No
Evangelho deste domingo, o evangelista João descreve uma catequese usada no
final do primeiro século. Ele conta o encontro de Jesus com uma mulher da
Samaria, em um poço na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região
central da Palestina: uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue
misturado (de judeus e pagãos) e de uma religião que misturava ritos e crenças.
Samaritanos – Na época de Jesus
existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente,
a divisão começou quando os assírios invadiram a Samaria e deportaram cerca de
4% da população samaritana. Os colonos assírios, então, se instalaram na região
e se misturaram com a população local. Na visão dos judeus, os habitantes da
Samaria começaram nesse momento a paganizar-se (2 Re 17,29). A relação entre as
duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, passados quase trezentos
anos, os judeus retornaram do exílio e recusaram a ajuda dos samaritanos (Esd
4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém e denunciaram os casamentos
mistos.
Templo – Assim, os judeus
tiveram que enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (Ne
3,33-4,17). Cem anos depois, novo elemento de separação: os samaritanos
construíram um Templo no monte Garizim, que foi destruído duzentos anos depois
por João Hircano. Mais tarde, os desentendimentos continuaram: o mais famoso aconteceu
por volta do ano 6 d.C., quando os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém
durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.
Desprezo – Os judeus desprezavam
os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e
consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé. Os samaritanos pagavam aos
judeus com um desprezo semelhante.
O poço – A cena que João
descreve passa-se em volta do “poço de Jacob”, situado no vale entre os montes
Ebal e Garizim, perto da cidade samaritana de Siquém (em aramaico, Sicara – a atual
Askar). Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, cuja
profundidade ultrapassa os 30
metros . Segundo a tradição, ele teria sido aberto pelo
patriarca Jacob. Os dados arqueológicos revelam que ele serviu os samaritanos
entre o ano 1000 a .C.
e o ano 500 d.C. (embora ainda hoje se possa extrair água dele).
Os sinais – O evangelista utiliza
“personagens” para compor a sua história. A mulher representa a Samaria, que
procura desesperadamente a água capaz de matar a sua sede de vida plena. Jesus
vai ao encontro da “mulher”. O “poço” representa a Lei, o sistema religioso à
volta do qual se conformava a experiência religiosa dos samaritanos. Os “cinco
maridos” que a mulher já teve representam os cinco deuses dos samaritanos (2 Re
17,29-41).
Água Viva – Jesus senta-se “junto
do poço”, como se pretendesse ocupar o seu lugar; e propõe à mulher/Samaria uma
“água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna. A
mulher/Samaria responde à proposta de Jesus abandonando o cântaro (agora
inútil), e corre a anunciar aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe
faz.
Missão de Jesus – O texto deixa claro
que Jesus quer comunicar ao homem o Espírito que dá vida. O Espírito que Jesus
tem para oferecer desenvolve e fecunda o coração do homem, dando-lhe a
capacidade de amar sem medida. Eleva, assim, os que buscam a vida plena e
definitiva à categoria de Homens Novos, filhos de Deus que fazem as obras de
Deus. Do dom de Jesus nasce a nova comunidade.
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