sábado, 21 de maio de 2022

“Que desça teu Espírito e renove a face da terra”



 

No Evangelho das missas deste domingo (João 14,23-29), ainda encontramos Jesus na Última Ceia, na quinta-feira, dia 6 de abril do ano 30, no dia anterior a sua morte. Jesus, que acaba de fundar a sua comunidade, dando-lhe por estatuto o mandamento do amor, vai agora explicar como é que essa comunidade manterá, após a sua partida, a relação com Ele e com o Pai.

 

O texto – Jesus ensina aos discípulos: “A pessoa que me ama obedecerá à minha mensagem, e o meu Pai a amará. Tenho dito isso enquanto estou com vocês. Mas o Auxiliador, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu disse a vocês. Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá. Eu vou, mas voltarei para ficar com vocês."

 

Caminho – Nos versículos anteriores ao texto que nos é proposto, Jesus apresentou-Se como “o caminho” (Jo 14,6) e convidou os discípulos a percorrer esse mesmo “caminho” (Jo 14,4-5). O que é que isso significa? Jesus, enquanto esteve no mundo, percorreu um “caminho” – o da entrega ao homem, o do serviço, o do amor total; é nesse “caminho” que o Homem Novo, que Jesus veio criar, se realiza. A comunidade de Jesus tem, portanto, que percorrer esse “caminho”. A metáfora do “caminho” expressa o dinamismo da vida que é progressão; percorrê-lo, é alcançar a plena maturidade do Homem Novo, do homem que desenvolveu todas as suas potencialidades, do homem recriado para a vida definitiva. O final desse “caminho” é o amor radical, a solidariedade total com o homem. Nesse “caminho”, encontra-se o Pai.

 

Como? – Os discípulos, no entanto, estão inquietos e desconcertados. Será possível percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao lado deles? Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como receberão dele a força para doar, dia a dia, a própria vida?

 

Palavra – Para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus e guardar a sua Palavra (Jo 14,23). Quem ama Jesus e O escuta, identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da própria vida em favor do homem… Ora, viver nesta dinâmica é estar continuamente em comunhão com Jesus e com o Pai. O Pai e Jesus, que são um, estabelecerão a sua morada no discípulo; viverão juntos, na intimidade de uma nova família.

 

Paráclito – Para que os discípulos possam continuar a percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o “Paráclito”, isto é, o Espírito Santo. A palavra “paráclito” pode traduzir-se como “advogado”, “auxiliador”, “consolador”, “intercessor”. A função do “Paráclito” é “ensinar” e “recordar” tudo o que Jesus propôs. Trata-se, portanto, de uma presença dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos desafios que o mundo lhes colocar.

 

Espírito – Assim, os crentes poderão continuar a percorrer, na história, o “caminho” de Jesus, numa fidelidade dinâmica às suas propostas. O Espírito garante, dessa forma, que o crente possa continuar a percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai. A comunidade cristã e cada homem tornam-se a morada de Deus: na ação dos crentes revela-se o Deus libertador, que reside na comunidade e no coração de cada crente e que tem um projeto de salvação para o homem.

 

Paz – A última parte do texto que nos é proposto contém a promessa da “paz”. Desejar a “paz” (“shalom”) era a saudação habitual à chegada e à partida. No entanto, neste contexto, a saudação não é uma despedida trivial, pois Jesus não vai estar ausente. O que Jesus pretende é inculcar nos discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor. São palavras destinadas a tranquilizar os discípulos e a assegurar-lhes que os acontecimentos que se aproximam não porão fim à relação entre Jesus e a sua comunidade. As últimas palavras referidas por este texto (v. 28-29) sublinham que a ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. De resto, os discípulos devem alegrar-se, pois a morte não é uma tragédia sem sentido, mas a manifestação suprema do amor de Jesus pelo Pai e pelos homens.

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