Neste
domingo celebramos a Páscoa cristã. O texto do Evangelho lido nas missas é
padrão para esta comemoração: Jo 20,1-9.
Novo tempo –
O texto começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser
entendida sobretudo em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Significa
que começou um novo ciclo – o da nova criação, o da Páscoa definitiva. Aqui
começa um novo tempo, o tempo do homem novo, que nasce a partir da doação de
Jesus.
Madalena –
A primeira personagem em cena é Maria Madalena : ela é a primeira a
dirigir-se ao túmulo de Jesus (ainda o sol não tinha nascido), na manhã do
“primeiro dia da semana”. Ela representa a nova comunidade, que nasceu da ação
criadora e vivificadora do Messias; essa nova comunidade, testemunha da cruz, inicialmente
acredita que a morte triunfou e vai procurar Jesus no sepulcro: é uma comunidade
perdida, desorientada, insegura, desamparada, que ainda não conseguiu descobrir
que a morte foi derrotada; mas, diante do sepulcro vazio, a nova comunidade
apercebe-se de que a morte não venceu e que Jesus continua vivo.
Discípulos –
Na seqüência, o autor do quarto Evangelho apresenta uma catequese sobre a dupla
atitude dos discípulos diante do mistério da morte e da ressurreição de Jesus.
Essa dupla atitude é expressa no comportamento de dois discípulos que, na manhã
da Páscoa, correm ao túmulo de Jesus: Simão Pedro e um “outro discípulo” não
identificado (mas que parece ser o “discípulo amado”, apresentado no Quarto
Evangelho como modelo ideal do discípulo).
Discípulo Amado –
O autor coloca estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias: na
última ceia, é o “discípulo amado” que percebe quem está do lado de Jesus e
quem O vai trair (Jo 13,23-25); na paixão, é ele que consegue estar perto de
Jesus no átrio do sumo sacerdote, enquanto Pedro O trai (Jo 18,15-18.25-27); é
ele que está junto da cruz quando Jesus morre (Jo 19,25-27); é ele quem
reconhece Jesus ressuscitado nesse vulto que aparece aos discípulos no lago de
Tiberíades (Jo 21,7). Nas outras vezes, o “discípulo amado” levou sempre
vantagem sobre Pedro. Aqui, isso irá acontecer outra vez: o “outro discípulo”
correu mais e chegou ao túmulo primeiro que Pedro (o fato de se dizer que ele
não entrou logo pode querer significar a sua deferência e o seu amor, que
resultam da sua sintonia com Jesus); e, depois de ver, “acreditou” (o mesmo não
se diz de Pedro).
Morte e ressurreição -
Provavelmente, o autor do Quarto Evangelho quis descrever, através destas
figuras, o impacto produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes
disposições existentes entre os membros da comunidade cristã. Em geral Pedro
representa, nos Evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a morte significa
fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da
cruz (Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23). Ao contrário,
o “outro discípulo” é o “discípulo amado”, que está sempre próximo de Jesus,
que faz a experiência do amor de Jesus; por isso, corre ao seu encontro de
forma mais decidida e “percebe” – porque só quem ama muito percebe certas
coisas que passam despercebidas aos outros – que a morte não pôs fim à vida.
Homem Novo –
Esse “outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em
sintonia total com Jesus, que corre ao seu encontro com um total empenho, que
compreende os sinais e que descobre (porque o amor leva à descoberta) que Jesus
está vivo. Ele é o paradigma do Homem Novo, do homem recriado por Jesus.
Que
a mensagem da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, nos anime e dê
força, especialmente quando a Cruz
pesar muito em nossas vidas.
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