sexta-feira, 6 de maio de 2022

“O Pai e eu somos um”


No Evangelho das missas deste domingo (Jo 10,27-30) Jesus discute com as autoridades judaicas. Estamos nas proximidades do Templo de Jerusalém, em outubro do ano 29 (em abril do ano 30, Jesus será condenado e morto).

 

O texto – Naquele tempo, disse Jesus: "As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um".

 

Imagem – Estas palavras de Jesus ocorrem em um discurso mais longo, pronunciado durante a Festa da Dedicação, em Jerusalém. Na festa anterior, das Tendas, Jesus já fizera uma proclamação semelhante: "Eu sou o Bom Pastor". A imagem é bela e permanece guardada nos corações através dos séculos. Embora seja uma imagem rural e mais específica de determinadas regiões, é facilmente compreendida por todos, pois exprimem uma relação de diálogo e acolhida, algo já existente entre Jesus e os discípulos: o proclamar/falar e o conhecer, ouvir e seguir. É a palavra e a escuta que estabelecem o diálogo. É o diálogo que leva ao conhecimento e à união de amor, o seguimento.

 

Conhecer – Assim, fica claro que as ovelhas são os discípulos (pois o verdadeiro discípulo ouve a palavra do Senhor e o segue), e eles são conhecidos pelo Pastor – aqui cumpre lembrar que, na linguagem bíblica, a palavra “conhecer” tem conotações mais profundas do que no nosso uso comum: significa não tanto um saber intelectual, mas uma intimidade profunda do amor. Assim, a linguagem bíblica muitas vezes até usa o verbo “conhecer” para significar relação sexual. Maria, por exemplo, questiona o anjo, pois ela “não conhece” homem (Lc 1,34). O verdadeiro discípulo é aquele que realmente tem um relacionamento de intimidade com Deus e que põe em prática a sua Palavra. E quem conhece Jesus, conhece o Pai, pois “o Pai e eu somos um”, como diz Jesus no nosso texto.

 

Conhecer mais – O versículo 28 afirma que Jesus dá a vida eterna aos seus seguidores. Este é um tema típico de João e outros textos do evangelho podem nos ajudar a aprofundá-lo. No Último Discurso, Jesus explica o que consiste a vida eterna: “A vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). Mais uma vez, liga o conceito da vida eterna com o de “conhecer”. Mas em que consiste “conhecer” a Deus?

 

Conhecer Deus – O profeta Jeremias pode esclarecer. Num trecho contundente, onde ele enfrenta o Rei Joaquim e o condena por não pagar os salários dos seus operários na construção do seu palácio, Jeremias diz o seguinte, referindo-se ao falecido rei justo, Josias: "Ele julgava com justiça a causa do pobre e do indigente; e tudo corria bem para ele! Isso não é conhecer-me? – oráculo de Javé” (Jr 22,16). Conhecer Deus não é em primeiro lugar um exercício intelectual, mas uma atitude de vida – a prática da justiça, especialmente em favor do oprimido e fraco. Segundo João, então, a vida eterna é o prêmio de quem pratica a justiça de Deus – proposta dos discípulos de Jesus – e não dos que “sabem” muita coisa sobre Deus, mas que não praticam a justiça – representados no texto de hoje pelas autoridades do templo.

 

Coragem, fé e obras – O nosso texto nos traz motivo de muita coragem, pois afirma que ninguém vai arrancar o verdadeiro discípulo da mão de Jesus (v 28). Mas também nos desafia para que verifiquemos se somos realmente discípulos verdadeiros, se conhecemos Jesus e o Pai, isto é, se praticamos a justiça do seu Projeto. A prova de ser verdadeiro discípulo está na prática das obras do Pai e não no conhecimento teórico de religião.

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