O Evangelho deste domingo (Mc 12,38-44) situa-nos em Jerusalém,
nos dias que antecedem a prisão, julgamento e morte de Jesus. Estamos na segunda ou terça-feira (dia 3 ou 4
de abril do ano 30). Na próxima sexta-feira (dia 7 de abril) Jesus será preso,
condenado, crucificado e morrerá na cruz. No domingo (dia 9 de abril)
ressuscitará.
Cenário – Por esta altura,
agravam-se as polêmicas de Jesus com os representantes do Judaísmo oficial. A
cada passo fica mais claro que o projeto do Reino (proposto por Jesus) é
incompatível com a visão religiosa dos líderes judaicos. Num ambiente carregado
de dramatismo, adivinha-se o inevitável choque decisivo entre Jesus e a
instituição judaica e prepara-se o cenário da Cruz.
Figueira
seca – Jesus
tem consciência de que os líderes da comunidade judaica tinham transformado a
religião de Moisés – com os seus ritos, exigências legais, proibições e
obrigações – numa proposta vazia e estéril. Mal servida e manipulada pelos seus
líderes religiosos, a comunidade judaica tinha-se transformado numa figueira
seca (Mc 11,12-14. 20-26), onde Deus não encontrava os frutos que esperava (o
culto verdadeiro e sincero, o amor, a justiça, a misericórdia).
O próprio
Templo –
o espaço onde se desenrolavam abundantes ritos cultuais e suntuosas cerimônias
litúrgicas – tinha deixado de ser o lugar do encontro de Deus com a comunidade
israelita e tinha-se tornado um lugar de exploração e de injustiça, “um covil
de ladrões” (Mc 11,15-19).
Teatro – Jesus tem presente tudo
isto quando ensina nos átrios do Templo, rodeado pelos discípulos. À sua volta
desenrola-se esse folclore religioso, feito de ritos externos, de grandes
gestos teatrais, frequentemente vazios de conteúdo. Os “doutores da Lei” (fariseus
e escribas) são mais um elemento no quadro desse culto de mentira que Jesus tem
diante dos olhos.
Viúva – Em contraponto, Jesus
repara no “átrio das mulheres”, onde uma viúva deposita, no tesouro do Templo,
a sua humilde oferta (dons voluntários eram feitos com frequência, tendo por
finalidade, por exemplo, cumprir votos). As viúvas, no ambiente palestino de
então (sobretudo quando não tinham filhos que as protegessem e alimentassem),
eram o modelo clássico do pobre, do explorado, do débil.
Verdadeiro
culto – Jesus
convida os discípulos a perceber a essência do verdadeiro culto, da verdadeira
atitude religiosa. Em profundo contraste com o quadro dos doutores da Lei,
Jesus aponta aos discípulos a figura de uma pobre viúva, que se aproxima de um
dos treze recipientes situados no átrio do Templo, onde se depositavam as
ofertas para o tesouro do Templo.
Insignificante
– A
mulher deposita duas simples moedas (dois “leptá”, diz o texto grego. O “leptá”
era uma moeda de cobre, a menor e insignificante das moedas judaicas); contudo,
aquela quantia insignificante era tudo o que a mulher possuía. Ninguém, exceto
Jesus, repara nela ou manifesta admiração pelo seu gesto. Apenas Jesus – que lê
os fatos com os olhos de Deus e sabe ver para além das aparências – percebe
naquelas duas insignificantes moedas oferecidas a marca de um dom total, de um
completo despojamento, de uma entrega radical e sem medida.
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