sábado, 13 de junho de 2015

Os valores do Reino de Deus


No Evangelho deste domingo (Mc 4, 26-34) Jesus apresenta duas parábolas, comparando o Reino de Deus com a semente que cresce por si só e com o pequeno grão de mostarda. Assim Jesus quer que a gente relembre que é importante começar com ações pequenas e singelas, pois, pela ação do Espírito Santo elas poderão dar frutos grandes. Com imagens tão simples e belas da natureza compreende-se que Deus comunica sua vida a todos, sem discriminações, não havendo ninguém que possa impedi-lo. Ainda mais, o que parece insignificante hoje, está a caminho de sua plena realização. O Reino de Deus é o banquete da celebração da vida plena para todos, e esta vida vai se manifestando até atingir sua plenitude.

Os primeiros cristãos – A leitura deste domingo é também um lembrete para que não caiamos na tentação de olhar as coisas com os olhos da sociedade dominante, que valoriza muito a prepotência, o poder, a aparência externa. O modelo cristão de sociedade está certamente na comunidade dos primeiros cristãos. Estes eram considerados diferentes, porque viviam em comunidade, desprezavam os bens e não tinham pátria.

Documento – Em uma carta datada do ano de 150 d.C. conhecida como “Epístola para Diognetus”, provavelmente escrita por Pantanaeus (mestre de Clemente de Alexandria), o autor faz uma impressionante descrição do estilo de vida dos cristãos.  O final da carta deve ter se perdido, pois a cópia que chegou até nossos dias termina abruptamente.  Note que o autor louva a beleza da vida cristã, inserida neste mundo e compartilhando o que a sociedade tem de honesto, não perdendo de vista os valores definitivos.  Será que os cristãos de hoje (após 1860 anos) continuamos a viver no mesmo estilo das primeiras comunidades cristãs?  Vejamos a carta:

“Meu caro Diognetus, desde que o conheço você se mostra ansioso para entender a religião dos cristãos. Eles confiam em Deus e o adoram, têm um desprezo pelos bens e menosprezam a morte, não acreditam nos deuses gregos nem na superstição dos judeus, e dão grande importância ao afeto entre eles.
Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina, não a encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos. Mas, habitando, conforme a sorte de cada um, cidades gregas e bárbaras, é acompanhando os usos locais em matéria de roupa, alimentação e costumes, que manifestam a admirável natureza de sua vida, a qual todos reputam extraordinária.
Habitam suas pátrias, mas como estrangeiros. Participam de tudo como cidadãos, mas tudo suportam como estrangeiros. Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Casam-se e procriam, mas nunca lançam fora o que geraram. Têm a mesa em comum, não o leito. Existindo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a todos, sendo por todos perseguidos. Desconhecidos, são assim mesmo condenados. Mas quando entregues à morte, são vivificados. Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovidos de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das desonras sentem-se glorificados. Difamados, mas justos; ultrajados, mas benditos. Injuriados, prestam honra. Fazendo o bem, são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revivificados. Os judeus hostilizam-nos como alienígenas, os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio.
Para resumir numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos por todas as cidades do universo. Habita a alma no corpo, mas não procede do corpo; assim os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é enclausurada num corpo visível; os cristãos, conhecidos enquanto estão no mundo, têm uma religião que permanece invisível. A carne odeia a alma sem ter recebido injúria, mas apenas porque não a deixa gozar os prazeres; aos cristãos odeia o mundo sem ter sido injuriado por eles e só porque renunciam aos prazeres. A alma ama o corpo e os membros que a odeiam; também os cristãos amam os que os odeiam.
A alma está encerrada no corpo, mas é ela que o sustenta. Os cristãos, por sua vez, estão encerrados no mundo como num cárcere; mas são eles que o sustentam. A alma habita um tabernáculo mortal. Os cristãos peregrinam através de bens corruptíveis, na expectativa da celeste incorruptibilidade.
Maltratada quanto a alimentos e bebidas, a alma se aperfeiçoa; também os cristãos, afligidos por castigo, cada dia mais aumentam em número. Deus colocou-os num posto tal que não lhes é lícito desertar.
Não foi, como já disse, invenção terrestre o que se lhes transmitiu; nem julgam ter sob sua vigilante guarda uma concepção mortal. Não lhes foi confiada a dispensação de mistérios humanos.

Mas foi o próprio Deus invisível, verdadeiramente Senhor e Criador de tudo, que do alto dos céus colocou entre os homens a Verdade, o Logos santo e incompreensível, e o inseriu firmemente nos seus corações”.

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