No Evangelho das missas deste domingo, Jesus apresenta a
“parábola do filho pródigo”, uma parábola que é exclusiva de Lucas.
A Parábola – Esta parábola conta a história de um homem que tinha dois
filhos. Um dos filhos pede a sua parte na herança e viaja para longe, gastando
toda fortuna. Ficando sem dinheiro, chegou a passar fome e resolve retornar
para a casa do seu pai, pedindo desculpas. O pai o recebe com festa e alegria.
O outro filho, que ficou trabalhando com o pai, se revolta contra o irmão.
Lucas – Todo o capítulo 15 de Lucas é dedicado
ao ensinamento sobre a misericórdia: em três parábolas, Lucas apresenta uma
catequese sobre a bondade e o amor de um Deus que quer estender a mão a todos
os que a teologia oficial excluía e marginalizava. O
Evangelho apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel
e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde.
E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o
filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na
linha da justiça dos homens.
O pai e os dois
filhos – A parábola apresenta-nos três personagens
de referência: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho. Vejamos um pouco
destas figuras.
O pai – A personagem central é o pai. Trata-se de uma figura
excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos,
com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na emoção com que
abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de
orgulho e de auto-suficiência em relação ao pai e à casa. Trata-se de um amor
que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho; trata-se de um pai que
continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do filho. A conseqüência
do amor do pai simboliza-se no “anel” que é símbolo da autoridade (Gn 41,42) e
nas sandálias, que é o calçado do homem livre.
O filho mais novo – É um filho ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai
muito mais do que aquilo a que tem direito (a lei judaica previa que o filho
mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai - Dt 21,15-17) mas, ainda
que a divisão das propriedades pudesse fazer-se em vida do pai, os filhos não
acediam à sua posse senão depois da morte deste (Sir 33,20-24). Além disso,
abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua
disposição. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de
frivolidade, de total irresponsabilidade. Acaba, no entanto, por perceber o
vazio, o sem sentido, o desespero dessa vida de egoísmo e de auto-suficiência e
por ter a coragem de voltar ao encontro do amor do pai.
O filho mais velho
– É o filho “certinho”, que sempre fez o que
o pai mandou, que cumpriu todas as regras e que nunca pensou em deixar esse
espaço cômodo e acolhedor que é a casa do pai. No entanto, a sua lógica é a
lógica da “justiça” e não a lógica da “misericórdia”. Ele acha que tem créditos
superiores aos do irmão e não compreende nem aceita que o pai queira exercer o
seu direito à misericórdia e que acolha, feliz, o filho rebelde. É a imagem
desses fariseus e escribas que interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca as exigências
da Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica
de Deus.
Lógica de Deus – A “parábola do pai bondoso e misericordioso” pretende
apresentar-nos a lógica de Deus. Deus é o Pai bondoso, que respeita
absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem
essa liberdade para procurar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o
que acontecer, continua a amar e a esperar ansiosamente o regresso dos filhos
rebeldes. Quando os reencontra, acolhe-os com amor e reintegra-os na sua
família. Essa é a alegria de Deus. É esse Deus de amor, de bondade, de
misericórdia, que se alegra quando o filho regressa que nós, às vezes filhos
rebeldes, temos a certeza de encontrar quando voltamos.
Convite – A parábola pretende ser também um convite a deixarmos-nos
arrastar por esta dinâmica de amor no julgamento que fazemos dos nossos irmãos.
Mais do que pela “justiça”, que nos deixemos guiar pela misericórdia, na linha
de Deus.
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