sexta-feira, 23 de abril de 2021

São Jorge, Corinthians e a Igreja Católica

 


No dia 23 de abril a Igreja Católica comemora São Jorge (viveu entre os anos de 275 e 303). É um dos santos mais queridos da Igreja, sendo até nome de novela da Rede Globo (Salve Jorge). É o nosso assunto de hoje.

 São Jorge? – Mas, afinal!  Ainda existe o santo de nome São Jorge? Ele não havia sido retirado do catálogo de santos da Igreja Católica? Não teria sido “cassado”? Esta é uma pitoresca história que merece ser contada.

 Cassados? – Em 1965 a Igreja Católica publicou uma lista de santos cujas histórias não tinham comprovação. Atribuíam-lhes ditos e feitos maravilhosos, destituídos de fundamento histórico. Tais crendices populares se propagavam rapidamente, pois os antigos careciam de apurado senso crítico. Alguns deles, não existe nem a comprovação de que tenham existido. Entre esses santos, os mais conhecidos são Santa Filomena, Santa Bárbara, Santa Catarina de Alexandria, São Lourenço, São Jorge, etc.

 Dom Paulo – Dom Paulo Evaristo Arns foi arcebispo de São Paulo e conhecido como apaixonado torcedor do Corinthians, chegando a posar com a bandeira do clube na capa de uma revista esportiva. Em 2004, Dom Paulo lançou o livro “Corintiano graças a Deus” (Editora Planeta, 138p.) em que faz surpreendentes crônicas sobre seu amor ao clube, seu fascínio pelo futebol e sua convicção de que, apesar das diferenças de credo ou ideologias, um único propósito pode unir todos os homens.

 São Jorge – Na década de 1960, o arcebispo, conhecendo o plano de reordenamento do calendário oficial da liturgia da Igreja Católica, se surpreendeu com a pretensão do Vaticano em “cassar” São Jorge, o santo padroeiro e protetor do Corinthians. Deve-se lembrar também que São Jorge é o padroeiro da Inglaterra e da cidade do Rio de Janeiro. Dom Paulo precisava tomar alguma providência para que a “cassação” não ocorresse.

 Carta – Resolveu, então, escrever uma carta ao Papa Paulo VI, seu velho amigo e conhecido por gostar de futebol. O texto dizia: “Santo Padre, o nosso povo não está entendendo direito a questão. São Jorge é muito popular no Brasil, sobretudo entre a imensa torcida do Corinthians, o clube de futebol mais popular de São Paulo”.

 Resposta – Paulo VI entendeu o problema: "Não podemos prejudicar nem a Inglaterra nem o Corinthians" afirmou o papa, resolvendo a questão. Dom Paulo guarda até hoje o bilhete do pontífice. Desta forma São Jorge foi mantido no catálogo dos santos da Igreja Católica.

 Mais Corinthians – Em 1980, durante os preparativos da visita de João Paulo II ao Brasil, Dom Paulo foi procurado por Vicente Matheus, presidente do Corinthians, para que o Papa visitasse o local da construção do futuro estádio do Timão: “Dom Paulo, o papa não pode vir a São Paulo e não conhecer o Corinthians. Ele precisa abençoar nosso campo, nosso projeto. Senão é como se ele não tivesse vindo para o Brasil”.

 Menos, menos – Dom Paulo tentou amenizar a euforia do presidente: “Mas seu Matheus. É muito difícil convencer o papa a visitar um clube de futebol, ainda por cima um estádio que não saiu do projeto”. Em seguida, encaminhou-o até um de seus colaboradores da Cúria, um vigário-geral palmeirense até os ossos. Ele era quem tratava do roteiro de João Paulo II. Pouco depois, o presidente voltava a Dom Paulo, sem esconder sua decepção. O vigário-geral alegara que a área era distante do roteiro que o pontífice faria. Ficaria para uma segunda vez – que jamais houve.

 Solução – Anos depois, D. Paulo foi procurado por dona Marlene Matheus, esposa do presidente, e veio a solução. “Se o Papa não pode vir ao Corinthians, o Corinthians vai até o Papa. Vou a Roma”. Dona Marlene arrumou uma bela imagem de São Jorge e pediu a Dom Paulo para conseguir uma audiência com o Papa João Paulo II. Dom Paulo conseguiu à primeira-dama alvinegra um lugar na primeira fileira de uma audiência com João Paulo II, numa quarta-feira. Neste dia, o Papa tocou na imagem de São Jorge. O Corinthians foi campeão naquele ano.

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