Em depoimento à Justiça
Federal em Brasília na última terça-feira, o ex-ministro da Secretaria de Governo
Geddel
Vieira Lima (PMDB) declarou ter sido jogado em um "vale dos
leprosos". Declarou: “Vejo hoje que amigos, pessoas, de longa data
me lançaram em um vale dos leprosos” (UOL Notícias, 06/02/2018). O que
o ex-ministro Geddel quis dizer com esta frase?
Evangelho – Este pronunciamento coincide com o Evangelho das missas
deste domingo (Mc 1,40-45) que relata Jesus frente a um leproso que pediu: "Se queres, tens o poder de curar-me".
Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: "Eu quero: fica curado!" No mesmo
instante, a lepra desapareceu e ele ficou curado.
A doença – Os leprosos formavam um dos grupos mais marginalizados
da época de Jesus. Eram considerados pecadores e um malditos, vítimas de um
doloroso castigo de Deus. Tinham que
viver isolados, apresentar-se esfarrapados e avisar, aos gritos, o seu estado
de impureza, a fim de que ninguém se aproximasse deles. Não tinham acesso ao
Templo, nem sequer à cidade santa de Jerusalém. Eram obrigados a viver fora da
cidade ou aldeia, longe do convívio social, por motivos higiênicos e religiosos
(Lv 13,45-46). A única esperança do leproso, de ser reintegrado na comunidade,
estava em ser curado por Jesus. Ele diz algo significativo "se queres, tu tens o poder de me curar".
Hanseníase – No Antigo Testamento, em Levítico, capítulo 13,
encontra-se toda uma orientação sobre a doença, seus sinais para identificação
e cuidados em relação aos doentes, mas dificilmente se pode comprovar que se
tratava de hanseníase. É possível que se tratasse de manchas dermatológicas de
outra espécie ou simplesmente casos chamados de "lepra", que incluíam
desde simples infecções da pele até manchas na roupa. Os sacerdotes tinham a
missão de diagnosticar e tratar a doença, visto que se acreditava estar
relacionada a pecados e devia ser combatida através de sacrifícios,
purificações e rituais que incluíam desde a queima de objetos pessoais até o
contato direto do doente com aquilo que se julgava puro, como um pássaro, uma
erva ou a água.
Fé e milagre – No Evangelho de Marcos, Jesus nunca faz milagre para
despertar a fé – pelo contrário só faz onde a fé já existe. O milagre em Marcos
nunca causa a fé, mas é a fé que causa o milagre. É importante recordar isso no
nosso mundo tão afoito em correr atrás de supostos milagres e milagreiros,
pouco adepto a aprofundar a fé em Jesus no seguimento dele até a cruz. O
Evangelho de Marcos tem pouco lugar para a religião de "ôba-ôba", tão
em voga hoje nas diversas denominações cristãs, incluindo a Católica.
Segredo – Depois da cura do leproso, encontramos um elemento
característico do Evangelho de Marcos – o tal "segredo messiânico".
Jesus proíbe que ele conte para os outros a história da cura, pois não quer que
o povo O siga buscando prodígios e milagres, mas quer que todos se tornem seus
discípulos como o Servo de Javé, pegando a sua cruz na luta por um mundo
melhor, a concretização do Reino de Deus. É de desconfiar, portanto, de
pregações e celebrações religiosas que se limitam somente a experiências
intimistas de Deus, sem um engajamento na transformação do mundo e das suas
estruturas.
Vivência comunitária – Finalmente, o homem deve apresentar-se aos
sacerdotes para que a sua cura seja autenticada, segundo as leis levíticas. Para
Jesus não basta a cura individual – Ele quer que todas as pessoas sejam
integradas numa vivência comunitária sem marginalização por causa de gênero,
classe social, raça, cor ou saúde! A fé em Jesus leva a um mundo totalmente
diferente do mundo de exclusão que é a nossa atual sociedade neoliberal e consumista!
Inclusão – E diante dessa boa-nova de inclusão, o povo excluído
corre atrás de Jesus, pois ele manifesta a verdadeira face de Deus a eles: o
Deus de bondade e perdão, cujo rosto tinha sido escondido pelas leis de puro e
impuro do Templo e pelo sistema farisaico da época - "e de toda parte as
pessoas iam procurá-lo".
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