulo comprova, a capacidade para correr riscos e para acolher a novidade de Deus é, muitas vezes, uma fonte de enriquecimento para a comunidade.

O esforço de Paulo – em integrar-se mostra a importância que ele dava ao viver em comunidade, à partilha da fé com os irmãos. O cristianismo não é apenas um encontro pessoal com Jesus Cristo; mas é também uma experiência de partilha da fé e do amor com os irmãos que aderiram ao mesmo projeto e que são membros da grande família de Jesus. É só no diálogo e na partilha comunitária que a experiência da fé faz sentido.

O papel de Barnabé – na integração de Paulo é muito significativo: ele não só acredita em Paulo, como consegue que o resto da comunidade cristã o aceite. Mostra-nos o papel que cada cristão pode ter na integração comunitária dos irmãos; e mostra, sobretudo, que é tarefa de cada crente questionar a sua comunidade e ajudá-la a descobrir os desafios de Deus.

O entusiasmo – com que Paulo dá testemunho de Jesus e a coragem com que ele enfrenta as dificuldades e oposições. Trata-se, aliás, de uma atitude que vai caracterizar toda a vida apostólica de Paulo. O apóstolo está consciente de que foi chamado por Jesus, que recebeu de Jesus a missão de anunciar a salvação a todos os homens; por isso, nada nem ninguém será capaz de arrefecer o seu zelo no anúncio do Evangelho.

A pregação cristã – promove o conflito com os poderes de morte e de opressão, interessados em perpetuar os mecanismos de escravidão. A fidelidade ao Evangelho e a Jesus provoca sempre a oposição do mundo. O caminho do discípulo de Jesus é sempre um caminho marcado pela cruz (não é um caminho de morte, mas de vida).


Resumindo – Um elemento que está sempre presente no horizonte da catequese de Lucas: é o Espírito Santo que conduz a Igreja na sua marcha pela história. É o Espírito que lhe dá estabilidade (“como um edifício”), que lhe alimenta o dinamismo (“caminhava no temor do Senhor”) e que a faz crescer (“ia aumentando”). A certeza da presença e da assistência do Espírito Santo deve fundamentar a nossa esperança.