Quem era? Pilatos foi governador da Judéia e
Samaria do ano 26 a 36 d.C., em substituição a Arquelau (filho de Herodes, o
Grande). Governava com base na cidade de Cesaréia, com 5600 soldados. Quando
viajava para Jerusalém, residia na fortaleza Antonia, ao lado do Templo. Tinha aversão
aos judeus e seus sacerdotes. O historiador Flavio Josefo (no livro Guerra dos
Judeus) conta dois episódios entre Pilatos e os judeus: logo que chegou à
Jerusalém, Pilatos distribuiu imagens (bustos) do imperador Tibério pela
cidade, causando uma grande revolta; depois, Pilatos se apropriou (usando
violência) dos tesouros do Templo para financiar um aqueduto (de 50 km) para
trazer água para a cidade.
Julgamento de Jesus – Na leitura da Paixão de Cristo, nos
Evangelhos, Pilatos recebe a comitiva dos chefes dos sacerdotes judeus (do
Sinédrio), pedindo a condenação à morte de Jesus. Fica clara a postura de
Pilatos em absolver o condenado (não que nutria alguma admiração por Jesus),
mas via uma boa oportunidade de se opor aos sacerdotes judaicos.
Ainda o julgamento – Usou três estratégias na tentativa da
absolvição: primeiro,
enviou o prisioneiro a Herodes Antipas, o rei da Galiléia. Fracassou, pois
Herodes mandou Jesus de volta. A segunda tentativa (já que nem ele nem Herodes
não viam culpa em Jesus) foi dar como pena o açoite, para colocá-lo em
liberdade. Também não deu certo, pois os judeus continuavam pedindo para
crucificá-lo. A terceira tentativa foi
colocar Jesus junto com Barrabás, para o povo escolher quem teria a liberdade.
Também não deu certo.
Ameaça – Com o povo gritando: "Só temos um
rei, que é César", Pilatos não tinha mais saída. A sua obediência (e
temor) ao Imperador Tibério bloqueavam as suas ações. Num gesto inusitado (e
até teatral), mostrando que conhecia as tradições judaicas, pediu uma bacia com
água e lavou as mãos, livrando-se de qualquer responsabilidade do que viria a
acontecer com Jesus. Cabe lembrar que “lavar as mãos” era uma maneira judaica
(não romana) de expressar a não-participação em derramamento de sangue
(Deuteronômio 21,6-7).
Cristãos – O último evento registrado da carreira
de Pilatos foi uma intervenção militar no Monte Garizim (ano 36), onde muitos
Samaritanos foram mortos. Após este conflito, Pilatos foi chamado a Roma para
explicar suas ações ao imperador (Tibério faleceu antes de ouvir Pilatos). Segundo
os autores cristãos Tertuliano (autor cristão, padre apostólico, viveu entre
160 e 220 d.C) e Eusébio de Cesaréia (bispo de Cesaréia e pai da história da
Igreja, viveu entre 263 e 339), o imperador Tibério, baseado no relatório de
Pilatos sobre Jesus, apresentou ao Senado Romano os fatos que haviam acontecido
na Palestina, que revelavam a divindade de Cristo, propondo o reconhecimento da
religião cristã. O Senado rejeitou a proposta, adiando em 300 anos a
proclamação, que viria com Constantino.
Santo? – Existem três hipóteses para a morte de
Pilatos: foi punido e exilado pelo imperador Calígula; suicidou-se no exílio
(na Gália); converteu-se, com a cumplicidade da esposa, ao cristianismo. Se
essa história contada por Tertuliano e Eusébio for verdadeira, a figura do
Governador da Judéia merece ser revisitada; aquela manhã de 7 de abril do ano
30 (julgamento de Jesus) realmente mudou a sua vida. Por estes fatos, as
igrejas Ortodoxa e Ortodoxa Etíope promoveram a canonização de Pilatos e de sua
esposa (Cláudia Prócula).
Pilatos – Há uma densa escuridão sobre o destino
desse homem que veio a fazer parte inclusive do Credo. Como conclusão, podemos
citar o personagem Pilatos no filme Jesus
Cristo Superstar, que canta angustiado: "Sonhei que milhares de
pessoas, por milhares de anos, repetirão todos os dias o meu nome. E também
dirão que foi culpa minha".
Quer ler mais? – Gostou da
história de Pilatos? Podemos lhe oferecer por E-mail os seguintes textos
apócrifos: Cartas de Pilatos ao imperador, com as respostas; Cartas de Pilatos
a Herodes, com respostas; Relatório de Pilatos ao imperador sobre a morte de
Jesus; Julgamento, condenação e morte de Pilatos; Sentença de condenação de
Jesus emitida por Pilatos; Evangelho de
Nicodemus.
Outros textos: “Encontros com Jesus” de autoria de Stefano Zurlo (4 pág); “Diante de seus
juízes” de autoria de Yann Le Bohec (4
pag); “Guerra Judaica” de Flavio Josefo (1627 pag). Todos os textos em
Português.
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