sexta-feira, 13 de março de 2020

A Samaritana Pecadora



No Evangelho deste domingo, o evangelista João descreve uma catequese usada no final do primeiro século. Ele conta o encontro de Jesus com uma mulher da Samaria, em um poço na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região central da Palestina: uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de judeus e pagãos) e de uma religião que misturava ritos e crenças.

Samaritanos – Na época de Jesus existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente, a divisão começou quando os assírios invadiram a Samaria e deportaram cerca de 4% da população samaritana. Os colonos assírios, então, se instalaram na região e se misturaram com a população local. Na visão dos judeus, os habitantes da Samaria começaram nesse momento a paganizar-se (2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, passados quase trezentos anos, os judeus retornaram do exílio e recusaram a ajuda dos samaritanos (Esd 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém e denunciaram os casamentos mistos.

Templo – Assim, os judeus tiveram que enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (Ne 3,33-4,17). Cem anos depois, novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim, que foi destruído duzentos anos depois por João Hircano. Mais tarde, os desentendimentos continuaram: o mais famoso aconteceu por volta do ano 6 d.C., quando os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.

Desprezo – Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé. Os samaritanos pagavam aos judeus com um desprezo semelhante.

O poço – A cena que João descreve passa-se em volta do “poço de Jacob”, situado no vale entre os montes Ebal e Garizim, perto da cidade samaritana de Siquém (em aramaico, Sicara – a atual Askar). Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, ele teria sido aberto pelo patriarca Jacob. Os dados arqueológicos revelam que ele serviu os samaritanos entre o ano 1000 a.C. e o ano 500 d.C. (embora ainda hoje se possa extrair água dele).

Os sinais – O evangelista utiliza “personagens” para compor a sua história. A mulher representa a Samaria, que procura desesperadamente a água capaz de matar a sua sede de vida plena. Jesus vai ao encontro da “mulher”. O “poço” representa a Lei, o sistema religioso à volta do qual se conformava a experiência religiosa dos samaritanos. Os “cinco maridos” que a mulher já teve representam os cinco deuses dos samaritanos (2 Re 17,29-41).

Água Viva – Jesus senta-se “junto do poço”, como se pretendesse ocupar o seu lugar; e propõe à mulher/Samaria uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna. A mulher/Samaria responde à proposta de Jesus abandonando o cântaro (agora inútil), e corre a anunciar aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe faz.

Missão de Jesus – O texto deixa claro que Jesus quer comunicar ao homem o Espírito que dá vida. O Espírito que Jesus tem para oferecer desenvolve e fecunda o coração do homem, dando-lhe a capacidade de amar sem medida. Eleva, assim, os que buscam a vida plena e definitiva à categoria de Homens Novos, filhos de Deus que fazem as obras de Deus. Do dom de Jesus nasce a nova comunidade.

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