sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

“Preparem o caminho para o Senhor”


O texto do Evangelho das missas deste domingo (Lc 3, 1-6) segue-se imediatamente ao “evangelho da infância”, na versão de Lucas. Aqui começa, oficialmente, o Evangelho – isto é, o anúncio da Boa Nova de Jesus. Antes de começar a descrever a ação libertadora e salvadora de Jesus no meio dos homens, Lucas vai apresentar João Batista, o profeta que veio preparar a chegada do Messias prometido por Deus.

Tempo – Lucas começa por situar o quadro de João Batista num determinado enquadramento histórico. Nomeia sete personagens (desde o imperador Tibério César, até ao sumo sacerdote Caifás), num esforço de situar no tempo os acontecimentos da salvação (pelos anos 27/28). Quer deixar claro que esta aventura – Deus que vem ao encontro dos homens para lhes apresentar um projeto de salvação e de felicidade – não é uma lenda, perdida nas brumas do tempo e da memória dos homens… Sua intenção é destacar que se trata de uma história concreta, com acontecimentos concretos, que podem ser ligados a um determinado momento histórico e a uma terra concreta.

João – Num segundo momento, Lucas apresenta a figura de João Batista. Ele é “uma voz que grita no deserto” e que convida a preparar os caminhos do coração para que Jesus, o Messias de Deus, possa ir ao encontro de cada homem. Lucas começa por indicar que a missão profética de João lhe é confiada por Deus: o chamamento de João é apresentado com as mesmas palavras do chamamento de Jeremias, para marcar o caráter profético do seu anúncio.

Profeta – Depois, Lucas situa num espaço geográfico a atividade profética de João: ele prega em “toda a zona do rio Jordão” (Mateus e Marcos, situam-no no deserto)… Trata-se de uma região bastante povoada, sobretudo depois das construções de Herodes e de Arquelau: o anúncio profético de João destina-se aos homens, que são convidados a acolher o Messias que está para fazer a sua aparição no mundo. Finalmente, concretiza-se o âmbito da missão: João “proclama um batismo de conversão, para a remissão dos pecados”…

Isaías – O trecho termina com uma citação tomada de Isaías, que serve para anunciar aos exilados na Babilônia a libertação e o regresso a casa, num novo e triunfal êxodo: "Alguém está gritando no deserto: Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele! Todos os vales serão aterrados, e todos os morros e montes serão aplanados. Os caminhos tortos serão endireitados, e as estradas esburacadas serão consertadas. E todos verão a salvação que Deus dá."

Reflexão – Concluímos o texto com uma reflexão de João Paulo II sobre este Evangelho do segundo domingo do Advento:

No segundo domingo do Advento ressoa com vigor este convite de São João Batista. Grito profético que continua tendo repercussão através dos séculos. O experimentamos também em nossa época, enquanto a humanidade continua seu caminho através da história. Aos homens do terceiro milênio, em busca de serenidade e de paz, é revelado o caminho que há de percorrer.
Toda a liturgia do Advento faz eco ao precursor, convidando-nos a sair ao encontro de Cristo que vem para salvar-nos. Preparamo-nos para voltar a evocar o nascimento, que aconteceu em Belém há cerca de dois mil anos; renovamos nossa fé em sua vinda gloriosa ao final dos tempos. Dispomo-nos, ao mesmo tempo, a reconhecê-lo presente entre nós: de fato, ele nos visita também nas pessoas e nos acontecimentos cotidianos.
Nosso modelo e guia neste itinerário espiritual típico de Advento é Maria, que é bem-aventurada com maior razão por ter acreditado em Cristo que por ter-lhe gerado fisicamente. Nela, imaculada de todo pecado e cheia de graça, Deus encontrou a ‘boa terra’ na qual semeou a semente da nova humanidade. Que a Virgem Imaculada, solenidade que nos dispomos a celebrar em 8 de dezembro, ajude-nos a preparar bem ‘o caminho do Senhor’ em nós mesmos e no mundo.


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