Betânia – Este episódio
situa-nos numa aldeia não identificada, em casa de duas irmãs (Marta e Maria).
Estas duas irmãs são as irmãs de Lázaro, referidas em Jo 11,1-40 e Jo 12,1-3. Assim,
provavelmente, a ação passa-se em Betânia, uma pequena aldeia situada na
encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de
Jerusalém. Betânia era o lugar predileto onde Jesus procurava – e recebia –
aconchego humano, carinho, afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as
suas forças nas suas caminhadas evangelizadoras.
Duas irmãs – É gritante a diferença de gênio das duas irmãs! Marta, provavelmente a mais velha, preocupada com os seus afazeres – afinal tinha chegado treze hóspedes para uma refeição e tinham que ser bem tratados. Maria, calma, senta-se aos pés do Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o desabafo de Marta: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!”.
Mestre – Há, neste
texto, um pormenor que é preciso pôr em relevo. Diz respeito à postura corporal
de Maria: “sentada aos pés de Jesus”: é a posição típica de um discípulo diante
do seu mestre (Lc 8,35; At
22,3). A situação mostra também que Jesus não fazia qualquer discriminação: as
mulheres na sociedade da época eram tidas como inferiores e nenhum “rabbi” (mestre)
da época se dignava aceitar uma mulher no grupo dos discípulos que se sentavam
aos seus pés para escutar as suas lições. Lucas coloca em relevo, neste
episódio, que o fator decisivo para ser discípulo de Jesus é estar disposto a
escutar a sua Palavra.
Marta – Marta se
sente responsável pela situação. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o
anfitrião de visita que não sentiria o que Marta sentiu? Por isso mesmo, chama
a atenção a resposta do Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada
com muitas coisas; porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor
parte, e esta não lhe será tirada.” Jesus não está defendendo a preguiça, nem a
omissão, nem a exploração do trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o
nosso, em que "não há tempo" para cultivar o relacionamento humano, a
amizade e a oração, esta resposta nos faz lembrar a importância de priorizar as
coisas, modificando nossa maneira de viver.
Maria – Jesus questiona a agitação e o ativismo. Focar a vida num número sem fim de atividades sem objetivos claros, sem organização, sem rumo, é fuga para evitar um encontro com os anseios mais profundos do nosso ser, dos apelos de Deus. A atitude de Maria é a de uma discípula que aprende viver de maneira nova, ouvindo e refletindo sobre a Palavra de Deus, uma palavra que pode levar a muita atividade, mas nunca ao ativismo.
Marta e Maria – Jesus não quer menosprezar Marta. Na realidade, todos nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos necessidade de nos dedicarmos aos nossos afazeres, mas também é preciso achar tempo para ficarmos aos pés do Senhor. O desafio é de conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos de vida, entre “lançar as redes” e “consertar as redes” (Mc 1,16-20), entre “atividade” e “oração”, entre “missão” e “interiorização”. Os dois lados são tão intimamente ligados que, o desequilíbrio – seja do lado que for – trará conseqüências negativas para a nossa vida de discípulos.
Ação e contemplação – Não podemos
ver, neste episódio, uma oposição entre ação e contemplação. O evangelista (Lucas), nesta catequese, não
está querendo ressaltar que a vida contemplativa é superior à vida ativa: está dizendo
que a escuta da Palavra de Jesus é o que há de mais importante para a vida do cristão,
pois é o ponto de partida da caminhada da fé. Isso não significa que o “fazer
coisas”, que o “servir os irmãos” não seja importante, e sim que tudo deve
partir da escuta da Palavra, pois é essa disposição interior que nos projeta
para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.
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