No Evangelho deste domingo (Mc 4,35-41), Marcos conta que Jesus e os discípulos
estavam numa barca no Mar da Galiléia, quando começou a soprar um vento muito
forte e as ondas se lançavam dentro da barca. Jesus estava na parte de trás,
dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram:
"Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?" Ele se levantou e
ordenou ao vento e ao mar: "Silêncio! Cala-te!" O vento cessou e
houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: "Por que
sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?" Eles sentiram um grande medo e
diziam uns aos outros: "Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?
Marcos – Voltando às celebrações
dominicais do tempo comum, também retomamos a caminhada pelo evangelho de
Marcos. O trecho deste final de semana está situado na primeira parte do seu evangelho
e procura demonstrar que as autoridades religiosas da época, os próprios
parentes de Jesus e os seus discípulos não o compreenderam, apesar de verem as
suas obras e milagres (1,19-8,26). Toda esta primeira parte prepara para a
pergunta fundamental do evangelho: "E vocês, quem dizem que eu sou?"
Por isso, quando Jesus silencia a tempestade, leva os discípulos a se perguntarem:
"Quem é este homem?".
Dúvidas – O evento no mar de Galiléia
retrata, simbolicamente, a situação da comunidade de Marcos, pelo ano 70,
quando o evangelho foi escrito. A comunidade vacilava na sua fé, assolada por
dúvidas e perseguições. Diante do cansaço da caminhada, muitos se refugiaram na
busca de uma religião de milagres, sem o esforço de seguir Jesus até a Cruz.
Milagres – Por isso Marcos insiste que os
milagres não são suficientes para conhecer Jesus, pois as autoridades, as
familiares e os discípulos os tinham e não chegaram a entender nem a pessoa nem
a proposta de Jesus.
Comunidade – O barco no lago, assolado pelos
ventos e ondas, representa a comunidade dos discípulos, prestes a afundar-se
por causa das dificuldades da caminhada. Jesus dorme no barco e parece não se
preocupar com o perigo. Assim, para a comunidade de Marcos, parecia que Jesus
não estava ligado aos seus sofrimentos e, como consequência, vacilavam na sua
fé.
Medo – Mas Jesus acalmou o mar e ainda
questionou a pouca fé dos Doze: "por que vocês são tão medrosos? Vocês
ainda não têm fé?" (v. 40). Assim Marcos quis mostrar aos leitores do seu
tempo que Jesus estava com eles nas dificuldades e que a sua falta de fé estava
causando grande parte das dificuldades que estavam enfrentando.
Igreja – Hoje, em muitos lugares, a Igreja
se parece com a igreja de Marcos ou ainda com o barco no mar. Diante das
desistências, da secularização, da diminuição da influência da Igreja, para
muitos ela esta se afundando. Em lugar de assumir o doloroso seguimento de
Cristo até a Cruz, muitos se refugiam numa religiosidade de milagres, fugindo
da penosa tarefa de construir o Reino de Deus entre nós.
Fé – Marcos vem corrigir essa
ideologia triunfalista e nos convida a aprofundar a nossa fé, a clarear – para
nós mesmos e para o mundo – "quem é este homem"; e, a segui-Lo no dia
a dia. Jesus não está alheio às nossas dificuldades! Pelo contrário, Ele está
no meio de nós. Só que não nos livra da tarefa de nos engajarmos na luta pelo
Reino, mesmo que as ondas e os ventos estejam contrários.
Ter fé Nele não é somente acreditar que Ele exista e seja
Filho de Deus, mas tomar a nossa cruz e segui-Lo, na certeza que Ele não nos
abandonará! Ressoa para nós hoje a pergunta de dois mil anos atrás:
"Porque são tão medrosos? Ainda não têm fé?".
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