No Evangelho deste domingo (Lc 14, 25-33) Jesus faz um
discurso para uma multidão usando palavras duras. Para a explicação deste
texto, vamos recorrer ao texto do Pe. Cantalamessa (Pregador do Papa).
Provocante – A passagem do Evangelho deste domingo é uma dessas que
dão a tentação de se amenizar por parecer demasiado dura para os ouvidos: “Se
alguém vem até mim e não odeia seu pai, sua mãe...”. Antes de tudo há algo a
esclarecer: certamente o Evangelho é em certas ocasiões provocante, mas nunca
contraditório. Pouco depois, no mesmo Evangelho de Lucas, Jesus recorda com a
força o dever de honrar ao pai e a mãe (Lc 18, 20), e a propósito do marido e
da mulher, diz que tem de ser uma só carne e que o homem não tem direito de separar
o que Deus uniu. Então, como pode dizer-nos agora que há que odiar o pai e a
mãe, a mulher, os filhos e os irmãos?
Odiar – Deve-se ter em conta um fato. Em hebraico não há
comparativo de superioridade ou de inferioridade (amar a alguém mais ou menos
que a outra pessoa); simplifica e reduz todo o “amar” ou “odiar”. A frase “se alguém
vem até mim e não odeia seu pai e sua mãe” deve ser entendida, portanto, neste
sentido: “se alguém vem até mim sem preferir-me a seu pai e a sua mãe”. Para
dar-se conta disto basta ler a mesma passagem do Evangelho de Mateus onde diz:
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim” (Mt 10, 37).
Rival – Seria totalmente equivocado pensar que este amor por
Cristo está em competição com os diferentes amores humanos: pelos pais, o
cônjuge, os filhos, os irmãos. Cristo não é um “rival no amor” de ninguém e não
tem ciúmes de ninguém.
Amores – O amor por Cristo não exclui os demais amores, mas que
os guarda. E mais, nele todo amor genuíno encontra seu fundamento, seu apoio e
a graça necessária para se vivido até o final. Este é o sentido da “graça de
estado” que confere o sacramento do matrimônio aos cônjuges cristãos. Assegura
que, em seu amor, serão apoiados e guiados pelo amor que Cristo teve por sua
esposa, a Igreja.
Amor – Jesus não faz ilusões a ninguém, mas tampouco
desilude; pede tudo porque quer dar tudo; e mais, já o deu todo. Alguém poderia
perguntar-se: mas como pode este homem, que viveu há vinte séculos em um lugar
perdido do planeta pedir-nos este amor absoluto? A resposta, sem necessidade de
remontar-nos muito longe, se encontra em sua vida terrena que conhecemos pela
história: ele foi o primeiro a dar tudo pelo homem: “Cristo nos amou e se
entregou por nós” (Ef 5, 2).
Cruz – Nesta mesma passagem do Evangelho, Jesus nos recorda
também qual é o teste e a prova do verdadeiro amor por ele: “carregar a própria
cruz”. Carregar a própria cruz não significa buscar sofrimentos. Cristo
tampouco se pôs a buscar sua cruz; em obediência à vontade do Pai, carregou-a
sobre si quando os homens se lhe puseram em suas costas, transformando-a com
seu amor obediente de instrumento de suplício em sinal de redenção e de glória.
Jesus não veio para aumentar as cruzes humanas, mas para dar-lhes um sentido.
Com razão, se disse que, “quem busca Jesus sem a cruz, encontrará a cruz sem
Jesus”, ou seja, de todos os modos encontrará a cruz, mas sem a força para
carregá-la.
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