No Evangelho
das missas deste domingo é discutida a questão da partilha dos bens (Lc 12,13-21).
Questão – Um homem
queixa-se a Jesus porque o irmão não quer repartir com ele a herança. Segundo
as tradições judaicas, o filho primogênito de uma família de dois irmãos
recebia dois terços das possessões paternas (Dt 21,17). Normalmente, apenas
eram repartidos os bens móveis; para guardar intacto o patrimônio da família, a
casa e as terras eram atribuídas ao primogênito. O homem que interpela Jesus é,
provavelmente, o irmão mais novo, que ainda não tinha recebido nada. No tempo
de Jesus, era freqüente que os “doutores da lei” assumissem o papel de juízes em casos similares. Como
é que Jesus se vai situar face a esta questão?
Cobiça – Jesus,
delicadamente, evita envolver-se em questões de direito familiar e a tomar
posição por um irmão contra outro (“Amigo, quem foi que me encarregou de julgar
ou dividir os bens entre vocês?”). O que estava em causa na questão era a
cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo ao dinheiro. O dinheiro não é a
fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é
idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas
do homem, não conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do
“Reino” não é a lógica de quem vive para os bens materiais; quem quiser viver
na dinâmica do Reino deverá ter isto presente.
Bens materiais – Ressoa com
todas as letras a advertência de Jesus para os seus discípulos: “Atenção!
Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância”. Cumpre assinalar que o evangelho
não nega o valor nem a necessidade de bens materiais. Afinal, sem eles, não
seria possível ter uma vida digna e humana – algo que Deus quer para todos nós.
A luta não é contra os bens, mas contra a ganância, o egoísmo, a acumulação, a
confiança no aumento dos bens como valor supremo das nossas vidas. Se foi
importante fazer essa advertência há quase dois mil anos, imagine hoje, no
mundo em que vivemos, mergulhados no consumismo e materialismo...
Parábola – Na sequência,
Jesus apresenta a parábola que ilustra a atitude do homem voltado para os bens
perecíveis, mas que se esquece do essencial – aquilo que dá a vida em
plenitude. Apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador (que até
poderíamos admirar e louvar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive
apenas para os bens, que lhe asseguram tranquilidade e bem-estar material (e
nisso, já não o podemos louvar e admirar).
Meu, minha – Chama a
atenção o número de vezes que o homem rico da parábola usa as palavras “eu”,
“meu” “minha” – é um homem totalmente fechado no seu mundinho, encerrado em si
mesmo, sem sensibilidade diante dos sofrimentos e necessidades dos outros. Representa,
assim, todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo de
todo o resto (inclusive Deus, a família e os outros); representa todos aqueles
que vivem uma relação de “circuito fechado” com os bens materiais, que fizeram
deles o seu deus pessoal e que esqueceram que não é aí que está o sentido mais
fundamental da existência humana.
Escravidão – O que é que
Jesus pretende, ao contar esta história? Pretende dizer-nos que não podemos
viver escravos do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa
mais importante da nossa vida. A preocupação excessiva com os bens, a busca
obsessiva de ter cada vez mais constitui uma experiência de egoísmo, de
fechamento, de desumanização, que centra o homem em si próprio e o impede de
estar disponível e de ter espaço na sua vida para os valores verdadeiramente
importantes – os valores do Reino.
Conta bancária – Quando o
coração está cheio de cobiça, de avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um
combate obsessivo pelo “ter”, quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de
acumular, o homem torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar,
de escravizar o irmão, de cometer injustiças para ampliar a sua conta bancária.
Torna-se orgulhoso e autossuficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se
preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino.
Louco – E Jesus o
chama de “louco” por colocar o sentido da sua vida na acumulação de riquezas,
achando que isso lhe traria a felicidade por si. A pergunta que Jesus faz – “E as
coisas que você preparou, para quem vão ficar?” (v.20) – levanta uma questão fundamental,
que todos nós temos que responder: qual é o sentido da nossa vida? O que é realmente
importante? Sobre o que baseamos a nossa felicidade? Pois tudo passará – e então
seria tolice fundamentar a nossa felicidade sobre algo que necessariamente vai
acabar. É um convite para que achemos o alicerce firme para a nossa caminhada,
para a nossa felicidade. Podemos construir as nossas vidas sobre a areia (movediça,
sem firmeza) ou sobre a rocha (firme e imutável); sobre coisas efêmeras ou
sobre Deus e o seu projeto de solidariedade, fraternidade e partilha.
O homem da parábola terminou a sua vida na frustração, perdeu tudo, e a sua vida acabou sem sentido. E Jesus nos adverte: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus!”. – A escolha é nossa!
O homem da parábola terminou a sua vida na frustração, perdeu tudo, e a sua vida acabou sem sentido. E Jesus nos adverte: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus!”. – A escolha é nossa!
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