Neste 23 de abril a Igreja Católica
comemora São Jorge (viveu entre os anos de 275 e 303). É um dos santos mais
queridos da Igreja, sendo até nome de novela da Rede Globo (Salve Jorge). É o
nosso assunto de hoje.
São Jorge? – Mas, afinal! Ainda existe
o santo de nome São Jorge? Ele não havia sido retirado do catálogo de santos da
Igreja Católica? Não teria sido “cassado”? Esta é uma pitoresca história que
merece ser contada.
Cassados? – Em 1965 a Igreja Católica
publicou uma lista de santos cujas histórias não tinham comprovação.
Atribuíam-lhes ditos e feitos maravilhosos, destituídos de fundamento
histórico. Tais crendices populares se propagavam rapidamente, pois os antigos
careciam de apurado senso crítico. Alguns deles, não existe nem a comprovação
de que tenham existido. Entre esses santos, os mais conhecidos são Santa
Filomena, Santa Bárbara, Santa Catarina de Alexandria, São Lourenço, São Jorge,
etc.
Dom Paulo – Dom Paulo Evaristo Arns
foi arcebispo de São Paulo e conhecido como apaixonado torcedor do Corinthians,
chegando a posar com a bandeira do clube na capa de uma revista esportiva. Em
2004, Dom Paulo lançou o livro “Corintiano graças a Deus” (Editora Planeta,
138p.) em que faz surpreendentes crônicas sobre seu amor ao clube, seu fascínio
pelo futebol e sua convicção de que, apesar das diferenças de credo ou
ideologias, um único propósito pode unir todos os homens.
São Jorge – Na década de 1960, o
arcebispo, conhecendo o plano de reordenamento do calendário oficial da
liturgia da Igreja Católica, se surpreendeu com a pretensão do Vaticano em
“cassar” São Jorge, o santo padroeiro e protetor do Corinthians. Deve-se
lembrar também que São Jorge é o padroeiro da Inglaterra e da cidade do Rio de Janeiro. Dom Paulo precisava tomar
alguma providência para que a “cassação” não ocorresse.
Carta – Resolveu, então, escrever uma
carta ao Papa Paulo VI, seu velho amigo e conhecido por gostar de futebol. O
texto dizia: “Santo Padre, o nosso povo não está entendendo direito a questão.
São Jorge é muito popular no Brasil, sobretudo entre a imensa torcida do
Corinthians, o clube de futebol mais popular de São Paulo”.
Resposta – Paulo VI entendeu o
problema: "Não podemos prejudicar nem a Inglaterra nem o Corinthians"
afirmou o papa, resolvendo a questão. Dom Paulo guarda até hoje o bilhete do
pontífice. Desta forma São Jorge foi mantido no catálogo dos santos da Igreja
Católica.
Mais Corinthians – Em 1980, durante os
preparativos da visita de João Paulo II ao Brasil, Dom Paulo foi procurado por
Vicente Matheus, presidente do Corinthians, para que o Papa visitasse o local
da construção do futuro estádio do Timão: “Dom Paulo, o papa não pode vir a São
Paulo e não conhecer o Corinthians. Ele precisa abençoar nosso campo, nosso
projeto. Senão é como se ele não tivesse vindo para o Brasil”.
Menos, menos – Dom Paulo tentou
amenizar a euforia do presidente: “Mas seu Matheus. É muito difícil convencer o
papa a visitar um clube de futebol, ainda por cima um estádio que não saiu do
projeto”. Em seguida, encaminhou-o até um de seus colaboradores da Cúria, um
vigário-geral palmeirense até os ossos. Ele era quem tratava do roteiro de João
Paulo II. Pouco depois, o presidente voltava a Dom Paulo, sem esconder sua
decepção. O vigário-geral alegara que a área era distante do roteiro que o
pontífice faria. Ficaria para uma segunda vez – que jamais houve.
Solução – Anos depois, D. Paulo foi
procurado por dona Marlene Matheus, esposa do presidente, e veio a solução. “Se
o Papa não pode vir ao Corinthians, o Corinthians vai até o Papa. Vou a Roma”.
Dona Marlene arrumou uma bela imagem de São Jorge e pediu a Dom Paulo para
conseguir uma audiência com o Papa João Paulo II. Dom Paulo conseguiu à
primeira-dama alvinegra um lugar na primeira fileira de uma audiência com João
Paulo II, numa quarta-feira. Neste dia, o Papa tocou na imagem de São Jorge. O
Corinthians foi campeão naquele ano.
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