No Evangelho deste domingo (Mc 4, 26-34) Jesus apresenta
duas parábolas, comparando o Reino de Deus com a semente que cresce por si só e
com o pequeno grão de mostarda. Assim Jesus quer que a gente relembre que é
importante começar com ações pequenas e singelas, pois, pela ação do Espírito
Santo elas poderão dar frutos grandes. Com imagens tão simples e belas da
natureza compreende-se que Deus comunica sua vida a todos, sem discriminações,
não havendo ninguém que possa impedi-lo. Ainda mais, o que parece
insignificante hoje, está a caminho de sua plena realização. O Reino de Deus é
o banquete da celebração da vida plena para todos, e esta vida vai se
manifestando até atingir sua plenitude.
Os primeiros cristãos
– A leitura deste
domingo é também um lembrete para que não caiamos na tentação de olhar as
coisas com os olhos da sociedade dominante, que valoriza muito a prepotência, o
poder, a aparência externa. O modelo cristão de sociedade está certamente na
comunidade dos primeiros cristãos. Estes eram considerados diferentes, porque
viviam em comunidade, desprezavam os bens e não tinham pátria.
Documento – Em uma carta datada do ano de 150
d.C. conhecida como “Epístola para Diognetus”, provavelmente escrita por
Pantanaeus (mestre de Clemente de Alexandria), o autor faz uma impressionante
descrição do estilo de vida dos cristãos.
O final da carta deve ter se perdido, pois a cópia que chegou até nossos
dias termina abruptamente. Note que o
autor louva a beleza da vida cristã, inserida neste mundo e compartilhando o
que a sociedade tem de honesto, não perdendo de vista os valores
definitivos. Será que os cristãos de
hoje (após 1860 anos) continuamos a viver no mesmo estilo das primeiras
comunidades cristãs? Vejamos a carta:
“Meu caro Diognetus, desde que o conheço você se mostra
ansioso para entender a religião dos cristãos. Eles confiam em Deus e o adoram,
têm um desprezo pelos bens e menosprezam a morte, não acreditam nos deuses
gregos nem na superstição dos judeus, e dão grande importância ao afeto entre
eles.
Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela
língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por
idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina, não
a encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não
patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos. Mas, habitando, conforme a sorte
de cada um, cidades gregas e bárbaras, é acompanhando os usos locais em matéria
de roupa, alimentação e costumes, que manifestam a admirável natureza de sua
vida, a qual todos reputam extraordinária.
Habitam suas pátrias, mas como estrangeiros. Participam de
tudo como cidadãos, mas tudo suportam como estrangeiros. Qualquer terra
estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Casam-se e procriam,
mas nunca lançam fora o que geraram. Têm a mesa em comum, não o leito.
Existindo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da
cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a
todos, sendo por todos perseguidos. Desconhecidos, são assim mesmo condenados.
Mas quando entregues à morte, são vivificados. Na pobreza, enriquecem a muitos;
desprovidos de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das
desonras sentem-se glorificados. Difamados, mas justos; ultrajados, mas
benditos. Injuriados, prestam honra. Fazendo o bem, são punidos como
malfeitores; castigados, rejubilam-se como revivificados. Os judeus
hostilizam-nos como alienígenas, os gregos os perseguem, mas nenhum de seus
inimigos pode dizer a causa de seu ódio.
Para resumir numa palavra, o que é a alma no corpo, são os
cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma,
assim os cristãos por todas as cidades do universo. Habita a alma no corpo, mas
não procede do corpo; assim os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo.
A alma invisível é enclausurada num corpo visível; os cristãos, conhecidos
enquanto estão no mundo, têm uma religião que permanece invisível. A carne
odeia a alma sem ter recebido injúria, mas apenas porque não a deixa gozar os
prazeres; aos cristãos odeia o mundo sem ter sido injuriado por eles e só
porque renunciam aos prazeres. A alma ama o corpo e os membros que a odeiam;
também os cristãos amam os que os odeiam.
A alma está encerrada no corpo, mas é ela que o sustenta. Os
cristãos, por sua vez, estão encerrados no mundo como num cárcere; mas são eles
que o sustentam. A alma habita um tabernáculo mortal. Os cristãos peregrinam
através de bens corruptíveis, na expectativa da celeste incorruptibilidade.
Maltratada quanto a alimentos e bebidas, a alma se aperfeiçoa;
também os cristãos, afligidos por castigo, cada dia mais aumentam em número.
Deus colocou-os num posto tal que não lhes é lícito desertar.
Não foi, como já disse, invenção terrestre o que se lhes
transmitiu; nem julgam ter sob sua vigilante guarda uma concepção mortal. Não
lhes foi confiada a dispensação de mistérios humanos.
Mas foi o próprio Deus invisível, verdadeiramente Senhor e
Criador de tudo, que do alto dos céus colocou entre os homens a Verdade, o
Logos santo e incompreensível, e o inseriu firmemente nos seus corações”.
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