O texto do Evangelho deste domingo (Lucas 21, 25-28.34-36) situa-nos
em Jerusalém, pouco antes da Paixão e Morte de Jesus. Estamos na terça ou
quarta-feira da semana da Paixão (dia 3 ou 4 de abril do ano 30). Na
sexta-feira seguinte, Jesus será preso, condenado e morrerá na cruz.
Apocalipse
sinótico – Jesus está no Templo
com seus discípulos. É o terceiro ou quarto dia da estadia de Jesus em
Jerusalém, o dia dos “ensinamentos” e das polêmicas mais radicais. No início do
capítulo 21 de Lucas, Jesus anuncia a destruição do Templo e da cidade de
Jerusalém e oferece aos discípulos um amplo e enigmático ensinamento, que ficou
conhecido como o “discurso escatológico”. Vamos ao texto.
Advento – No primeiro domingo do Ano Litúrgico, o evangelho de Lucas
nos faz mergulhar em um discurso repleto de imagens e símbolos que não são da
nossa cultura e época – e por isso nem sempre são fáceis de serem compreendidos
pelos ouvintes de hoje. Porém, na literatura apocalíptica, não é necessário
interpretar cada imagem detalhadamente – o mais importante não é cada “pedra”
do mosaico, mas o padrão inteiro – o que importa não é cada imagem e símbolo,
mas a sua mensagem de conjunto.
Filho do Homem – O texto nos apresenta a figura do “Filho do Homem” – o
título que Jesus mais usava para si mesmo, e que nós pouco usamos. Este título
vem de um trecho do livro de Daniel (Dn 7, 13s): “Em imagens noturnas, tive
esta visão: entre as nuvens do céu vinha alguém como um filho de homem...
Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o
serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu
reino é tal que jamais será destruído”.
Poder de Deus – Então, Jesus recorda aos discípulos a mensagem de
ânimo escrita por Daniel aos perseguidos do tempo dos Macabeus (pelo ano 175
a.C.): embora possa parecer que os poderes deste mundo, os impérios opressores
sejam mais fortes do que o poder de Deus, isso não passa de uma ilusão, pois na
plenitude dos tempos, Deus, por meio do seu Ungido – o Filho do Homem –
revelará o seu poder, e estabelecerá um Reino que jamais será destruído.
Libertação – Qualquer interpretação de um texto apocalíptico que amedronta
quem a escuta, é necessariamente errada, pois a função da literatura
apocalíptica é de animar e dar coragem aos oprimidos e sofredores. Por isso, o
ponto central desse texto é uma mensagem de ânimo, coragem e fé: “Quando essas
coisas começarem a acontecer, levantem-se e erguem a cabeça, porque a
libertação de vocês está próxima.”
Forças – Este trecho tem uma dimensão fortemente cristológica –
nos afirma que Jesus, o Filho do Homem, vitorioso, tem em controle todas as
forças, sejam elas de guerra ou do mar – símbolo de forças que não podiam ser
dominadas, na literatura judaica da época. O versículo acima citado traz uma
mensagem cheia de confiança: em contraste com a atitude de covardia dos
malvados, os discípulos ficarão com a cabeça erguida, para acolher o juiz
justo, o Filho do Homem.
Vigilantes – Mesmo assim, os eleitos devem ficar atentos para não
caírem. Devem cuidar muito para que: “Os corações não fiquem insensíveis por
causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida.” É fácil assumir as
atitudes do mundo, sem mesmo notar, a não ser que sejamos vigilantes. Por isso,
o texto termina com um conselho válido também para os discípulos dos tempos
modernos: “Fiquem atentos e rezem todo o tempo, a fim de terem força”.
Atentos – O Advento é tempo oportuno para examinarmos a nossa
vida, para descobrir se realmente estamos atentos, o tempo todo, para não
perdermos as manifestações da presença de Jesus no meio de nós. É tempo de nos
dedicarmos mais à oração, de renovarmos as nossas forças, de estar atento no
meio das preocupações e “barulhos” do mundo moderno, para que os nossos
corações continuem sensíveis aos apelos do Senhor, presente em nosso próximo,
no nosso dia a dia!
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