sábado, 13 de julho de 2019

A logística de uma viagem no tempo de Jesus



No Evangelho das missas deste domingo (Lc 10,25-37), o evangelista Lucas apresenta a parábola do “Bom Samaritano”.  Jesus e seus apóstolos estão viajando da Galiléia para Jerusalém, quando são questionados por um doutor da Lei. Mas, vocês sabem como eram realizadas as viagens na época de Jesus?

Forma de viajar – As viagens eram realizadas a pé (quando participavam homens), ou sobre algum animal (quando havia alguma dificuldade de caminhar) ou com o uso de carroças (formando caravanas). Segundo a tradição, a viagem de José e Maria (grávida) de Nazaré para Belém foi realizada com Maria montada sobre um animal de carga e a viagem dos Magos foi sobre camelos (embora os Evangelhos nada descrevam). A viagem de Jesus (com 12 anos) à Jerusalém foi realizada em caravana (Lc 2, 44).

Tempo de viagem – As viagens eram realizadas apenas durante o dia e isso permitia o deslocamento diário de aproximadamente 40 km (talvez um pouco mais, quando havia somente homens e seguiam a pé). No episódio em que, aos doze anos, Jesus ficou em Jerusalém e José e Maria, em caravana, caminharam um dia inteiro (Lc 2, 41), eles se distanciaram cerca de 40 km de Jerusalém.

Um plano de viagem – Para a viagem de Jesus e os apóstolos de Jerusalém até a Galiléia (Cafarnaum) provavelmente o plano seria o seguinte: uma primeira etapa, de Jerusalém até Jericó (183 estádios ou 34 km); a segunda etapa, de Jericó até o monte Gilboa (50 km); e, uma terceira etapa, até Cafarnaum, de 46 km. O estádio era uma medida romana que equivalia a 600 pés ou 185 metros.

Preparação para a viagem – Nessa época, a viagem era preparada já durante a noite anterior. O trigo era colocado na moenda, acionada pelos criados. Após horas de trabalho, as mós eram desmontadas e o trigo moído era peneirado e depositado num saco para a viagem. Outra parte da farinha era amassada e cozida, formando os pães para a refeição antes da partida.

Refeição – Por volta das 4 horas da manhã, eram servidos os pães (roscas de trigo) com azeite, acompanhados de tigelas de leite de cabra, quente. Após a refeição, com o dia já clareando, cada homem separava o seu material e montava a sua mochila para a viagem.

Cantil – Cada viajante deveria tomar um par de sandálias de reserva (amarradas na cintura) e um cantil (uma cabaça seca e oca) preso a uma corda. Essas cabaças deveriam ter em seu interior uma pedra (pedregulho) para torná-las mais pesadas, permitindo tirar água dos poços sem a necessidade de recorrer aos serviços de homem ou mulher impuros.

Água – A água era transportada em um odre (saco de pele para transporte de líquidos) com capacidade entre 30 e 40 litros, preso a um par correias. O viajante deveria carregar o odre nas costas, deixando o gargalo virado para baixo, o que facilitava para que os outros se servissem da água. À água era misturado um pouco de vinho fermentado, o que dava à bebida um toque mais agradável e refrescante.

Tarefas – Um homem deveria se encarregar do transporte da água. Outros dois homens seriam os responsáveis pela lona e os suportes (paus de conífera, como pinheiros), para a montagem da tenda de campanha. Outro deveria ser o responsável pela estratégia de viagem (itinerário, tempos, locais de acampamento, poços). Havia ainda um tesoureiro, responsável por levar o saco com o dinheiro na cinta.

Mais tarefas – O saco de mantimentos era carregado por um ou dois homens. Os gêneros alimentícios consistiam em legumes (favas e lentilhas), grão torrado, cominhos e hortelã-pimenta (para temperar a comida), um jarro de mel branco e um bom sortimento de passas, tâmaras e figos secos, que eram prensados, tornando-se uma espécie de pão escuro e brilhante. Tudo isso, com uma porção de farinha moída, constituía uma dieta aceitável, suficiente para três ou quatro dias de viagem.

Vestimenta – Obedecendo a outro velho hábito, enrolava-se o respectivo sudário à volta da cabeça, úteis para conter o suor nas longas caminhadas. A maioria dos homens recolhia e enrolava as túnicas à cintura, cingindo os rins (Lc 12, 35). Assim, as amplas peças de lã ou linho não travavam o andar do caminhante. Alguns homens não enrolavam as túnicas à cintura, normalmente para esconder o dinheiro ou a bainha com a espada.

Os Apóstolos – Os Evangelhos não descrevem quais tarefas eram destinadas a cada apóstolo. Sabe-se apenas que Judas Iscariotes era o tesoureiro (Jo 13,29).

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