sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Jesus cura dez leprosos


No Evangelho deste domingo (Lc 17,11-19), dez leprosos vêm ao encontro de Jesus e param a certa distância dele, pois, pela Lei, o leproso não podia aproximar-se das demais pessoas. Pedem pela misericórdia de Jesus. Este pede que eles se apresentem aos sacerdotes; esta apresentação deveria ser feita depois da cura. Com isto, Jesus insinuava que já lhes tinha dado a cura e, assim, ao seguirem para Jerusalém, para se apresentarem aos sacerdotes do Templo, ficaram curados. Contudo, só um deles, que era samaritano, sentindo-se curado, percebeu que a fonte da vida é Jesus e não o Templo. Ao compreender isso, volta para junto de Jesus e lhe agradece. Os outros nove, embora também tivessem sido curados, continuavam atrelados aos preceitos do judaísmo, seguindo seu caminho para Jerusalém.

Marginalidade – No tempo de Jesus, aquele que era acometido pela lepra ficava totalmente marginalizado… Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, esse doente era tido como um impuro (Lev 13-14), a quem a teologia oficial atribuía pecados especialmente graves (a lepra era vista como castigo de Deus para esses pecados). Por tais razões, não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a fim de não tornar impura a cidade santa.

Cura – O doente devia afastar-se de qualquer convívio humano, para que não contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele a comprovasse e permitisse sua volta à vida normal (Lev 14). Podia, então, participar novamente das celebrações do culto.

Samaritano – Um dos leprosos era samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por causa do seu sincretismo religioso. A desconfiança religiosa dos judeus em relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se… Após o regresso do exílio da Babilônia, os habitantes de Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e evitaram os contatos com eles, pois eram uma “raça misturada com pagãos”. A construção de um santuário samaritano no monte Garizim consumou a separação e, na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da infidelidade a Javé. Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.

Libertação – O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) tem por objetivo fundamental apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação (e libertação) a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados. É esse o ponto de partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens.

Dez – O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem exceção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.


Reconhecer o dom de Deus – A ênfase desse episódio está no fato de que, dos dez leprosos curados, só um, o samaritano, voltou para agradecer a Jesus. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus. Haverá aqui, certamente, uma alusão à autossuficiência dos judeus que, por se sentirem “Povo eleito”, achavam natural que Deus os cumulasse dos seus dons. No entanto, não reconheceram a proposta de salvação que, através de Jesus, Deus lhes ofereceu… Certamente haverá aqui, também, um apelo aos discípulos de Jesus, para que não ignorem o dom de Deus e saibam responder-Lhe com a gratidão e a fé.

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