No Evangelho das missas deste domingo (Lc 18, 1-8) Jesus
propôs uma parábola sobre a necessidade de orar. Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, sobre esta liturgia.
Orar – O evangelho começa assim: “Jesus propôs-lhes uma
parábola para mostrar que é necessário orar sem jamais deixar de fazê-lo”. A
parábola é a do juiz iníquo. À pergunta: “Quantas vezes é preciso orar?”. Jesus
responde: sempre! A oração, como o amor, não suporta o cálculo das vezes.
Deve-se perguntar talvez quantas vezes ao dia uma mãe ama seu filho, ou um
amigo a seu amigo? Pode-se amar com grandes diferenças de consciência, mas não
a intervalos mais ou menos regulares. Assim também é a oração.
Oração – Este ideal de oração contínua se levou a cabo, em
diversas formas, tanto no Oriente como no Ocidente. A espiritualidade oriental
a praticou com a chamada oração de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, tende piedade
de mim”. O Ocidente formulou o princípio de uma oração contínua, mas de forma
mais dúctil, tanto como para poder ser proposta a todos, não só àqueles que
fazem profissão explícita de vida monástica. Santo Agostinho diz que a essência
da oração é o desejo. Se o desejo é de Deus contínuo, contínua é também a
oração; se faltar o desejo interior, pode-se gritar o quanto for; para Deus,
estaremos mudos. Este desejo secreto de Deus, feito de lembrança, de
necessidade de infinito, de nostalgia de Deus, pode permanecer vivo inclusive
enquanto se está obrigado a realizar outras coisas: “Orar longamente não equivale
a estar muito tempo de joelhos ou com as mãos unidas ou dizendo muitas
palavras. Consiste mais em suscitar um contínuo e devoto impulso do coração
para Aquele a quem invocamos”.
Jesus – Jesus nos deu, em primeira pessoa, o exemplo da oração
incessante. Dele se diz nos evangelhos que orava de dia, ao cair da tarde, pela
manhã, e que passava às vezes toda a noite em oração. A oração era o tecido
conectivo de toda sua vida.
Concentração – Mas o exemplo de Cristo nos diz também outra coisa
importante. É ilusório pensar que se pode orar sempre, fazer da oração uma espécie
de respiração constante da alma inclusive em meio às atividades cotidianas, se
não reservamos também tempos fixos nos quais se espera pela oração, livres de
qualquer outra preocupação. Aquele Jesus a quem vemos orar sempre é o mesmo
que, como todo judeu de seu tempo, três vezes por dia – ao sair o sol, na
tarde, durante os sacrifícios do templo, e no pôr-do-sol – parava, se orientava
para o templo de Jerusalém e recitava as orações rituais, entre elas o Shema
Israel, Escuta Israel. No Sábado Ele também participa, com os discípulos, do
culto da sinagoga, e vários episódios evangélicos acontecem precisamente neste
contexto.
Domingo – A Igreja igualmente fixou, pode-se dizer que desde o
primeiro momento de vida, um dia especial para dedicar ao culto e à oração, o
domingo. Todos sabemos em que se converteu, lamentavelmente, o domingo em nossa
sociedade; o esporte, em particular o futebol, de ser um fator de
entretenimento e lazer, se transformou em algo que com frequência envenena o domingo...
Devemos fazer o possível para que este dia volte a ser, como estava na intenção
de Deus ao mandar o descanso festivo, uma jornada de serena alegria que
consolida nossa comunhão com Deus e entre nós, na família e na sociedade.
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