sexta-feira, 2 de março de 2018

JESUS E O TEMPLO



O episódio apresentado no Evangelho deste domingo (Jo 2,13-25) mostra Jesus numa cena pouco comum: usando um chicote, ele expulsa os vendedores do Templo e discute com os judeus sobre a destruição do Templo.

O Templo – A cena acontece na Páscoa, março do ano 28 d.C., no Templo de Jerusalém. Trata-se do majestoso edifício construído por Herodes, para demonstrar as suas boas disposições para com o culto a Deus e conseguir a benevolência dos judeus. A construção do Templo iniciou-se em 19 a.C. e ficou pronta no ano 9 d.C. (embora os trabalhos só tivessem sido dados por concluídos em 63 d.C.). No início do ano 28 d.C., o Templo estava no seu 46º ano de construção e ainda não estava terminado, conforme a observação que os dirigentes judeus fizeram a Jesus (Jo 2,20).

Páscoa do ano 28 – João situa o episódio nos dias que antecedem a festa da Páscoa. Era a época em que as grandes multidões se concentravam em Jerusalém, para celebrar a principal festa do calendário religioso judaico. Jerusalém, que normalmente teria por volta de 55.000 habitantes, chegava a ter 125.000 peregrinos nessa ocasião. No Templo, durante a Páscoa, sacrificavam-se cerca de 18.000 cordeiros.

Comércio – Nesta época, o comércio relacionado com o Templo era muito grande. Três semanas antes da Páscoa, começava a emissão de licenças para a instalação dos postos comerciais em volta do Templo. O dinheiro arrecadado com a emissão dessas licenças era direcionado ao sumo-sacerdote. Havia tendas de venda que pertenciam diretamente à família do sumo-sacerdote. Os animais eram vendidos para os sacrifícios e vários outros produtos destinavam-se à liturgia do Templo. Havia também, as tendas dos cambistas, os quais trocavam moedas romanas correntes por moedas judaicas (os tributos dos fiéis para o Templo eram pagos em moeda judaica, pois ali não eram permitidas moedas com a efígie de imperadores pagãos). Este comércio era de grande importância para a economia da cidade e sustentava a nobreza sacerdotal, o clero e os empregados do Templo.

Gesto profético – Os profetas tinham criticado os sacrifícios que Israel oferecia a Deus, considerando-os como ritos estéreis, vazios e sem significado (não representavam amor a Deus). Também, acreditavam que a chegada do Messias estava ligada à purificação e à moralização do culto prestado a Deus no Templo. O profeta Zacarias liga, explicitamente, o “dia do Senhor” (vinda do Messias) com a purificação do culto e a eliminação dos comerciantes que estão “no Templo do Senhor do universo” (Zac 14,21).

O Messias – O comportamento de Jesus no Templo deve ser visto conforme estas profecias. Quando Jesus pega no chicote de cordas e expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, bois e pombas, acaba com o lucro dos banqueiros e derruba as mesas dos cambistas (v. 14-16); concretamente, está se revelando como “o messias” e anunciando a chegada de novos tempos, os tempos messiânicos.

O Culto – No entanto, Jesus vai bem mais além dos profetas. Ao expulsar do Templo também, as ovelhas e os bois que serviam para os ritos sacrificais que Israel oferecia a Deus, Jesus mostra que não propõe apenas uma reforma, mas a abolição do próprio culto. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus. Jesus, o Filho, com a autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro “basta” a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a pactuar: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio” (v. 16).

Três dias – Os líderes judaicos ficam indignados. Qual a autoridade de Jesus para abolir o culto oficial prestado a Deus? A resposta de Jesus é estranha: “destruí este Templo e Eu o reconstruirei em três dias” (v. 19). O evangelista deixa claro que Jesus não se referia ao Templo de pedra, onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos, mas a outro “Templo”, que é o próprio Jesus (o seu corpo). O que é que isto significa? Jesus desafia os líderes que o questionaram a suprimir o Templo que é Ele próprio, mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra vez erigido no meio dos homens. Jesus se refere à sua ressurreição, garantia que Ele vem de Deus e que a sua atuação tem o “selo de garantia” de Deus.

Novo Templo – No entanto, o mais notável aqui, é que Jesus se apresenta como o “novo Templo”. O Templo representava, no universo religioso judaico, a residência de Deus, o lugar onde Deus se revelava e onde se tornava presente no meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde se encontra com os homens e onde se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai oferece aos homens o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer – estabelecer relação entre Deus e os homens – é Jesus que, a partir de agora, o faz.

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