quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A voz que grita no deserto


O Evangelho lido nas missas deste domingo nos apresenta João Batista pregando no deserto. Vamos conhecer um pouco mais sobre João Batista.

Filiação e nascimento – João Batista era filho de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, e de Isabel (Elizabete), parente de Maria Santíssima. O casal não tinha filhos, pois Isabel era estéril, e eram de idade bastante avançada. Durante seu trabalho no Templo, apareceu para Zacarias o anjo Gabriel, comunicando que sua mulher daria à luz um filho. Zacarias ficou mudo até o dia da circuncisão do filho. Depois que Maria recebeu a notícia (do anjo) que ficaria grávida, foi visitar Isabel. Esta, ao ver Maria, pronuncia um dos mais belos salmos da Bíblia: o Magnificat (veja em Lc 1,39-56).

Geografia – João Batista nasceu na cidade de Ain-Karin, distante poucos quilômetros a sudoeste de Jerusalém (na Judéia). Viveu como ermitão no deserto da Judéia até os 27 anos. João chamava os homens para a penitência e batismo, anunciando que o Reino de Deus estava próximo. Ele atraía multidões. Quando Cristo veio até ele, foi reconhecido como o Messias. Recusou batizar Jesus, dizendo que ele que deveria ser batizado pelo Cristo, mas por indicação de Jesus, acabou por fazê-lo.

Confronto – Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia é o confronto entre João Batista e Herodes Antipas, o filho de Herodes Magno (aquele que aparece no nascimento, recebe os magos, assassina as crianças de Belém). Vamos detalhar os fatos, usando os textos do Evangelho de Marcos (Mc 6, 17s) e as citações do historiador Flávio Josefo, no livro Antiguidades Judaicas (XVIII,5,2).

Herodes Antipas – Foi o filho caçula de Herodes, o Grande, e da Samaritana Maltace, uma das dez esposas de seu pai; nasceu por volta do ano 20 a.C. Com a morte de seu pai (4 a.C.) se tornou tetrarca (rei de uma das quatro partes do reino) da Galiléia e Peréia (veja Lc 3,1). Frequentou as melhores escolas de seu tempo, alternando o estudo com os divertimentos e a ociosidade de Roma. Casou-se com a filha de Aretas IV, o rei do perigoso povo Nabateus (da vizinha Arábia). Tinha total confiança e simpatia do Imperador Tibério, a ponto de ser transformado em um espião junto aos magistrados romanos no Oriente.

O escândalo – Por volta do ano 27 d.C., em uma de suas viagens a Roma como informante do imperador, Herodes Antipas hospedou-se na casa de seu irmão por parte de pai, Herodes Filipe (veja Mc 6,17). Este levava uma vida discreta em Roma e havia se casado com sua sobrinha Herodíades. A ocasião foi favorável tanto para a ambiciosa Herodíades (que não se conformava com aquela vida obscura), como para o leviano Antipas, que se apaixonou por ela.

A infidelidade – Os dois juraram-se fidelidade. A pedido de Herodíades o tetrarca prometeu repudiar a esposa assim que retornasse à Galiléia; Herodíades prometeu-lhe abandonar o marido, Filipe, e acompanhá-lo para a Galiléia. A legítima esposa de Antipas, sabendo dos projetos do marido, preferiu não sofrer a humilhação do repúdio, retirando-se para a casa dos pais. Os nabateus, vendo a filha do rei Aretas IV humilhada, invadiram as terras de Antipas, fazendo com que este perdesse toda a estima do imperador.

A união ilegítima – Com o caminho livre, Herodíades viajou para a Galiléia, levando a sua filha, a bela jovem Salomé, e passou a viver com Herodes Antipas.

A denúncia de João Batista – Todo o povo comentava o escândalo do tetrarca, que violara as leis nacionais e religiosas ao contrair aquelas segundas núpcias, que a Lei de Moisés condenava severamente (Lev 20,21). Todos falavam, indignados, dessa união, mas secretamente, temiam represálias. Só o profeta do deserto, respeitado pelo povo e por Antipas (Mc 6,20), João Batista, ousou afrontar o tetrarca, denunciando a união ilegítima com Herodíades (Mc 6,18). Temendo uma revolta popular, Antipas mandou prender João Batista na solitária e majestosa fortaleza de Maqueronte. Herodíades queria silenciar para sempre, com a morte, o austero denunciante.

O Martírio – No dia do aniversário de Herodes, foi oferecido um banquete aos grandes da corte. Salomé (filha de Herodíades) dançou e agradou a todos. O rei, encantado, disse à moça: "Pede o que quiseres e eu te darei, ainda que seja a metade de meu reino". Em dúvida, a moça perguntou a sua mãe: "O que hei de pedir?". Ela respondeu: "A cabeça de João Batista". Salomé pediu ao rei: "Quero que me dês num prato a cabeça de João Batista". Antipas, mesmo contrariado, mandou degolar João no cárcere e entregou a sua cabeça num prato para Salomé (veja Mc 6,21-28).


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