No Evangelho
das missas deste domingo, os discípulos de Jesus são enviados ao mundo para
continuar a obra libertadora que Jesus começou e para propor a Boa Nova do
Reino aos homens de toda a terra, sem exceção; devem fazê-lo com urgência, com
simplicidade e com amor. Na ação dos discípulos, torna-se realidade a vitória
do Reino sobre tudo aquilo que oprime e escraviza o homem.
Caminhada – O Evangelho
situa-nos, outra vez, no contexto da caminhada de Jesus para Jerusalém.
Apresenta-nos mais uma etapa desse “caminho espiritual”, durante o qual Jesus
vai oferecendo aos discípulos a plenitude da revelação do Pai e preparando-os
para continuar, após a sua partida, a missão de levar o Evangelho a todos os
homens.
Catequese – A história do
envio dos 72 discípulos é uma tradição exclusiva de Lucas. Seria uma história
estranha e inesperada, se a víssemos como um relato fotográfico de
acontecimentos concretos: de onde vêm estes 72, que não são nomeados nem por
Mateus nem por Marcos e que aqui aparecem surgidos do nada? Trata-se,
fundamentalmente, de uma catequese por meio da qual Lucas propõe, aos discípulos
de todas as épocas, uma reflexão sobre a missão da Igreja, em caminhada pelo
mundo. Lucas ensina que o cristão tem de continuar no mundo a missão de Jesus,
tornando-se, para todos os homens, testemunha dessa proposta de
salvação/libertação que Cristo veio trazer.
Dois a dois – O texto
começa apresentando o número dos discípulos enviados: 72. Trata-se,
evidentemente, de um número simbólico, que se refere à totalidade das nações
pagãs que habitam a Terra. Significa, portanto, que a proposta de Jesus é uma
proposta universal, destinada a todos os povos, de todas as raças. Depois,
Lucas assinala que os discípulos foram enviados dois a dois. Trata-se de
assegurar que o seu testemunho tem valor jurídico (Dt 17,6; 19,15); e trata-se
de sugerir que o anúncio do Evangelho é uma tarefa comunitária, que não é feita
por iniciativa pessoal e própria, mas, em comunhão com os irmãos.
Testemunho – Lucas indica,
ainda, que os discípulos são enviados às aldeias e localidades onde Jesus
“devia de ir”. Dessa forma, indica que a tarefa dos discípulos não é pregar a
sua própria mensagem, mas preparar o caminho de Jesus e dar testemunho d’Ele.
Depois desta apresentação inicial, Lucas passa a descrever a forma como a
missão se deve concretizar.
Cordeiros – Há, em
primeiro lugar, um aviso sobre a dificuldade da missão: os discípulos são
enviados “como cordeiros para o meio de lobos”. Trata-se de uma imagem que, no
Antigo Testamento, descreve a situação do justo, perdido no meio dos pagãos.
Aqui, expressa a situação do discípulo fiel, frente à hostilidade do mundo.
Simplicidade – Há, em
segundo lugar, uma exigência de pobreza e simplicidade para os discípulos em
missão: os discípulos não devem levar consigo nem bolsa, nem alforje, nem
sandálias; não devem deter-se a saudar ninguém pelo caminho; também não devem
saltar de casa em casa. As indicações de não levar nada para o caminho sugerem
que a força do Evangelho não reside nos meios materiais, mas na força
libertadora da Palavra; a indicação de não saudar ninguém pelo caminho demonstra
a urgência da missão; a indicação de que não devem saltar de casa em casa
sugere que a preocupação fundamental dos discípulos deve ser a dedicação total
à missão e não a de encontrar uma hospitalidade mais confortável.
Anúncio – Qual deve ser o
anúncio fundamental que os discípulos apresentam? Eles devem começar por
anunciar “a paz”. Aqui, não se trata apenas da saudação normal entre os judeus,
mas do anúncio dessa paz messiânica que preside ao Reino. É o anúncio desse
mundo novo de fraternidade, de harmonia com Deus e com os outros, de bem-estar,
de felicidade (tudo aquilo que é sugerido pela palavra hebraica “shalom”). Esse
anúncio deve ser complementado por gestos concretos de libertação, que mostrem
a presença do Reino no meio dos homens.
Poeira – As palavras
de ameaça às cidades que se recusam a acolher a mensagem (Até a poeira desta
cidade que grudou nos nossos pés nós sacudimos contra vocês!) não devem ser
tomadas ao pé da letra: são uma forma bem oriental de sugerir que a rejeição do
Reino trará conseqüências trágicas à vida daqueles que escolhem continuar a
viver em caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência.
Resultado – Nos versículos
17-20, Lucas refere-se ao resultado da ação missionária dos discípulos. As
palavras com que Jesus acolhe os discípulos descrevem, figuradamente, a
presença do Reino enquanto realidade libertadora. Apesar do êxito da missão,
Jesus põe os discípulos de sobreaviso para o orgulho pela obra feita: eles não
devem ficar contentes pelo poder que lhes foi confiado, mas sim porque os seus
nomes estão “inscritos no céu” (a imagem de um livro onde estão inscritos os
nomes dos eleitos é freqüente nesta época, particularmente nos apocalipses –
veja em Dn 12,1; Ap 3,5; 13,8; 17,8; 20,12.15; 21,27).
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