Trabalhar
para que? – Em Tessalônica, uma das primeiras comunidades cristãs, havia crentes que
tiravam desses discursos de Cristo uma conclusão errônea: é inútil agitar-se,
trabalhar e produzir, já que tudo está a ponto de acabar; é melhor viver cada
dia, sem assumir compromissos no longo prazo, talvez vivendo um pouco de brisa.
Quem não trabalha não deve
comer – A estes, São Paulo responde: “Ora,
ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não
fazer nada. Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas
pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão”. No começo
da passagem, São Paulo lembra a regra dada aos cristãos de Tessalônica: “Quem
não quer trabalhar, também não deve comer”.
O trabalho na origem da
criação – Esta era uma novidade para os
homens da época. A cultura à qual pertenciam desprezava o trabalho manual;
considerado degradante para a pessoa, como se fosse exclusivo de escravos e
incultos. Mas a Bíblia tem uma visão diferente. Desde a primeira página, ela apresenta
Deus trabalhando durante seis dias e descansando no sétimo. Tudo isso, antes ainda
que se fale do pecado na Bíblia. Podemos concluir, portanto, que o trabalho faz
parte da natureza original do homem; não é resultado da culpa nem do castigo. O
trabalho manual é tão digno como o intelectual e o espiritual. O próprio Jesus
dedicou vinte anos ao trabalho manual (supondo que tenha começado a trabalhar
por volta dos 13 anos) e somente dois anos ao intelectual.
Quer valor tem o trabalho
para Deus? – Conta um padre, que um leigo lhe
escreveu perguntando: “Que sentido e que valor tem nosso trabalho de leigos
diante de Deus? É verdade que nós, leigos, nos dedicamos também a muitas obras
de bem (caridade, apostolado, voluntariado); mas a maior parte do tempo e das
energias da nossa vida é dedicada ao trabalho. Assim, se o trabalho não vale
para o céu, teremos bem pouco para a eternidade. Todas as pessoas às quais
perguntamos sobre isso não souberam nos dar respostas satisfatórias. Elas nos
dizem: ‘Ofereçam tudo a Deus!’. Mas isso é suficiente?”.
Trabalho como participação na
obra de Deus – Respondendo ao leigo, assim se
pronunciou o padre: “Não, o trabalho não vale somente pela “boa intenção” que
temos ao realizá-lo, ou pelo oferecimento que se faz dele a Deus pela manhã;
vale também por si mesmo, como participação da obra criadora e redentora de
Deus e como serviço aos irmãos. É através do trabalho humano – diz um texto do
Concílio – ‘que o homem sustenta de ordinário a própria vida e a dos seus; por
meio dele se une e serve aos seus irmãos, pode exercitar uma caridade autêntica
e colaborar no acabamento da criação divina. Mais ainda: sabemos que,
oferecendo a Deus o seu trabalho, o homem se associa à obra redentora de Cristo’
(Gaudium et spes, 67).”
Colocar o coração no que as
mãos fazem – Vemos, portanto, que não importa
tanto que trabalho a pessoa realiza, mas como o realiza. Isso restabelece certa
igualdade, deixando de lado todas as diferenças (às vezes injustas e
escandalosas) de categoria e remuneração. Uma pessoa que desempenhou tarefas
muito humildes pode “valer” muito mais que quem ocupou cargos de grande
prestígio. O trabalho, como foi dito, é participação na ação criadora de Deus e
na ação redentora de Cristo, e é fonte de crescimento pessoal e social, mas
também, sabemos, é fadiga, suor, dor. Pode enobrecer, mas igualmente pode
esvaziar e consumir. O segredo é colocar o coração no que as mãos fazem. O que
cansa não é tanto a quantidade ou o tipo de trabalho que se faz, mas a falta de
entusiasmo ou de motivação. Como nos diz o Apocalipse (14, 13), “nossas obras
nos acompanharão” Que essa fé possa ser nossa motivação terrena para o
trabalho.
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